9 anos do Portal Desacato: Muito ou nada?

Desacato 9 anos nn

Por Raul Fitipaldi, Florianópolis, para Desacato.info.

Escrever um texto que atinge tanto a fibra individual do ‘digitante’ merece ser acompanhando de algo como ‘Libertango’ de Astor Piazzolla, dessa forma uma emoção forte estanca a outra. Desacato é para mim uma testemunha fiel da forma de pensar que Tali Feld Gleiser, Juan Luis Berterretche e Raul Fitipaldi colocaram a viajar pelo mundo virtual em 25 de agosto de 2007, junto com Vanessa Bortucan e o aporte de Marco Arenhart e a Alquimídia de Thiago Skárnio. Mais tarde chegaram Larissa Cabral, Wilmar Frantz Jr., Allisson que anda semeando saudades e Lívia Monte, outros pensares progressistas, mas, nada que bifurcasse o caminho inicial.

Essa forma de pensar se mostrou, no mínimo correta, lastimavelmente se pensarmos como cidadãos e cidadãs, porque o Planeta é isso que sofremos todos os dias. Mas, “felizmente” como jornalistas foi certeira, porque corroborou a análise que se vinha elaborando. Obrou-se em conseqüência dessa linha de pensamento, atribuiu-se a ela uma forma de acionar. E se abriu a porteira da comunicação solidária com a imediata colaboração de Elaine Tavares, Urda Klueger, Koldo Campos Sagaseta, José Mercader, Luciane Recieri. Foram chegando por pares, por dezenas os colaboradores, até hoje gabar-nos de ter repórteres internacionais e nacionais e colaboradores por toda parte, em Santa Catarina, Brasil, na Pátria Grande e no Mundo. Foram se aproximando em centenas, milhares e depois foram milhões acumulados os leitores.

A Rede de Jornalismo Solidário e em Resistência se tornou uma cooperativa de trabalho, na busca de concretizar o sonho de fomentar fontes de emprego, no apagar das luzes de 2011. E em 2014 instaurou domicílio na Casa da Outra, em Florianópolis. A Outra Informação começou a trabalhar para ser A Mídia dos Trabalhadores.

A virtualidade foi se complementando com a narrativa audiovisual das lutas populares, das reflexões e agendas das trabalhadoras e trabalhadores. Um espaço novo para as minorias, os Povos Originários, os Negros, os grupos LGBT, os ambientalistas, os produtores culturais. Entrevistamos, escrevemos, filmamos, e faltava alguma coisa. E veio. Chegou a época de fazer produção radial. Tudo foi se armando numa teia gostosa, porém, muito difícil de sustentar. Dura, com contradições internas próprias da falta de cultura cooperativa, coletiva. Mas, se chegou aos 9 anos de Portal e daqui a pouco a 5 de Cooperativa.

Houve no último ano grandes mudanças, foi parando a rotatividade de pessoas, fomos nos amarrando uns aos outros, olhando com mais esperanças, mitigando melhor as dores e planejando mais alto. Quase sem saber já se passou um ano de construção com o Extremo Oeste catarinense e, poxa, há uma cooperativa nossa se formando lá, o Portal Desacato agora se edita do Oeste para o Mundo. Como explicar isso? Milhares e milhares de artigos e fotos, centenas de vídeos, toneladas de horas de trabalho voluntário, uma disciplina de edição inquebrantável, conduzida magicamente pela Tali Feld Gleiser. Uma Cooperativa se desenvolvendo presidida carinhosamente pela Rosângela Bion de Assis.

Aconteceram tantas coisas dentro de nós, tantos ganhos e perdas. Somaram-se tantos amores e raivas, tanta ilusão, tanto pássaro perdido nas ventanias, tanto cachorrinho roubado aos lixões da vida. Tanta vida, tanta morte e sim, tanta nada moral e tanta derrota política, como esta maldição de Golpe de Estado que nos assombra o horizonte.

Tanto e tanto que parecerá nada até que se compreenda que Jornalismo de Classe não é apenas um panfleto, uma campanha setorial, uma candidatura nos limites da democracia burguesa.

Enquanto isso, a linha segue e segue, até ocuparmos um dia o latifúndio midiático que nos criminaliza, nos esconde, nos mente e nos rouba. Avaliar se é muito ou nada o que se fez até agora não é preciso. Importa que estamos caminhando, que estamos a caminho, que há caminho e que há caminhantes.

A linha segue pelas tangentes mágicas e poéticas do amor pelo outro, pela trilha que semearam Fidel, Chávez, el Che, Lumumba, Zumbi de Palmares, Zapata, Marulanda, Camilo Torres, Arnulfo Romero, Artigas, Bolívar, Juana Azurduy, Micaela Bastidas, Lenin e Gladys Marín, entre tantos e tantos. Segue e vencerá por teimosa, ousada, romântica e rebelde, por revolucionária.

 

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