Anistia Internacional: Turquia prende e deporta refugiados ‘com dinheiro da UE’

Segundo a ONG, centros de acolhimento seriam na verdade centros de detenção; organização diz que UE se arrisca a ‘se tornar cúmplice’ de violações.

Segundo um relatório divulgado nesta quarta-feira (16/12) pela ONG Anistia Internacional, o governo da Turquia tem cometido “violações de direitos humanos” contra refugiados. Intitulado “O porteiro da Europa” (Europe’s Gatekeeper), o relatório aponta que centenas de refugiados, sobretudo os de origem síria, foram detidos, submetidos a maus-tratos e deportados do país.

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“Desde setembro, em paralelo com o diálogo entre a Turquia e a União Europeia sobre migração, as autoridades turcas conduziram refugiados e solicitantes de asilo – possivelmente centenas deles – em ônibus e os transportaram por mais de 1.000 quilômetros para centros de detenção isolados, onde eles foram mantidos incomunicáveis”, declarou em comunicado a Anistia Internacional.

Ao falar em diálogo, a organização se referiu ao acordo em que a UE garantiu 3 bilhões de euros à Turquia em troca da contenção do fluxo de refugiados, firmado em novembro. “É chocante que dinheiro da UE esteja sendo usado para financiar um programa de detenções e deportações ilegais”, declarou a Anistia. De acordo com a organização, funcionários da UE em Ancara confirmaram que seis centros de acolhimento, financiados com o dinheiro do bloco, seriam, na verdade, centros de detenção.

A Anistia Internacional disse ainda que, ao determinar a Turquia como “porteiro da Europa”, a UE se arrisca a “se tornar cúmplice e encorajar sérias violações de direitos humanos” na Turquia. A organização pediu pelo fim dos acordos entre Ancara e o bloco até que as violações sejam investigadas e banidas.

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“Nós documentamos a detenção arbitrária de algumas das pessoas mais vulneráveis em solo turco. Pressionar refugiados e solicitantes de asilo para que retornem a países como Síria e Iraque não é apenas injusto, mas também uma violação direta das leis internacionais”, declarou John Dalhuisen, diretor da Anistia Internacional para a Europa e a Ásia Central.

Por conta da sua posição geográfica, a Turquia é um país comum na rota de entrada de refugiados na Europa. Atualmente, existem no país cerca de 2,2 milhões de refugiados e 230 mil pessoas de outras nacionalidades que solicitam asilo.

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A Anistia Internacional esclareceu que a pesquisa foi conduzida entre os meses de outubro e dezembro deste ano e entrevistou, presencialmente e via telefone, em sete cidades turcas, mais de 50 refugiados que foram presos. Parte dos refugiados ouvidos foi deportada da Turquia. Também foram ouvidos o Acnur (Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados), organizações da sociedade civil, autoridades turcas da área de migração, um representante do gabinete do primeiro-ministro turco e a delegação da União Europeia presente na Turquia.

Em resposta, o governo turco negou os dados do relatório e disse que menos de 1% dos refugiados sírios que estão na Turquia possuem alguma restrição legal. Ancara afirmou que todas as pessoas que são deportadas são antes entrevistadas pela ONU, que avalia a situação deles.

Fotos: EFE

Fonte: Opera Mundi

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