“Yanomami Sob Ataque”: a denúncia de Davi Kopenawa na ONU

“Yanomami Sob Ataque”: a denúncia de Davi Kopenawa na ONU
Líder esteve em Nova York, na sede das Nações Unidas, para entregar o relatório “Yanomami Sob Ataque”, que mostra as ações que estão levando ao extermínio dos indígenas em Roraima. Na imagem de capa, Davi Yanomami entre o relatório “Yanomami Sob Ataque” ao subsecretário-geral da ONU para Assuntos Econômicos e Sociais, Li Junhua (Foto: Dario Kopenawa/Redes sociais)

Por Leanderson Lima, Amazônia Real. 

Manaus (AM) – A grave crise humanitária e sanitária do povo indígena Yanomami foi denunciada pelo líder Davi Kopenawa, 66, na sede da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York, nos Estados Unidos. O principal líder Yanomami foi recebido, na quarta-feira (1º), pelo subsecretário-geral para Assuntos Econômicos e Sociais, Li Junhua.

Kopenawa denunciou a situação dos indígenas brasileiros, que estão morrendo vítimas de doenças como malária, diarreia, verminoses e por conta da grave desnutrição que atinge principalmente as crianças, A situação dos Yanomami se agravou nos últimos quatro anos, durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), devido ao incentivo à invasão de garimpeiros ao território indígena. O líder indígena entregou nas mãos do subsecretário-geral o relatório “Yanomami Sob Ataque”, que narra o drama vivido em Roraima.

O filho do líder indígena, Dario Kopenawa, também fez parte da comitiva e comentou a ida à ONU. “Foi uma visita muito importante. Meu pai, como representante e liderança Yanomami, do nosso país; eu como diretor da Hutukara Associação Yanomami, que representa 30 mil Yanomami. Foi muito importante falarmos com o chefe da ONU, falamos muito sobre os problemas que estamos enfrentando há muitos anos”.

O diretor da Hutukara afirma que a invasão dos garimpeiros em território Yanomami foi a pauta central do encontro, assim como os problemas acarretados pelos invasores. “Falávamos há muitos anos da situação do povo Yanomami e também falamos dos problemas dos invasores, cada vez mais aumentando, cada vez mais a violência, o abuso sexual que está acontecendo na terra Yanomami, e também prostituição, alcoolismo, os garimpeiros estão ameaçando a população Yanomami. A gente contou tudo e o que fizemos de trabalho durante esses últimos quatro anos do governo Bolsonaro. Ele não nos protegeu, não apoiou a defesa e proteção dos Yanomami”, denuncia Dario.

O diretor da Hutukara lembrou a morte das crianças indígenas, muitas delas contaminadas pelo mercúrio dos garimpos, além da destruição de mais de 414 mil hectares de terras dentro do território indígena Yanomami.

Dario pediu o apoio da ONU na luta contra o garimpo. “Foi extremamente importante. Entregamos para ele (Li Junhua) também o nosso relatório, com tudo detalhado”.

Discurso para universitários

Garimpo no rio Uraricoera, naTerra Indígena Yanomami (Foto: Bruno Kelly/Amazônia Real)

Davi Kopenawa também discursou na Princeton Institute for International and Regional Studies (PIIRS), para um público formado por universitários. “Eu vou falar diretamente o que estou sentindo, e eu estou de luto. O meu povo Yanomami está doente e morrendo, as nossas crianças adoecendo com a doença do homem branco. A doença que entra junto com os destruidores, que entram nas comunidades e trouxeram as doenças que se chamam malária, gripe, diarréia, verminoses e coronavírus”, desabafou.

Kopenawa falou ainda sobre a morte de crianças indígenas e lembrou que hoje há aproximadamente 70 mil garimpeiros dentro do território Yanomami, como documentado no relatório “Yanomami Sob Ataque”. “O preço do ouro aumentou e é por isso que o número de garimpeiros aumentou”, disse. Ele aproveitou o discurso para pedir apoio aos universitários.

“O povo Yanomami não pode sofrer. São seres humanos. Eles sabem falar, sabem lutar, sabem cuidar do seu lugar, sabem defender os seus direitos, sabem defender a sua língua, seus costumes, então é por isso que é muito importante vocês ficarem de olho no meu povo, que está protegendo a Amazônia”, discursou.

Livro e exposição

“Região do Catrimani” (1972-76), um das fotos que compõe a exposição de Claudia Andujar sobre o cotidiano do povo Yanomami (Foto: Cláudia Andujar/Divulgação/Fundação Cartier)

Durante a viagem, Davi Kopenawa divulgou o livro A queda do céu, que escreveu em parceria com o escritor e etnólogo Bruce Albert. “Esse livro é feito para você ler, para você conhecer a história do meu povo”, afirmou. O líder indígena propõe um mergulho na espiritualidade ancestral de um povo que luta para preservar da extinção o seu maior tesouro, a cultura de sua gente.

Fondation Cartier Pour l’Art Contemporain, em colaboração com The Shed at Hudson Yards, anunciou a estreia norte-americana da exposição The Yanomami Struggle (A Luta Yanomami), entre os dias 3 de fevereiro e 16 de abril de 2023.

Da amizade entre a fotógrafa e ativista Claudia Andujar com os Yanomami surgiu a exposição, que inclui mais de 80 obras de artistas e cineastas Yanomami contemporâneos. As obras serão exibidas pela primeira vez em Nova York. Será a maior exposição de arte já dedicada aos Yanomami nos Estados Unidos.

Líderes Yanomami, Davi Kopenawa e Dario Kopenawa, na entrega do relatório “Yanomami Sob Ataque”, ao subsecretário-geral da ONU para Assuntos Econômicos e Sociais, Li Junhua, em Nova York (Foto: Dário Kopenawa/Redes sociais)

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