Sudão do Sul permite que soldados estuprem mulheres como salário, diz ONU

O governo do Sudão do Sul tem permitido que soldados do Exército e de milícias aliadas estuprem mulheres como salário na guerra civil que assola o país desde 2013, denunciou um relatório do Alto Comissariado de Direitos Humanos das Nações Unidas (Acnudh) divulgado nesta sexta-feira (11/03).

Salva Kiir
Salva Kiir, presidente do Sudão do Sul; soldados e milícias aliadas operam sob lógica de “faça o que puder e pegue o que quiser. Wikimedia Commons

Entre abril e setembro de 2015 foram registrados 1.300 casos de estupro apenas no estado de Unidade, na região norte do país. A violência sexual, contudo, não foi o único crime de guerra cometido. A ONU registrou também torturas, saques, sequestros e assassinatos deliberados de civis.

“A escala e o tipo de violência sexual – cometidos principalmente pelas forças do governo e milícias aliadas -, foram descritos com detalhes devastadores. No entanto, a quantidade de estupros individuais e estupros coletivos relatados devem ser apenas uma parte do total real. Esta é uma das mais horríveis situações humanitárias do mundo”, avaliou o alto comissário dos Direitos Humanos da ONU, Zeid Ra’ad Al Hussein.

Segundo o documento, em lugar de receber salários, as milícias e os soldados operavam sob a lógica de “faça o que puder e pegue o que quiser”, o que incluía crianças: cerca de 702 crianças com menos de nove anos foram estupradas.

Além disso, pessoas suspeitas de apoiar a oposição, incluindo jovens e idosos, eram queimadas vivas, sufocadas em contâineres, desmembradas ou enforcadas em árvores. Em 2015, a ONU estimou por volta de 10.553 mortes de civis somente no estado da Unidade.

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O relatório ainda reforçou que “o governo parece ter sido responsável por grande parte da sistemática violação dos direitos humanos”, apesar de não isentar a oposição da responsabilidade de também ter cometido crimes de guerra.

O governo do Sudão do Sul nega que seu Exército tenha atacado civis, mas disse estar investigando. “Nós temos regras de contato e elas estão sendo seguidas”, disse um porta-voz do presidente, Salva Kiir, à BBC.

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Mulher e crianças em Nimule, cidade do Sudão do Sul; civis, especialmente mulheres, são alvo de atrocidades por parte de soldados. Ron Savage/ FlickrCC

A guerra civil do Sudão do Sul, que se emancipou do Sudão em 2011, começou em dezembro de 2013, quando o presidente Kiir acusou seu ex-vice, Riek Machar, de planejar um golpe contra ele. O país então se dividiu entre apoiadores do governo, cujo mandatário é da etnia Dinka, e a oposição aliada a Machar, de etnia Nuer.

Um acordo de paz foi assinado em agosto do ano passado, após diversos acordos de cessar-fogo terem fracassado. E, em fevereiro deste ano, Kiir restaurou Machar ao posto de vice-presidente por meio de um decreto.

Segundo a ONU, pelo menos 50 mil pessoas morreram nos dois anos de guerra e mais de dois milhões foram deslocadas. Somente em 2015, o Acnur (Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados) indicou que 14 mil sul-sudaneses se refugiaram em Uganda e 11 mil no Congo.

Fonte: Opera Mundi.

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