“Aqui não tem mídia, agora você vai morrer”

Preso nesta terça-feira (01/07) ao pedir a identificação de uma policial militar, o advogado Daniel Biral conta que foi agredido e ameaçado por PMs

Por Piero Locatelli.

Advogado com marcas da agressão em delegacia
Advogado com marcas da agressão em delegacia

“Um policial me pegou pelo pescoço e me deu uma gravata. Outro me pegou pela perna. No meio de uma escada no caminho para o camburão, o que segurava a minha cabeça me soltou. Comecei a gritar ‘mídia, mídia’. Depois, no DP, os caras abriram a caçamba e falaram: ‘ó, aqui não tem mídia, agora você vai morrer.”

Preso nesta terça-feira 1º no centro de São Paulo, Daniel Biral tem um relato semelhante aos de muitos outros detidos em manifestações na cidade. Integrante do grupo Advogados Ativistas, Biral trabalha na defesa destes manifestantes. Desta vez, era ele quem sofria o que normalmente busca evitar.

Biral foi preso durante um debate na praça Roosevelt, no centro de São Paulo. No local, de acordo com os organizadores do evento, deveria ocorrer “uma plenária ampla para arregimentar apoio à luta contra as prisões políticas”. O ato foi motivado pela prisão de dois manifestantes em um protesto contra a Copa do Mundo na última semana.

Alguns militantes acompanhavam com câmeras a ação da polícia que cercava a praça. Os Observadores Legais, como se autodenominam, são um grupo que busca registrar como o Estado tem lidado com as manifestações.

Ao acompanhar um dos observadores, Biral pediu a identificação de uma policial. “Você é funcionaria pública e tem o dever de identificar”, disse o advogado, diante da recusa dela. Em seguida, ele gritou “não encosta em mim” repetidas vezes, antes de ser levado para trás dos escudos da Tropa de Choque.

Biral conta que foi mais agredido depois, durante o transporte até a delegacia. “Os caras me bateram, tomei várias porradas. Três foram mais fortes, porque foram na têmpora. Aí eu apaguei. Quando acordei, estava fora do camburão, jogado lá na frente do DP. Foi então que começam a me arrastar para dentro da delegacia.”

Mesmo se identificando como um advogado no exercício da sua profissão, Biral foi levado a duas delegacias naquela noite. Durante as duas horas e meia em que ficou detido, diz que não soube a alegação da sua prisão. “O delegado falando que advogado não tira foto, que aquilo não era exercício de advocacia. Eu falei que só falava com advogado ao meu lado, com membro da OAB junto, porque essa prisão era ilegal,” lembra Biral.

Além de Biral, a advogada Silvia Daskal e ao menos seis manifestantes também foram presos naquela noite. Os advogados devem se encontrar com representantes da OAB de São Paulo nesta quarta-feira 2 para pedir providências sobre o caso.

Fonte: Carta Capital

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