Por Ivan Longo.
A viagem atrapalhada de representantes do governo brasileiro a Israel, no início de março, que teria por objetivo negociar tecnologias para o combate à Covid-19, não garantiu sequer um contrato para a aquisição do spray nasal EXO-CD24, medicamento que vem sendo testado no país e que vem sendo usado como uma espécie de “nova cloroquina” de Jair Bolsonaro.
Há meses Bolsonaro vem tentando desviar a atenção de sua ineficiência no combate à pandemia afirmando que está negociando a compra do que ele chama de “spray milagroso”, que não tem eficácia comprovada contra a doença do coronavírus.
Segundo matéria do jornalista Eduardo Barreto publicada na coluna de Guilherme Amado, da revista Época, neste sábado (20), no entanto, a comitiva brasileira voltou de Israel sem sequer assinar uma carta de intenções para a compra do produto.
“O Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações esboçou um documento de duas páginas em que previa a participação do Brasil em ensaios clínicos, com aval da Anvisa, além de prioridade na aquisição do produto, cuja eficácia ainda não foi comprovada. Mas o papel não foi assinado, como reconheceu a assessoria internacional do ministério em um comunicado interno”, diz a matéria.
Durante a viagem, a comitiva liderada pelo ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, foi obrigada a ficar confinada em um hotel e, por isso, não pode visitar o local de testes do spray. O “passeio” foi marcado pelo fato do chanceler brasileiro ter sido repreendido em público em evento com representantes do governo israelense por estar sem máscara.
Araújo terá de se explicar
O chanceler e ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, recebeu um requerimento para apresentar todos os documentos, telegramas, e-mails e custos da viagem que ele coordenou para Israel.
De acordo com informações reveladas pelo jornalista Jamil Chade, o pedido foi apresentado pela bancada do PSOL na Câmara dos Deputados. Araújo também terá de apresentar justificativas e informes técnicos e científicos que embasaram a viagem para Israel.
“No início da semana passada, em plena pandemia com recordes diários de mortes, o país foi surpreendido com o anúncio de uma comitiva do governo brasileiro a Israel. Em um contexto de afastamento da respeitada tradição diplomática brasileira, de ataques ao multilateralismo e de um aparelhamento ideológico, acientifício e inconsequente das relações exteriores, urge que este parlamento e a sociedade em geral tenham acesso às informações aqui solicitadas”, diz o documento assinado pela deputada Talíria Petrone (PSOL-RJ).
Além disso, o requerimento quer saber quando e por iniciativa de quem se decidiu realizar a viagem. “Solicitam-se cópias de todos os documentos e comunicações preparatórias e da agenda de reuniões e eventos em que houve participação da comitiva”.
A bancada do PSOL também questiona sobre qual foi o embasamento científico da viagem. “Houve base científica para justificar a preferência por relações de cooperação com Israel sobre possíveis tratamentos contra a Covid-19 ainda em fase incipiente de testes. Em caso afirmativo, solicita-se o detalhamento destas razões e envio de relatórios e pesquisas que as comprovem