Por Guigo Ribeiro, para Desacato.info.
Saltou da cama mediante ao quão veemente foi a ordem dada pelo despertador. Banhou-se enquanto cantarolava a canção do dia bom. Colocou roupa de ser responsável. Saiu. No trajeto, a educação apresentada em “Bom dia” para todo e qualquer vivente que cruzasse seu caminho. Estava empregando o que aprendeu sobre boas energias. Chegou ao trabalho e bateu o ponto. Iniciou o trabalho como fazia todo diabo dia. Um sorriso para todos os presentes, foi proativo e se dedicou arduamente na concretização do projeto atual, projeto este que consistia em viabilizar uma grande doação para uma instituição de caridade.
– Que seja o melhor para as crianças. Conte comigo. Um abraço. – desligando.
No almoço, os bons costumes e caminhos para uma vida saudável. O riso entre os amigos de trabalho. O brinde ao sucesso na ação social. Um brinde ao sucesso profissional. Um homem pleno.
Pagou a conta e deixou troco. Comeu um doce e completou o dia de forma dedicada. Na saída, flores que seriam entregues no dia seguinte para a amada, “te amo” para a mãe e para o pai via aplicativo. Antes do lar, uma volta pela avenida. Comprou uma besteira, inventou uma surpresa, fotografou o lanche dado para a fome do homem em situação de rua:
– Deus te abençoe! – enquanto dava a primeira mordida.
– Nós todos. – respondeu.
Foi, enfim, para a casa e resolveu partir para o banho. Longo banho. Saiu, roupas leves e ócio merecido nas redes sociais. Um vídeo aqui, leitura de um post ali. A meta de consumo de informação no caminho de ser batida. Yes! Próximo ao momento do descanso para o dia seguinte, algo chamou sua atenção. Uma notícia que dava conta de cortes do governo no orçamento de alguns setores. Resolveu não abrir a notícia. Contudo achou por bem uma participação. Escreveu:
– TEM QUE CORTAR MESMO! CHEGA DE MAMATA! QUE MORRAM TODOS! APROVEITADORES, PARASITAS. QUE MORRAM TODOS E DE MANEIRA LENTA.
Depois dormiu.
Guigo Ribeiro é ator, músico e escritor, autor do livro “O Dia e o Dia Que o Mundo Acabou”, disponível em Edfross.
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