O papa Francisco encontrou-se com David M. Beasley, diretor executivo do Programa Mundial de Alimentos (PMA), da ONU, que recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 2020. No mesmo dia em que Beasley se encontrou com o papa, o PMA emitiu um comunicado à imprensa conjunto com o Unicef. A mensagem alerta que milhões de crianças perderam mais de 39 bilhões de refeições na escola desde o início da pandemia. A reportagem é de Carol Glatz, publicada por Catholic News Service, na quinta-feira (28). A tradução é de Moisés Sbardelotto (Adital/Unisinos). Com sede em Roma, o PMA é a maior organização humanitária do mundo que enfrenta a fome e promove a segurança alimentar.
A audiência papal privada foi realizada na Biblioteca Apostólica do Vaticano, no dia 28 de janeiro, e o Vaticano forneceu fotos, mas nenhum outro detalhe. O PMA, no entanto, divulgou comunicado dizendo que foi uma reunião de 40 minutos durante a qual Beasley “expressou temores específicos sobre a fome que se aproxima em vários países ao mesmo tempo que a covid-19 está devastando comunidades ao redor do mundo”. O comunicado, divulgado na quinta-feira, dizia: “Beasley também informou ao Papa Francisco sobre o seu apelo aos bilionários que ficaram mais ricos durante a pandemia da covid-19 para se manifestarem e financiarem esforços para apoiar os pobres e famintos”.
O PMA estima que cerca de 270 milhões de pessoas enfrentarão uma fome severa neste ano, alimentada pela Covid-19, por conflitos, choques climáticos e outros fatores, disse o comunicado. A reunião aconteceu um dia depois de Beasely ter participado da reunião anual do Fórum Econômico Mundial, que foi realizada tanto online quanto pessoalmente, em Davos, Suíça. O encontro de 26 a 29 de janeiro incluiu líderes governamentais e empresariais de todo o mundo e teve como tema “The Great Reset” (O Grande Recomeço) como parte de uma convocação para que os líderes se comprometam a garantir que os sistemas econômicos e sociais globais sejam mais justos, sustentáveis e resilientes.
Falando remotamente para a reunião do dia 27 de janeiro, Beasley disse que a pandemia da Covid-19 mostrou como é importante reforçar as cadeias de suprimentos vulneráveis para os países pobres que não conseguiram fornecer alimentos para sua população, de acordo com a Associated Press.
“Se você acha que teve problemas para conseguir papel higiênico em Nova York por causa da interrupção da cadeia de suprimentos, o que você acha que está acontecendo no Chade, no Níger, no Mali e em lugares como esses?”, disse ele em sua fala.
O sistema global de abastecimento de alimentos funciona, mas a pandemia piorou as fraquezas, disse ele. Além disso, 10% da população mundial sofre de extrema pobreza e precisam ser contatadas de forma proativa pelos fornecedores.
“Com 270 milhões de pessoas à beira da fome, se não recebermos o apoio e os fundos de que precisamos, vocês terão fome em massa, terão desestabilização das nações e terão migrações em massa. E o custo disso é mil vezes maior”, disse ele.
Eles pediram maior apoio dos governos para que possam reabrir as escolas com segurança e fazer com que os programas de alimentação escolar funcionem novamente para evitar uma “crise nutricional”.
A merenda escolar, disse o comunicado de imprensa conjunto, é “muitas vezes a única refeição diária nutritiva que as crianças recebem”. Portanto, “deve ser priorizada nos planos de reabertura das escolas”, que incluem medidas de prevenção de infecções, como água limpa e sabão em todas as escolas.
Os programas de merenda escolar também foram um incentivo adicional para que as crianças, especialmente as meninas, frequentassem a escola. E as últimas estimativas mostram que 24 milhões de crianças em idade escolar correm o risco de abandonar a escola devido à pandemia, acrescentou.
O PMA, disse o comunicado, tem ajudado os governos a preencher a lacuna com comida para levar para casa, transferências de dinheiro ou vales-alimentação. De janeiro a setembro de 2020, mais de 13 milhões de crianças em idade escolar receberam apoio escolar do PMA. E no ano anterior foram 17,3 milhões no mesmo período, disse.
Beasley também alertou recentemente o Conselho de Segurança da ONU sobre a fome iminente no Iêmen.
Dirigindo-se ao conselho em meados de janeiro, ele disse que o PMA precisava de “cerca de 860 milhões de dólares apenas para evitar a fome. E isso por seis meses”.
“Estamos lutando agora para alimentar 13 milhões de pessoas”, e, sem o dinheiro, essas comidas serão cortadas, empurrando 80% da população para uma crise nutricional mais profunda.
“Como eles vão conseguir comida? E como vão conseguir combustível? Como vão conseguir remédios? Vai ser uma catástrofe (…) Vamos ter uma catástrofe em nossas mãos.”