Por Adi Spezia, para o MTC.
Na semana em que é celebrado o Dia do Agricultor Familiar, 25 de julho, o Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Campo (MTC) realizou um conjunto de ações para fortalecer a produção, organização e resistência desses trabalhadores, mas também, para denunciar o aumento da violência no campo, cobrar paz e justiça social.
As atividades realizadas buscam mostrar a força do Movimento, o apoio às famílias menos favorecidas economicamente, mas também fortalecer a luta dos trabalhadores e trabalhadoras pela permanência no campo, pela produção de alimentos saudáveis para o autoconsumo e para alimentar o povo brasileiro, gerando trabalho e renda.
Organização, análise da atual conjuntura e delineamento estratégico das ações do Movimento também marcam a semana em que é celebrado o Dia do Agricultor Familiar.
Com uma relação singular com a terra e o meio ambiente, a Agricultura Familiar é responsável por 70% dos alimentos que chegam à mesa de toda população brasileira, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Formada por pequenos produtores, povos e comunidades tradicionais, destaca-se pela diversidade produtiva, preservação do meio ambiente e da biodiversidade, mas também enfrenta desafios como a falta de crédito e demais políticas públicas voltadas ao setor.
De Minas Gerais, iniciativas que frutificam
Na busca pela sustentabilidade e permanência das famílias no campo, em Minas Gerais o MTC desenvolve ações focadas na geração de trabalho e renda, voltadas principalmente para as mulheres e a juventude rural. Isso, para que o agricultor familiar não precise deixar o campo e ir para cidade.
Entre as iniciativas do Movimento, está o “Projeto Sabores do Cerrado”, que consiste no cultivo ou colheita das frutas no Cerrado e as transforma em polpas, que também, irão se tornar geleias, sorvetes e picolés artesanais. A iniciativa deu tão certo que recebeu prêmio “Mulheres Rurais – Espanha Reconhece”, promovido pelo Escritório de Agricultura da Embaixada da Espanha em parceria com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), o Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA) e a ONU-Mulheres.
Marineide Santos, presidenta da cooperativa, coordenadora do projeto e dirigente do MTC em Minas Gerais, conta que receber o prémio trouxe esperança à comunidade de conseguir implantar uma agroindústria para processar o umbu, acerola, tamarindo, cagaita, buriti, manga rosa, maracujá do Cerrado, as frutas que são produzidas pelas famílias do Movimento.
A agroindústria causaria um impacto econômico positivo na nossa cidade e na região, “para se ter uma ideia, se há a gente tivesse uma agroindústria, toda equipada conforme as normas sanitárias, só de polpa de umbu, fecharíamos um contrato de duas a três toneladas, então esse é nosso sonho e também, o maior desafio”, conta a Marineide.
Outro desafio é o acesso à água tanto para o consumo humano, quanto para os animais e as plantações. Com apoio parlamentar do Deputado Estadual Zé Reis (PODE), o Movimento conseguiu instalar um reservatório de água para melhor atender as famílias e por consequência, desenvolver seu trabalho e cultivar alimentos saudáveis.
Também há solução para as famílias que desejam plantar, mas não têm acesso à terra e nem à água. A horta comunitária criada pelo Movimento em Minas Gerais tem dado essa oportunidade. A produção é comercializada na feira local, no Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), abastece escolas e creches infantis, também o comércio “porta-a-porta”. A iniciativa conta com a parceria da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) no estado.
Assim como em Alagoas, em Minas Gerais o MTC também contou com o apoio parlamentar, desta vez do Deputado Júlio Delgado (PV), na aquisição de um trator agrícola e implementos que irão auxiliar na produção.
Marineide afirma que com a vinda MTC para a região onde mora, Miravânia/MG, fortaleceu o trabalho desenvolvido pela comunidade, que “além da produção, geração de trabalho e renda, o Movimento tem se dedicado a troca de experiência e os intercâmbios são voltadas às práticas rurais e de sustentabilidade”.
Do Tocantins, diálogo e organização
No Tocantins, as atividades da semana do Dia do Agricultor, desenvolvidas pelo Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Campo, estiveram voltadas à escuta, diálogo e organização para fortalecer a sustentabilidade das famílias, permanência e sucessão no campo. Com destaque para as comunidades: Vale do Corda e Amigos da Terra, em Darcinópolis; Costa Rica, em Wanderlândia; e Canoas, no município de Riachinho. Todas ao Norte do estado.
As discussões são sempre muito ricas, todos têm a mesma oportunidade de falar. Por mais que o movimento tenha seus coordenadores, que são os presidentes das associações, quando a gente abre uma roda de conversa todo mundo fala, as decisões são registradas em ata, conta José Félix Soares Leite, coordenador do MTC no Tocantins. “Por exemplo, abre a roda de conversa para discutir um tema, debate sobre o que está falando na comunidade, o que pode ser feito para solucionar aquele problema, delibera e depois vai atrás para resolver, buscar soluções. Um bom exemplo disso são os tratores e equipamentos agrícolas, sementes, assistência técnica”, explica.
Uma série de reuniões foram realizadas na sede das associações dos agricultores e agricultoras do campo, reunindo a comunidade onde as pessoas falam das suas dificuldades e também das experiências que têm desenvolvido. Mas principalmente para analisar a conjuntura, a realidade agrícola e agrária, destaca José Félix.
“Para comemorar a semana do trabalhador rural, dia 25 de julho, a gente fez uma análise do que a gente já conquistamos, quais são a políticas públicas que conquistamos e também denunciar a falta de política pública como saúde, educação, acesso as propriedade e escoamento da produção, falta de crédito”, lista o coordenador do Movimento, José Félix.
As ações buscam fortalecer o protagonismo do trabalhador rural, a permanência no campo, frear êxodo rural e por consequência o envelhecimento do campo. Para isso, o MTC tem realizado uma Campanha do Jovem Empreendedor, para que eles possam ajudar a família a empreender, ter uma renda e ficar no campo.
“Se os jovens saem do campo não há sucessão rural, por isso trabalhamos bastante essa questão da juventude rural e o empoderamento das mulheres”, destaca José Félix. “Incentivamos muito os jovens a fazer cursos técnicos, principalmente na área agrícola e de agroecologia, para que possam trabalhar nas próprias comunidades, assim como incentivar os jovens a produzir, junto de sua familiar, alimentos saudáveis para sua segurança alimentar, mas também produzir para comercialização local e ter outra fonte de renda”, completa o coordenador do MTC no Tocantins.
Do Agreste e Sertão alagoano, solidariedade e um pedido de paz
No Agreste e Sertão alagoano, as ações foram voltadas ao trabalho desenvolvido pelo Movimento com assistência técnica ao produtor familiar e extensão rural, que busca melhorar a produção agrícola e a autonomia às famílias no campo. O trabalho foi intensificado à medida que as fortes chuvas que atingiram o estado diminuíram de forma significativa a produção agrícola, devido ao solo encharcado e o aumento do número de famílias atingidas pela enchente e suas consequências.
“O número de famílias atingidas indiretamente é bem maior do que o calculado, por isso temos realizado distribuição de cestas básicas e leite bovino e caprino, para famílias carentes e atingidas pelas chuvas em todas as regiões de Alagoas. Essas ações são de extrema importância, pois muitas famílias não conseguiram ter produção para o consumo familiar”, destaca Ray Martins Farias, dirigente do MTC em Alagoas.
Na oportunidade, também foi realizada a entrega de um trator agrícola equipado com implementos que darão suporte às famílias no cultivo da terra, quando o solo permitir. “As cestas básicas foram entregues para todas as famílias que participaram da caminhada, após uma confraternização”, destaca Ray.
No município de Igaci, os trabalhadores e trabalhadoras do MTC realizaram uma “Caminhada pela Paz e Justiça Social”, reunindo famílias acampadas pelo movimento no município, lideranças religiosas, como o Padre Aparecido e o Bispo Dom Manoel. Além dos representantes da política local e regional, como: Deputado Federal Paulo Fernando dos Santos (PT), conhecido como Paulão; presidente do Partido dos Trabalhadores de Alagoas (PT-AL), Ricardo Barbosa; Secretário do Estado do Meio Ambiente e Recursos Hídricos de Alagoas, Gino César; e representantes do Movimento da Paz. Na oportunidade, Rogério Paranhos ministrou uma palestra com o tema “Não à Violência”.
Paulão destacou a importância do ato, ainda mais neste período eleitoral, “eu acho que o que o Brasil está precisando é isso, é paz, a defesa da vida e não o ódio, a intolerância”. O trator e os implementos agrícolas foram uma conquista intermediada pelo parlamentar, e vai atender também os municípios da região.
No Sertão, “também estamos trabalhando com a agricultura de baixa emissão de carbono, em parceria com o Projeto Rural Sustentável Caatinga [PRS-Caatinga], com tecnologias simples, que vão melhorar o conforto das famílias e sua produção agrícola sustentável”, destaca Ray.
Além de celebrar a semana do agricultor, os manifestantes cobravam paz e justiça social para homens e mulheres do campo, isso porque Igaci tem sido alvo de crimes e casos de violência política. Segundo o Caderno de Conflitos no Campo 2021, houve crescimento considerável nas violações de direitos humanos, despejos, execuções e massacres, os assassinatos subiram 75% em todo país.