Goiânia: Jornalistas pedem mudança do nome da Avenida Castelo Branco para JK

Foto: Captura de tela do Youtube

Por Laurenice Noleto Alves.

Para marcar os 33 anos do fim da Ditadura Militar no Brasil e os 42 anos do assassinato do ex-presidente Juscelino Kubitschek, os jornalistas goianos Antônio Pinheiro Salles e Laurenice Noleto Alves entregaram na manhã de 24 de agosto ao Prefeito de Goiânia, Iris Rezende Machado, ofícios da Comissão da Verdade, Memória e Justiça do Sindicato dos Jornalistas de Goiás e do próprio Sindicato dos Jornalistas de Goiás, dos quais são dirigentes, solicitando o seu empenho na mudança do nome de uma das mais importantes vias públicas de Goiânia, a Avenida Castelo Branco, sugerindo ainda que a mesma passe a se chamar Avenida Presidente Juscelino Kubitschek.

Nos ofícios, entregues ao Prefeito durante atividade político-administrativa num bairro da periferia de Goiânia, os jornalistas relembram que Castelo Branco foi um dos principais pilares da Ditadura Militar no Brasil, que prendeu, torturou, matou, desapareceu e cassou politicamente milhares de brasileiros – incluindo muitos goianos e o próprio Iris Rezende, que também era um jovem prefeito de Goiânia àquela época. E, do lado posto, como uma dessas milhares de vítimas, Juscelino Kubitschek – que também fora senador por Goiás – foi assassinado, numa aliança dos ditadores do Brasil com as ditaduras do Chile, Uruguai e Argentina, na denominada Operação Condor, como concluiu a Comissão da Verdade de São Paulo. JK morreu no dia 22 de agosto de 1976, num forjado acidente de carro, no Km 165 da Via Dutra.

“Temos uma história de luta em defesa das liberdades democráticas. Combatemos a ditadura militar (1964-1985) e, 33 anos após o seu final, continuamos convencidos da importância da consolidação e do aprofundamento da democracia no Brasil. Então, para que possamos dar passos efetivos nessa direção, necessária é a recuperação da nossa memória política”, diz o ofício assinado pelos jornalistas goianos Pinheiro Salles, Laurenice Noleto Alves e Elma Dutra, que integram a CVMJSindjor-Goiás. Pinheiro Salles, ex-preso político, e Laurenice Noleto, viúva do jornalista Wilmar Alves, que também foi preso político, são também escritores de vários livros sobre o tempo da Ditadura Militar no Brasil. E Pinheiro Salles é ainda vice-presidente da Comissão Nacional de Ética dos Jornalistas.

Goiânia, 15 de agosto de 2018

Excelentíssimo Senhor
Doutor Iris Rezende Machado
Prefeito de Goiânia – Goiás
 

Senhor Prefeito, 

Com nossos cumprimentos, nós nos dirigimos ao prefeito de Goiânia para solicitar o seu empenho na mudança do nome da Avenida Castelo Branco, da nossa estimada Capital administrada por Vossa Excelência. E acrescentamos uma sugestão: muito gostaríamos que ela passasse a se chamar Avenida Presidente Juscelino Kubitschek.

Temos uma história de luta em defesa das liberdades democráticas. Combatemos a ditadura militar (1964-1985) e, 33 anos após o seu final, continuamos convencidos da importância da consolidação e do aprofundamento da democracia no Brasil. Então, para que possamos dar passos efetivos nessa direção, necessária é a recuperação da nossa memória política. Por isso, agora, devemos lembrar alguns fatos marcantes daqueles trágicos tempos de trevas.

O famigerado golpe de Estado de 1964 impôs uma tirania que durou mais de 20 anos, com a prática de crimes que jamais poderão ser esquecidos pelo povo brasileiro. Editado em 9 de abril daquele ano, o Ato Institucional nº 1 assegurou a imediata cassação e suspensão dos direitos políticos do presidente João Goulart, dos ex-presidentes Juscelino Kubitschek e Jânio Quadros, de três governadores, 40 parlamentares, 49 juízes, 1.400 lideranças populares e 1.200 militares que defendiam a democracia. As perseguições, prisões, torturas e os assassinatos se multiplicaram em todo o país.

Se a truculência do regime não foi menor em Goiás nesses primeiros dias, pelo menos o governador do Estado ainda pôde permanecer no Palácio das Esmeraldas. Entretanto, tudo se agravou com a substituição da Junta Militar por Castelo Branco no comando da ditadura. Além da intensificação dos crimes contra a vida das pessoas, foi decretada a intervenção no Estado de Goiás. O ditador afastou o governador Mauro Borges, substituindo-o pelo coronel Meira Matos e, em seguida, pelo marechal Ribas Júnior.

A partir desse momento, foram abolidos todos os resquícios da democracia. Em Goiânia, particularmente no Batalhão de Caçadores, os presos políticos eram tantos que tiveram de ocupar até as salas de aula, sob a fúria dos torturadores comandados pelo coronel Danilo (15 se somaram os mortos e desaparecidos políticos, incluindo o ex-deputado José Porfírio e o estudante Marcos Antônio Dias Batista, de apenas 15 anos de idade).

Quanto à perda de mandatos eletivos suprimidos por governos autoritários e ilegítimos, está viva na lembrança do povo a cassação do mandato do jovem prefeito Iris Rezende Machado. Frise-se que essa cassação se constituiu um dos maiores atentados à vontade e soberania da população goianiense, provocando indignação e uma justa revolta popular.

Lamentavelmente, depois de tudo isso e de inumeráveis crimes contra a humanidade, praticados em Goiás e em todo o território nacional, a ditadura militar continua, ainda hoje, homenageada com o nome do general Castelo Branco numa das principais avenidas da Capital. Sem dúvida, isso nos humilha, envergonha e rebaixa, traindo os compromissos, a história, o orgulho e a dignidade do povo goiano.

Assim, senhor Prefeito, estamos certos de que Vossa Excelência agregará ao seu currículo mais uma iniciativa para resgatar e elevar a honra da nossa gente, entendendo que tem um significado histórico a troca do nome da avenida. Isso certamente pode se concretizar quando a Prefeitura de Goiânia providencia a revitalização dessa via. O projeto, segundo notícia veiculada na imprensa, “vai incluir mudanças no sistema viário, em calçadas, canteiros centrais e mobiliário público”. Então, senhor Prefeito, que se inclua o nome da avenida nessas mudanças, cuja amplitude está na consciência, na responsabilidade e nas mãos de Vossa Excelência.

Quanto à sugestão do nome do presidente Juscelino Kubitschek, quase nada precisaríamos fundamentar. Ele assumiu, na cidade goiana de Jataí, o compromisso de mudar a Capital Federal do Rio de Janeiro. Construiu Brasília no nosso planalto central, dando inquestionável contribuição ao progresso de Goiás. Elegeu-se, posteriormente, senador da República pelo nosso Estado. E, mineiro de nascimento, deu inequívocas provas de seu amor pelo chão goiano.

Foi cassado pela ditadura militar e, como concluiu a Comissão da Verdade de São Paulo, a Operação Condor, tendo à frente as ditaduras do Brasil, Chile, Uruguai e Argentina, tirou-lhe a vida, no dia 22 de agosto de 1976, num forjado acidente de carro no Km 165 da Via Dutra. Portanto, perante o exposto e todas as demais evidências, absolutamente nada poderia sustentar o nome do general Castelo Branco diante do que vai representar a grandeza da Avenida Presidente Juscelino Kubitschek.

Recorrendo a Vossa Excelência, nós preparamos o fortalecimento da união na construção de mais um marco na democrática resistência do povo. Essa vitória coletiva, encabeçada por Vossa Excelência, há de ficar registrada nos anais da nossa Capital. Viva a democracia! Viva a Avenida Presidente Juscelino Kubitschek! 

Receba nosso abraço. 

Antônio Pinheiro Salles, presidente da Comissão da Verdade, Memória e Justiça do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de Goiás. 

Laurenice Noleto Alves, secretária da Comissão da Verdade, Memória e Justiça do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de Goiás. 

Elma Dutra, assessora da Comissão da Verdade, Memória e Justiça do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de Goiás.

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