É um fenômeno recente e agudo. Então hoje analisaremos um aspecto inter-relacionado, mas um pouco distinto.
Vamos ver os aspectos perenes e crônicos da miséria no Império do Mal: as favelas de lata. Muitos ignoram que milhões de estadunidenses vivem em habitações absolutamente precárias, sob todos os aspectos, que parecem com as piores favelas da África do Sul.
Vejam as fotos, que são auto-explicativas. Evidente, os que conhecem um pouco os EUA estão absolutamente cientes da existência desse tipo de favela. Sem a pretensão de estar re-descobrindo a roda, ainda assim filosofaremos um pouco sobre o que esse fenômeno representa.
Notório é que as favelas sul-africanas são chamadas de “Cidades de Lata”, “Shanty-Towns” no original em inglês, por serem feitas de placas de zinco. Elas ainda existem, mas desde o fim do ‘apartheid’ estão sendo erradicadas, os negros que ali viviam estão sendo transferidos pra conjuntos habitacionais civilizados. Venho acompanhando tudo com atenção, desde que o Google Mapas habilitou a Visão de Rua nesse país, na ocasião da última copa de futebol.
O que quero colocar aqui é que as casa de lata eram o símbolo da injustiça em um dos países mais injustos do mundo, que era a África do Sul sob o odioso regime que a raça branca por lá implantou. Mas poucos se dão conta da existência desse tipo de moradia também nos EUA – alias o Império do Mal apoiou o ‘apartheid’ até sua queda.
Enfim, por isso é o Império do Mal afinal, e se eu fosse listar aqui todos os seus crimes, todo o espaço virtual que há disponível na internet inteira não seria suficiente. Não estou brincando. Então vamos nos focar nesse ponto específico das casas de lata.
Alguns poderiam alegar que as casas nas favelas de lata sul-africanas foram construídas pelos próprios moradores, com restos de material recolhido nas ruas, enquanto as casas nos EUA são absolutamente insalubres como moradia permanente, mas não são improvisadas. Sim, assim é. As casas não são improvisadas de todo. Mas não deixam de ser absolutamente insalubres, se usadas como moradia permanente. Por vários motivos. Delineemos alguns deles.
Essas casas são originalmente reboques de carro – os chamados ‘trailers’ em inglês. Por isso nos EUA esses bairros são chamados de ‘trailer park’, ou seja, ‘estacionamento de reboques’. Esse aqui se denominou ‘Longview mobile home park’. Em tradução livre, ‘estacionamento de casas móveis Bela Vista’, ou algo assim. Só por aí pode ver que não são adequados pra moradia permanente. Passar alguns dias viajando e dormindo em um reboque é algo extremamente agradável. Exatamente porque quebra sua rotina, dorme cada dia num lugar diferente, então esse estado de espírito alegre compensa o desconforto material.
Bem diferente é você residir de forma definitiva num reboque. Aí tem o pior dos 2 mundos: a precariedade material e a rotina mental. É tão óbvio o fato que reboques não são casas permanentes que nem vou me alongar nesse ponto. De forma que os estacionamentos de casas móveis são na verdade favelas. Modelo estadunidense de favelas, mas ainda assim favelas.
São mais comuns no Sul, que é mais pobre. Mas existem também em outras partes, no Norte e no Oeste. Nesse caso, é no Oeste, onde fica o estado do Colorado, do qual Denver é capital e maior cidade.
Mas há mais. Como podem ver nas imagens, essas casas não são mais ‘móveis’ há muito tempo. Estão muito bem cimentadas no chão, não há como tirá-las dali. Portanto de ‘reboque’ elas só tem o fato que são feitas de metal, material mais leve que alvenaria. Simplesmente não podem ser rebocadas. Vejam na imagem como não é um acampamento de reboques, na forma como os ciganos europeus viveram por muito tempo. São casas fixas, é um bairro ‘normal’ (ao menos no que se refere a perenidade) com ruas internas abertas e asfaltadas, etc.
Casas de metal. São assim apenas porque esse é mais barato que a alvenaria. Como o cara mora de aluguel, compra um reboque, pois se mudar não perde todo o capital, que já lhe é escasso, que teria que investir numa casa de verdade. O reboque é bem mais barato que uma casa exatamente por não ser uma casa. Eu disse que as favelas dos EUA são tão cruéis quanto as piores favelas de um dos regimes mais opressores que já houve sobre a Terra, o ‘apartheid’ sul-africano.
Não é preciso ser formado em física pra saber que o metal é condutor térmico. O que isso quer dizer? Que essas casas de metal são insuportavelmente quentes no verão e insuportavelmente gélidas no inverno. Se conhece um pouco dos EUA, sabe que na maior parte de seu território esse país tem um clima bastante extremado. No inverno, neva e é muito, muito frio. Comprovei isso pessoalmente em 1996, em Nova Iorque. Entretanto, no verão é muito, muito quente, e os filmes de Spike Lee, por exemplo, retratam com maestria como essa mesma Nova Iorque que fica coberta de neve em janeiro vira um forno em julho. O mesmo, de forma ainda mais grave, se repete em Chicago, e em toda a Grande Planície (o Centro geográfico do país, chamado de ‘eixo da Bíblia’ por abrigar uma população mais conservadora, bem distinta da que habita as costas Leste e Oeste).
Agora imagine enfrentar temperaturas que oscilam entre 20º negativos e 45º positivos numa casa de latão? Você não iria gostar. Nenhum de nós iria. Assim se entende porque os EUA amam tanto destruir nações alheias. Um país tão cruel a ponto de ser tão indiferente ao sofrimento de seus próprios habitantes evidente é que jamais vai ter o menor peso na consciência por ter provocado os genocídios iraquiano, cambojano e vietnamita, e de infligir dor imensa a infinitos povos e nações. Não irei listá-los porque já disse que a lista de crimes ianques não cabe em toda a internet. Suficiente dizer que o Afeganistão é apenas mais um numa longa lista de países agredidos gratuitamente, tumulto esse que começou com o massacre as Filipinas e roube de metade de México e prossegue inabalável. Breve, será o Irã quem sentira toda a perfídia da raça branca estadunidense.
Voltemos as favelas de lata. Evidente, não estou afirmando aqui que os EUA são o único país que oprime seu próprio povo. Eles se destacam pelo volume de opressão que fazem a outros povos, mas termos de tirania doméstica creio que estão muito bem acompanhados por quase todas as nações da Terra. Se existe uma característica humana universal é a de ser indiferente ao sofrimento de seus irmãos, isso quando não se lucra com ele.
Entretanto, inegável é também que se outros países tem suas favelas, também é certo que eles veem tomando medidas pra erradicá-las. O Brasil mesmo é o exemplo. De Manaus a Curitiba, passando pelas UPP’s e teleféricos dos morros do Rio, as favelas mais miseráveis estão sendo urbanizadas em ritmo acelerado. Há muito por fazer, óbvio que um problema que se avolumou por séculos levará pelo menos algumas décadas pra ser resolvido. Mas está sendo feito. Isso não há como negar.
Nos EUA, entretanto, a sociedade é indiferente ao sofrimento dos que estão na miséria. Não há assistência do governo a essas favelas de lata, e nem aos que estão morando em barracas ou em automóveis. Pessoas caridosas, através das igrejas ou outras organizações, lhes fornecem alimentos e agasalhos. Mas não há política do governo pra que um dia saiam desses reboques, onde estão porque não podem comprar casas de verdade.
No Brasil é diferente. Aqui há a Cohab. Por vezes a fila anda devagar. Mas há uma política habitacional de possibilitar que quem não pode arcar com o mercado capitalista consiga adquirir sua habitação. Nos EUA inexiste Cohab. Os conjuntos habitacionais do governo (em Nova Iorque são marrons, o que é notório pra todos que conhecem a alma nova-iorquina) são um esquema diferente do que ocorre no Brasil: são um aluguel subsidiado. O valor é bem menor que no mercado, é certo. Mas quem mora não é dono do imóvel. Fica sempre nas mãos do governo. Muitas vezes, o governo expulsa os moradores de suas casas, mesmo eles não tendo pra onde ir. Ocorre de forma individual e por vezes coletiva, quando conjuntos inteiros são demolidos. Chicago, por exemplo, acabou com todos seus conjuntos habitacionais públicos, colocando mais de uma centena de milhares de pessoas no olho da rua. Nova Orleans também aproveitou o furacão que a devastou pra demolir diversos conjuntos habitacionais.
No caso desses conjuntos, a maioria dos moradores são da raça negra – daí alias a cidade de Nova Iorque ter pintado todos os prédios de marrom, pra fazer uma mensagem subliminar cruel de associação. Já falamos disso com mais detalhes em outro texto, inclusive com fotos. O que quero colocar aqui é que a vida dos negros nos EUA é extremamente difícil. Mas a dos brancos pobres não é muito melhor não. Se a família não é da oligarquia bancária-militar-petroleira, essas pessoas são chamadas por lá de ‘lixo branco’, e como lixo são tratados, bem como os negros.
Como é notório, os ferros-velhos nos EUA são imensamente maiores e mais comuns que no Brasil, visto a frota estadunidense ser 10 vezes maior que a de nosso país, enquanto a população ianque é apenas uma vez e meia a brasileira. Os EUA contam
Em algumas regiões do país, adultos de baixa renda têm expectativa de vida similar à de jovens em Ruanda, uma das nações mais pobres do mundo.
A diferença de expectativa de vida entre super-ricos e pobres nos Estados Unidos pode variar em até 15 anos, segundo pesquisa divulgada na segunda-feira (11/04). De acordo com o estudo “a Associação entre renda e expectativa de vida nos Estados Unidos”, entre 2001 e 2014, o grupo que compõe os 1% dos norte-americanos com os maiores rendimentos no país viveu 15 anos a mais do que aqueles que formam o conjunto dos 1% mais pobres. No caso das mulheres, essa diferença é de dez anos.
Segundo estudo, expectativa de vida entre os mais pobres depende da região onde vivem; na foto, Camden, New Jersey.
A pesquisa, publicada pelo jornal da Associação Médica Norte-americana, revela que, nesse mesmo período, o grupo dos 5% mais ricos aumentou sua expectativa de vida em 2,34 anos para homens e 2,91 anos para mulheres. Por outro lado, os 5% mais pobres registraram crescimento de apenas 0,32 ano para homens e 0,04 ano para mulheres.
O estudo mostra também que, entre os mais pobres, a expectativa de vida depende da região onde vivem.
Em áreas mais abastadas como Nova York, Los Angeles e Birmingham, no Alabama, os mais pobres vivem tanto quanto seus vizinhos mais ricos. No entanto, em outras áreas, adultos com rendas mais baixas têm a mesma expectativa de vida que jovens de Ruanda, um dos países mais pobres do mundo, onde a média de idade é de 63,5 anos.
As cidades que apresentaram as taxas mais baixas foram Gary, seguida por Indianapolis e Detroit.
“Há uma correlação muito forte entre renda e expectativa de vida”, disse Thomas R. Frieden, diretor dos Centros para Controle de Doenças e Prevenção em entrevista concedida ao jornal New York Times. “No entanto, isso não é inevitável. Há coisas que podem ser feitas para mudar a trajetória de vida das pessoas. O que melhora a saúde em uma comunidade? Isso inclui amplo acesso a oportunidades sociais, educacionais e econômicas”, diz.
O estudo afirma que hábitos mais saudáveis e acesso à saúde pública podem ajudar as pessoas a viverem mais, independente de seus rendimentos.
Exemplos seriam Nova York e Birmingham que vêm investindo em políticas públicas de saúde. Além disso, Nova York possui uma taxa de gastos sociais para habitantes mais pobres e regularizou o uso de gordura trans e o fumo. Já a cidade do Alabama implementou programas de saúde preventiva com vacinações e mamografias em clínicas abertas nos bairros mais pobres entre 1990 e 2000.
Fonte: Opera Mundi