Por Frade Marcos Sassatelli.*
A mensagem “Denúncia da Violência Policial no Estado de Goiás”, do dia 18 do mês corrente, inicia dizendo: “Enviamos esta Mensagem como forma de denúncia do que vem ocorrendo no Estado de Goiás. A polícia militar goiana já é conhecida por sua truculência, contudo, nos últimos meses e, particularmente nos últimos dias, a violência policial tem se intensificado de maneira desavergonhada”.
Como prova disso, a Mensagem traz três relatos de fatos recentes.
Primeiro relato: “Estudantes ocuparam a sede da Secretaria de Educação, Cultura e Esporte (SEDUCE) como forma de protesto contra a abertura dos envelopes com as propostas das Organizações Sociais (OSs) (…) Minutos após a ocupação, a Polícia Militar adentrou o prédio e prendeu os 31 manifestantes, dos quais 13 adolescentes e 18 adultos. Os advogados do movimento foram impedidos de entrar no local e acompanhar a operação, o que viola os direitos assegurados aos advogados no art. 7º da Lei 8.906/94, dentre os quais o de ter garantida a sua comunicação com os seus clientes, mesmo quando detidos e considerados incomunicáveis.
As 3 mulheres detidas foram encaminhadas para o 14º Distrito Policial e os 15 homens para a DEIC – Delegacia de Investigações Criminais, onde passaram a noite. Na DEIC, por não haver vagas nas celas, os manifestantes dormiram no pátio, ao relento, e não foi permitida a entrada de colchonetes. A eles somente foi liberado o consumo de água”.
Continua a Mensagem: “Dentre os presos estava o professor do curso de História, da UFG (Goiânia), Rafael Saddi (…) Quando chegou no prédio, os policiais mandaram-no deitar no chão e o algemaram. Depois disso, um policial ainda apontou o dedo na cara dele e disse: ‘ah, você é aquele professor da UFG que estava falando coisas né’… ou seja, trata-se de uma prisão política deliberada de um intelectual que vinha denunciando os abusos desse processo de implantação das OSs no Estado”.
Segundo relato: “Na quarta-feira (17/02) (…) durante uma manifestação contra o aumento da passagem de ônibus, a PM espancou uma garota até ela desmaiar. Vários adolescentes foram presos por ‘P2’ infiltrados e sem identificação alguma (…) A moça desmaiada foi levada para dentro de um hotel por vários policiais, todos homens, que não deixavam ninguém se aproximar”.
Observa, pois, a Mensagem: “em 3 dias contabilizou-se 47 presos políticos; 18 foram liberados hoje (17/02) a tarde”.
Terceiro relato: “Companheirada, neste momento está em andamento a operação de despejo do acampamento Padre Jordá, em Itapaci-GO contrariando todos os acordos e entendimentos, inclusive normas sobre reintegração de posse que impede o comprimento de liminar após as 18h. Nem o coronel Edson e o Mota estão conseguindo retirar a tropa do local e abortar o processo. Ficamos todos e todas em alerta”.
Quinta-feira (18/02), pela manhã, “recebemos a confirmação que as famílias do acampamento Pe. Jordá (Itapaci-GO), foram despejadas, contrariando acordos, entendimentos e normas de reintegração de posse”.
Diz ainda a Mensagem: “Seja na cidade, seja no campo, o coronel Marconi Perillo (PSDB) não se constrange em dispor da violência contra aqueles que ousam se manifestar contra suas ações!”.
A Mensagem conclui afirmando: “Entendemos ser urgente que tais fatos se tornem conhecidos nacional e internacionalmente. A imprensa local é majoritariamente cooptada pelo Governo do Estado. (…)É absurda a situação de violência do Estado de Goiás, via seu braço armado, a Polícia Militar”.
Tudo indica que em Goiás a ditadura civil e militar não acabou. Que atraso cultural e ético! A mensagem termina com as palavras: “Há resistência, há vida!”.
Enfim, comunicamos que a Mensagem foi divulgada na Assembleia da OEA no mesmo dia em que foi redigida (18/02).
Um outro Goiás é possível e necessário! A esperança nunca morre!
*Fr. Marcos Sassatelli
Frade dominicano. Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção – SP), Professor aposentado de Filosofia da UFG
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Fonte: Adital.