Barões de Açúcar Caboclo. Por Edna Garcia Maciel

Johann Moritz Rugendasi (1802-1858). “Moulin à Sucre”ii, 1835.

Por Edna Garcia Maciel, para Desacato.info.

José Cândido de Carvalho (1914-1989) é um autor esquecido dentre muitos outros, desde o século XX. Em 1939, publica seu primeiro livro, “Olha para o Céu, Frederico!” Fica sem publicar livros por vinte e cinco anos. O reconhecimento público veio com “O Coronel e o Lobisomem”, em 1964. Em 1974, o escritor torna-se um imortal da Academia Brasileira de Letras. Apesar de ser consagrado por seus pares, o autor parece pouco conhecido nos dias atuais. “Olha para o Céu, Frederico!”, (1974)i é um espanto, indiscutivelmente. A começar pelo título do livro. Quem leria um romance de nome tão esquisito? Herberto Sallesii, diz que ficou curioso quando viu, “pela primeira vez, o título longo do livro, em seu ‘salmódico’, que enfatizava, como um grito de advertência a um pecador: Olha para o Céu, Frederico! Abaixo vinha a indicação “Romance da cana de açúcar, na Baixada Fluminense”iii. Às vezes, somos aprisionados pelo preconceito. Uma pena! Ainda assim, podemos usufruir dos escritos de José Cândido de Carvalho, que soube dar vida aos antigos barões do açúcar, do estado do Rio de Janeiro. O autor explora um mundo provinciano e povoado de figuras de um passado morto. Utiliza expressões corriqueiras da época que caracterizam dramas, superstições, devassidão de seus personagens, de maneira surpreendente e inesperada. Ademais, a saga dos Sá Meneses se confunde com a própria história brasileira. Uma história marcada pela violência, mandonismo, corrupção e concentração da riqueza dos poderosos barões advindas da exploração impiedosa de miseráveis escravos e agregados.

O fio que orienta a narrativa do livro “Olha para o Céu, Frederico!”, é a representação fantasmagórica de Eduardo de Sá Menezes a respeito de seu tio Frederico: um homem enorme, de mãos muito grandes e mau. O menino conta que perdeu os pais e que foi criado pela tia e pelas negras que o enchiam de mimos, na casa de tio Nabuco, no Limão. Ali, podia andar com os moleques pelo mato e tomar banho nos alagados. Sentadinho na carruagem que o transporta à fazenda, vai pensando que está indo direto para o cemitério do São Martinho e, que agora, só teria o olhar duro de Frederico. A mudança muda sua vida e o faz triste, solitário e medroso. Daí em diante, não tem amigos e perambula pelos cômodos da casa mal iluminados que lhe metem pavor. Aprecia mirar fotos de seus ancestrais barbudos pregadas nas grossas paredes do casarão. Na nova moradia, o menino é criado pelos agregados da cozinha. Tem de conviver com adultos envelhecidos. Seu único contato externo é padre Hugo que, toda semana, aparecia na fazenda para dar-lhe aulas, uma prática comum das elites daquele tempo. Eduardo conta que: “entrei na vida com as mãos repletas de bentinhos e o corpo esmerilhado pelos dedos das molecas do São Martinho. Tinha quase dez anos. Era quase um menino cheirando a leiteiv.

E, Frederico? A seu ver, o tio era um sovina que contava os talheres de prata e os copos de cristal. Comandava a Fazenda – da casa de dormir ao engenho de fabrico de açúcar mascavo -, na ponta da pena. A sovinice de Frederico era tão grande que nunca lhe dispensou um carinho. Só em uma coisa se parecia com um barão: o gosto pela herança, o amor às bocas de fornalha e à chaminé de São Martinho. Diziam que Frederico era um “Homem plantado com raízes de muitos metros. Os outros parentes ricos dos canaviais, os Vieiras, os Morgados de Melo, os Gesteiras reprovavam o viver de ‘mandacaru’ de meu tiov. Os outros Meneses viviam quase todo o tempo em seus palacetes, na cidade de Campos dos Goytacazes, rodeados de luxos de cama e mesa. Diziam que, comparado ao avô barão, Frederico era um anãozinho, um fio de gente. Frederico bem que podia ter respondido a esse falatório, mas não o fez. Se quisesse, poderia lembrar-lhes que o título de barão de seus ancestrais – do qual tanto se gabavam – não foi mais do que um título nobiliárquico concedido pelo Governo Imperial e, que tal pedantismo, lhes custara uma pequena fortuna. Poderia dizer, quem sabe, que o título de barão tivesse sido obtido como compensação simbólica a grandes fazendeiros que tiveram enormes prejuízos com as leis abolicionistas. No Brasil, apenas um título de duque foi concedido pelo Imperador D. Pedro II. Quem o recebeu foi Luís Alves de Lima e Silva, o Duque de Caxias (1803-1880), apelidado de “O Pacificador” e “O Duque de Ferro”, por suas vitórias contra vários movimentos de independência do Brasil, dentre eles, a Balaiada (1837) e a Revolução Farroupilha (1845). O Duque participou da Guerra contra o Paraguai, junto com a Argentina e o Uruguai (1865-1869)vi. Atualmente, não existe mais barão e nem duque no Brasil, pois esses títulos não são hereditários. Ainda assim, existem homens poderosos que levam uma vida principesca, semelhante à dos antigos barões, pelo menos, quanto ao luxo, ao gosto pela devassidão, pela violência e por uma avareza sem limites.

Enfim, Eduardo percebe que o tio foi oi um pé de boi que escorou o São Martinho, sua herança destroçada e que ele a transformou numa grande produtora de açúcar. Ainda assim, os parentes só o criticavam. Diziam que Frederico não sabia aproveitar a vida como o barão da Pedra Lisa, que deixou um monte de santos, de filhos que gozavam prazeres, principalmente, os da cama. Diziam que seu tio, Tibério Amoronte de Sá Meneses, teve uma vida de puro luxo e que ganhou fama como “desatarrachador de donzelas”viiPorém, Frederico crescera de um outro jeito: trabalhando e incrementando sua herança. Vivia à espreita de senhores perdulários que lhe pediam socorro, a fim de pagar dívidas impagáveis. Frederico nunca negava empréstimos aos incautos endividados. Foi um mestre pragmático e oportunista, inigualável. Expandiu suas terras em forma de cobra, “dando botes em chaminés de fabrico” e destruiu parentes, amigos e deixou um rastro de pobreza atrás de si.

Padre Hugo de Arimatéia era alto como uma vela, aos olhos do pequeno Eduardo. O padre foi quem lhe ensinou letras e sempre metia Deus em todas coisas. Dizia para seu tio que olhasse para o alto, que limpasse seu coração da avareza e deixasse de ser tão apegado às coisas materiais. Depois da janta, o padre falava das peripécias dos santos. Mas, Frederico não acreditava nos poderes de São Gustavo e de São Francisco, deste santo que doou toda sua riqueza aos pobres. Padre Hugo sempre dizia para meu tio: “Frederico, olha para o Céu!”. E, lhe perguntava o que ele dava aos pobres que viviam morrendo de febre devido às águas chocas dos brejos infestados de mosquitos da maleita. Porém, Frederico estava muito longe da bondade do seu avô: o barão da Pedra Lisa.

Um dia, Frederico se casou com dona Lúcia Silvestre Barreto, filha do major Silvestre Barreto. A moça tinha apenas vinte anos e deu vida à melancólica fazenda. São Martinho engrandeceu muito com o dote de terras de dona Lúcia. Isso, os parentes ignoravam, mas não Frederico. Os parentes diziam que Frederico estava velho demais para se casar com moça novinha e que ele não aguentaria a força juvenil da filha do velho Silvestre Barreto, dos Campos da Boa Vista. Ilustravam como exemplo, um certo Martinho Rosa, que tivera a cabeça coberta de calombos, uma maldita plantação de chifres. Eduardo tem a sensação de que Frederico fora buscar dona Lúcia como quem faz um negócio proveitoso de terra ou, de vendas de açúcar. A questão é que os Barretos entravavam a marcha de São Martinho em direção ao mar. No início, Frederico quisera comprar briga. Ordenou o avanço de seus mourões para dentro da terra de Silvestre e mandou queimar alguns canaviais. O velho não titubeou, foi ao São Martinho e soltou o verbo. Ameaçou que ia varrer o pessoal de Frederico, na bala. E, o fez. Veio a polícia e indagou se meu tio queria fazer queixa do matador. Frederico apenas desconversou e, mudou sua tática. Apoiou políticos apadrinhados de Silvestre e louvou seu tirocínio. Acabou levando Lúcia para sua cama e saciou a sede de mar que os Meneses sempre tiveram, caso quisessem instalar uma usina de cana de açúcar. Assim, “com um simples negócio de altar, São Martinho poderia crescer em formato de usina”viii. São Martinho se renovou com a vinda de dona Lúcia, menos a sovinice do meu tio. Ele era uma pedra tão dura que nem as mãos de seda da moça conseguiram dissuadir. Padre Hugo aparecia no meio da semana para tomar minhas lições. Não falava mais de santos diante da boniteza de dona Lúcia. O Poder da batina foi desaparecendo e, Frederico andava muito longe do céu, ele era um homem da terra. “Quem visse Frederico com esse jeito de paina cuidaria que estava diante de um santo. Um santo ‘comedor’ de terrasix.

No princípio, dona Lúcia ignorou Eduardo. Não reparou no menino triste que ele era e nem cuidou dele. Mas, um dia de visita às suas primas, Lúcia se queixou de Frederico. Disse que ele estava de vela apagada, que o fogo das bocas das fornalhas tinha secado Frederico. As primas maliciosas sugeriram receitas de beberagens para dona Lúcia, a fim de resolver o problema. Na verdade, ela estava só preparando o terreno para o que pretendia fazer de volta para casa. Na carruagem, de supetão, dona Lúcia começou a envolvê-lo. Assustado, o adolescente quis protestar, mas ela já havia sugado sua vontade. Em seus braços, Eduardo diz que deu adeus aos santos. Pensa horrorizado da história de um capanga queimado em uma fornalha no tempo da escravidão e, que isso, poderia lhe acontecer por ser um pecador.

Dessa tarde em diante, passaram-se alguns anos, até que apareceu a usina São Joséx, de Quincas de Barros. Diziam que a São José já nascera mal porque fora criada em terras de águas paradas e panelões de formigas por toda parte. Mas, o dono da São José, com suas poucas terras, rompeu dificuldades. As turbinas da usina produziram um açúcar branquinho, feito farinha. A São José triturava, em um dia, toneladas de canas equivalentes às moídas por dezenas de engenhos de tração animal. Em menos de dois anos, a usina tinha destruído “uma enfiada de chaminés de mascavo”xi Montado na sua arrogância de 20 mil sacas de açúcar que despejava na praça, Quincas de Barros não economizava elogios ao poder de sua chaminé. Por onde a pata de sua usina passava, deixava um cemitério de tachas de engenhos que viraram bebedouros ou casas de abelhasxii. “O doutor Quincas todo orgulhosão dizia que se caísse fantasma em suas moendas, sairia pior do que bagaço”xiiiMas, seu tio nada falava sobre essa devastação.

De São Martinho, Frederico olhava o torreão enorme da São José à distância. Nunca retrucava quando Quincas o chamava de dono de fabriquinha nanica. As gabolices de Quincas de Barros pipocavam no teto do casarão de meu tio. Porém, as dívidas em libras esterlinas da São José começaram a aparecer. Foi aí, que Quincas necessitado de terras, invadiu as terras do São Martinho. A briga estourou sem que ninguém esperasse, mas Frederico, a velha raposa, não reagiu. Ainda, procurou tirar a culpa de Quincas, até que tocaram fogo nos seus canaviais. O usineiro voltou ao São Martinho com dois capangas. Suas esporas malcriadas arranharam a peroba do assoalho do casarão e seus berros atraíram gente de todo lado. Mas, nenhum sinal de raiva apareceu no rosto de Frederico. Então, dona Lúcia subiu nas tamancas e partiu para cima do atrevido. Seu tio o que fez? Pediu desculpas ao senhor da São José, enviando-lhe uma carta.

A fábrica de Quincas de Barros foi castigada pela seca que torrou seus canaviais. A maleita dizimou muitos escravos e ele teve de reconhecer que havia construído um mundo de despesas impagáveis. Sua usina mais parecia com um castelo feito de areias. De fato, era mesmo um castelo pronto a desabar devido, em parte, ao caráter sonhador do usineiro. O certo é que a história não se faz segundo o desejo ou a vontade de qualquer pessoa, por mais esperta e ladina que possa ser, já havia ensinado um antigo filósofo barbudo. Quincas não poderia saber, pois não era profeta, que para se tornar um capitalista ele precisaria ter – além de sua poderosa máquina inglesa -, outro complemento indispensável: trabalhadores livres que pudessem vender sua capacidade de trabalhar ao senhor Quincas, algo que não existia no período escravocrata. Quincas que tudo previu, esqueceu-se de importar junto com seu maquinário, relações humanas que vigoravam na Europa. O presunçoso Quincas não deu ouvidos à lição do sábio pensador. Ele era tinhoso e persistiu no seu erro histórico. Fez novamente empréstimos em bancos hipotecários e teve um ano de abundância. Porém, foi obrigado a acertar contas com seus patrões que, mesmo muito distante, tinham poder sobre sua usina. Enquanto agonizava seu empreendimento, Quincas de Barros não teve outra alternativa, senão abrigar-se nas asas de uma Sociedade Anônima. Antes, disso, Quincas desesperado, recorreu à ajuda de Frederico, mas não recebeu qualquer auxílio financeiro. E mais, a resposta de Frederico não tardou diante de um Quincas destroçado: ordenou ao seu capataz que levasse suas cercas para dentro das terras da fazenda de Quincas até não poder mais.

Longe dessa confusão, Frederico apenas dizia que açúcar era um negócio sem garantia e que era necessário conhecer suas manhas, – um bicho que ninguém podia domar -, feito onça. Como foi domada a onça? No tempo certo. O bicho só pôde ser amansado com o processo de industrialização. Máquinas automáticas domaram a onça, roubaram sua força e habilidades na fabricação de açúcar. Submeteram rebanhos inteiros devidamente expropriados de seus meios de existência – da terra – à criação da riqueza alheia. A maquinaria moderna rompeu com a produção baronesa familiar na fabricação do açúcar. Transformou-o em produção industrial, em fruto da cooperação de muitos trabalhadores sob o comando dos capitalistas. Com isso, elevou o Brasil à classificação de maior produtor de açúcar-de-cana do mundo, em forma de Sociedades Anônimas, próprias do agronegócio.

O tempo passou. O fato é que Eduardo vive em uma era de transição social, de grandes agitações que antecedem o processo industrial brasileiro. Assim, tem de reconhecer que seu tio não foi um senhor do açúcar como ele desejava que fosse. Mas, não foi um ”caguncho”, como dizia o difamador tio Nabuco. E, muito menos, um Sá Meneses dos saudosistas parentes que nunca se cansavam de dizer que “houve um valentão como sinhozinho de Sá, um santo como o barão da Pedra Lisa e um verrumador de donzela como Afonso Meneses, que foi até doutorxiv.

Eduardo percebe que, por baixo das molezas do tio e dos seus gestos de caracol, havia uma raposa de mil astúcias. “As paredes de São Martinho que viram barões nunca tiveram um ‘capitão de batalha’ como Frederico”xv. Eduardo teve de admitir que o jeito de lesma de Frederico enganou meio mundo e jogou muita gente no barro. O inconformismo e a inveja dos Sá Meneses é que nunca lhes permitiram ver a natureza da força de Frederico. Segundo seu sobrinho, o tio não tinha olhos nem para a beleza de dona Lúcia, nem perdeu tempo com veludos como os barões de São Martinho. Suas raízes vinham do barro. Só teve carinho pelo açúcar que saia de suas tachas. De onde vinha a força de Frederico? Exatamente da propriedade da terra. Talvez ele soubesse, ainda que intuitivamente, que não podia abrir mão de sua condição de barão do açúcar como fez Quincas de Barros e, muitos parentes que desistiram de lidar cuidadosamente com as manhas da cana-de-açúcar. Se o fizesse, estaria decretando sua própria ruina, antes que pudesse ser outra coisa. Afinal, se todos os senhores de engenho repentinamente desistissem de fabricar açúcar, o que teria acontecido com a sociedade em vivia?

A vida no São Martinho corria tranquila depois da safra. Dona Lúcia vivia inventando passeios. Eduardo às vezes tinha remorso ao ver a velhice de Frederico, mas nunca conseguiu evitar que a mulher o levasse para os matos. Pensou até em fugir, mas dona Lúcia era senhora de sua vontade. Padre Hugo já não aparecia no São Martinho, com medo de se lambuzar de pecado. Eduardo de Sá Meneses, fica novamente órfão, com cerca de vinte anos de idade, e torna-se herdeiro da fortuna de Frederico. No início, trabalha duro até que um dia vê seu rosto refletido num espelho. Fica horrorizado diante da própria imagem, pois ela tinha a aparência de seu tio Frederico, apesar de sua pouca idade. Tenta administrar São Martinho, porém não consegue se impor com palavras como fazia Frederico. Imagina que pode remendar os “fundilhos dos Sá Meneses” com berros, e tomou gosto pela brutalidade. Semelhante a outros barões, descobre o prazer dos bordéis, da fama em jornais, da companhia de aduladores e oportunistas. Mete-se em politicagens e em negócios escusos. Incapaz de administrar sua herança, Eduardo passa a viver mais na cidade, do que no São Martinho. Seduzido pela modernização, tal como Quincas de Barros, troca seu engenho por poderosas máquinas alemãs.

PEQUENA BIOGARAFIA DO AUTOR

José Cândido de Carvalho, nasceu em Campos dos Goytacazesxvi, Rio de Janeiro, em 1914. Era filho de imigrantes portugueses que se tornaram agricultores naquela região. Trabalhou em diversos jornais da sua cidade natal. De 1930 a 1939, foi redator e colaborador nos melhores jornais de Campos, entre eles, A Folha do Comércio, A Notícia, A Gazeta do Povo, A Notícia e o Monitor Campista. Muda-se para o Rio de Janeiro. Em 1939, trabalhou no jornal, A Noite. Em 1943, dirigiu um dos grandes jornais fluminenses, O Estado. Em 1957, o escritor foi trabalhar na “Revista O Cruzeiro”, e a chefiou por alguns anos. Foi secretário da edição internacional dessa importante Revista. Entre 1970 e 1974, assinou em O Jornal, O Diário de José Cândido de Carvalho. Foi também responsável pelo Jornal de Cândido Carvalho, na Revista “O Cruzeiro”. Essa inovadora Revista foi fundada em 1929, por Assis Chateaubriand e Carlos Malheiros Dias, mas faliu em 1975xvii. Cândido de Carvalho publicou mais seis livros: Porque Lulu Santos não atravessou o Rubicon (Contos), 1970; Um ninho de mafagafos cheio de mafagafinhos, 1972; Ninguém mata o arco-íris (Crônicas), 1972; Manequinho e o anjo da procissão, 1974; Se eu morrer, telefone para o Céu, 1984 e Os mágicos municipais, 1984.

LITERATURA NA METADE DO SÉCULO XX.

O regionalismo, no romance brasileiro, foi uma tendência na formação e consolidação da literatura nacional, na metade do século XX. Mas, a regionalização não significou uma oposição ao universalismo. Ao contrário, a relação dialética entre local e universal está presente em vários autores. Muitos deles se dedicaram a mostrar um passado, por vezes, heroico do Brasil. A configuração de personagens, dramas, crendices e problemas cotidianos dão o tom especial quanto à representação da nossa história. Por conseguinte, a problemática regional não constitui uma ”moldura” ou, simplesmente, “um pano de fundo da história” desses autoresxviii. Pelo contrário, a especificidade regional foi fundamental à construção da narrativa e, neste sentido, mostra relações humanas contraditórias, conflituosas, dentre outras, entre o espaço rural e o urbano. São Bernardo, Menino de Engenho, Fogo Morto, Grande Sertão: Veredas, Josué Montello, Érico Veríssimo, José Lins do Rego e José Cândido de Carvalho, dentre muitos outros, são exemplares magníficos desse processo, “O Coronel e o Lobisomem”, de Cândido de Carvalho, figurou na lista dos livros mais vendidos entre 1971 e 1973. O livro foi traduzido para várias línguas. Diz-se que o místico Coronel Ponciano de Azeredo Furtado fez tanto sucesso que obscureceu seu criador, como se dele prescindisse.

i CARVALHO, José Cândido. Olha para o Céu, Frederico! Coedição: Livraria José Olímpio Editora, Editora Civilização Brasileira e Editora Três, 1974. Coleção: Literatura Brasileira Contemporânea, v. 10.

ii SALLES, Herberto. Discurso de recepção, a José Cândido de Carvalho, 1974. Disponível em: academia.org.br/acadêmicos/jose-candido-de-carvalho/discurso de recepção. Acesso em: 7, nov., 2020.

iii Campos dos Goytacazes é um município situado no interior do estado do Rio de Janeiro, região sudeste do Brasil. Está localizado na região Norte Fluminense do estado. Disponível em: pt.wikipedia.org/wiki/Campos_dos_Goytacazes# Historia. Acesso em: 31, out., 2020.

iv CARVALHO, 1894, p. 22.

v CARVALHO, 1974, p. 19.

vi Guerra do Paraguai. Disponível em: bndigita.bn.gov.br/dossies/guerra-do-paraguai/os-personagens/duque-de-caxias/. Acesso em: 23/nov., 2020.

vii

CARVALHO, 1974, p.24.

viii CARVALHO, 1974, p. 32.

ix CARVALHO, 1974, p. 69.

x Quissamã, situada no município de Campos dos Goytacazes, foi uma das primeiras regiões, a receber eletricidade, em 1833. A primeira usina foi construída em 1879, com nome de Usina Central do Limão, de propriedade do Dr. José Nunes de Carvalho. Disponível em: pt.wikipedia.org/wiki/Campos_dos_Goytacazes# Historia. Acesso em: 31, out., 2020.

xi CARVALHO, 1974, p. 38.

xii Em 1875, a cidade tinha 245 engenhos de açúcar-de-cana, com 3.610 fazendeiros. A pecuária e o cultivo da cana-de-açúcar se estenderam pela planície. Durante toda a República, a economia regional foi muito importante, inclusive nacionalmente, na produção de açúcar. Disponível em: pt.wikipedia.org/wiki/Campos_dos_Goytacazes# Historia. Acesso em: 30, out., 2020.

xiii CARVALHO, 1974, p. 38.

xiv CARVALHO, 1974, p. 79.

xv CARVALHO, 1974, p. 47.

xvi A região de Campos era habitada pelos índios Goitacás. Durante o século XVII diversas tentativas de ocupação dessas terras foram feitas, mas a expedições foram exterminadas pelos índios. Só com a chegada de jesuítas e beneditinos na região, é que os índios foram pacificados. Campos foi colonizada por descendentes de portugueses, a partir de 1627. Seus colonizadores fundaram engenhos e cultivaram cana-de-acúcar e, também, criação de gado. X Disponível em: pt.wikipedia.org/wiki/Campos_dos_Goytacazes#Historia. Acesso em: 31, out., 2020.

xvii Foi a primeira revista ilustrada brasileira com circulação nacional e internacional. Sua edição era semanal e possuía 48 páginas. Tinha um conteúdo amplo, variado e ilustrado com fotos, caricaturas, charges, dentre outros. Foi a primeira revista a contratar jornalistas em tempo integral. Disponível pt.wikipedia.org./wiki/O_ Cruzeiro_(revista)#Lançamento_e_linha_editorial. Acesso em: 15, nov, 20205, out., 2020.

xviii Discurso de recepção: José Cândido de Carvalho, 1974. Disponível em: academia.org.br/acadêmicos/jose-candido-de-carvalho/discurso de recepção. Acesso em: 14, nov., 2020.

Edna Garcia Maciel é natural de Igarapava, São Paulo. Foi professora e pesquisadora da UFSC. Doutora em Educação. Atualmente, participa do Núcleo de pesquisa Transformações no Mundo do Trabalho, da UFSC. Livros literários são parte do seu viver.

 

A opinião do/a autor/a não necessariamente representa a opinião de Desacato.info.

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