Monólogos Cotidianos: O Baseado

Durante os meses de setembro e outubro, Guigo Ribeiro apresenta a série "Monólogos Cotidianos" , que parte da análise de temas cotidianos considerados polêmicos.

Foto: Michael Fischer, Pexels

Por Guigo Ribeiro, para Desacato.info.

– Outro dia um malandro acendeu um baseado na minha frente. Cê acredita? Carudo! Eu tava indo pro trem e fumando meu cigarro. Aí começo sentir o cheiro daquela porra. Aquele fedo. Isso 6h20 da manhã. Pensei: deve ser brincadeira um bagulho desse! Pior que não! E já ganhei ele em outra situação. No caso, foi no campo. Mesma sintonia. Baseado na boca, forgado pra carai. Aí cê pensa comigo: não dá vontade de matar um vacilão desse? Pô… quer fumar, fuma em casa, escondido. Sou obrigado a sentir cheiro de maconha 6h20 da manhã? Na hora, juro por Deus, traguei meu cigarro e quase fui falar com ele. A sorte é que tava perto da estação e eu tava atrasado. Tá louco! Ia chegar daquele jeito. Meter logo um acelero monstro pra se ligar e respeitar o próximo. Ia bem tomar uns murro. Fumei aquela merda 10 ano e nunca alastrei. Fumava em casa e minha mãe aceitava. Embaçava as vezes, mas aceitou. Falava pra ela: cê prefere eu fumar aqui ou na rua e tomar tapa na cara de polícia? Aí ela concordou. Fumava no meu canto, quietinho. Não ia ficar pagando de maconheiro por aí. Ninguém tem que aceitar. Eu quero fumar, eu fumo. Mas sem invadir os outro, entendeu? Cada um no seu. Aí vem o cidadão falar em legalização da maconha, legalização das drogas, legalização não sei do quê. Veja bem! Se legalizar, aqui não ia ser um fumando, ia ser um monte. Um monte de noia andando e fumando por aí. O Nenê virou noia nessa. Começou com um baseadinho. Depois começou dar umas paulada. Aí já era. Outro dia eu tava com minha esposa tomando uma cerveja e vi ele loucão na porta do boteco caindo de bunda pra fora na rua. Pior que surge uns trouxa pra ajudar. Um cara saiu do carro e foi dar uma assistência. Até parece! Tem que deixar se ferrar! Esses maluco não respeita a mãe. Tudo safado. Imagina a mãe dele vendo ele chegar e sair todo dia loucão daquele jeito? Imagina a mãe ter filho usuário. Falta de vergonha na cara mesmo. Legalizar! Legalizar! Legalizar o cacete! Tem que legalizar a quadrada pra pôr na cinta e viver em paz. Sossegado. Aí cada um pisa certinho no seu canto e acaba com essa patifaria. Igual quando meu filho tava fumando. Eu falava pra ele: se liga! Olha com quem cê anda! Esses moleque não presta. Falava pra mim que sabia o que fazia e que não ia cair nessa. E que os menino também não. É foda! Quer ensinar gato cagar na areia. Fui tomar uma cerveja… por aqueles problema de sono que tenho… fui tomar uma cerveja pra dormir e chego na rua. Tá 10 moleque no muro. E ele no meio. Cheguei pro oficial, me apresentei como pai e fiquei observando. Foram muito educados e tal. Revista, revista, revista… os moleque cheio de maconha nos bolso. E meu filho também! Mas não deu outra. O oficial fez o trabalho dele e coloquei pra dentro no murro. Acho que foi a primeira vez que apanhou de murro, igual homem. Agora quero ver fumar de novo. Se lascar! A gente se ferra pra sustentar, pra dar vida boa e o moleque tá usando droga na rua? Filho meu não usa porque eu usei e sei que não presta! Ponto! E falei pra ele: se eu te ver com esses moleque, vai apanhar na frente dele. Os moleque é pilantra. Tudo futuro bandidinho. E meu filho indo na cabeça dele. Aqui não! Aqui vai pisar direito e vai ser homem! Errar é uma coisa, agora ser burro é outra. Cê acha? Fumando maconha!

Guigo RibeiroGuigo Ribeiro é ator, músico e escritor.

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