Por Homero Gomes.
Mais do que qualquer outra cidade litorânea em Santa Catarina, Florianópolis parece estar vivendo o esgotamento de um modelo de desenvolvimento predador e excludente, baseado no binômio da especulação imobiliária e no veranismo. A intimidade entre ambos é mais do que conhecida, e favorecida por denominadores comuns: o desleixo com o planejamento e a busca pelo lucro fácil e rápido.
Florianópolis é uma cidade peculiar. Parte dela é hospedada em um arquipélago formado por várias ilhas, dentre elas a Ilha de Sta. Catarina. Possui, portanto, limites físicos evidentes e que dificilmente são levados em consideração pelo poder público, o setor da construção civil, o setor turístico e mesmo parcela da comunidade.
Nesta temporada, a sujeira escondida por mais de uma década ‘debaixo do tapete’, deu o ar da graça, vertendo em direção ao mar na forma de esgoto in natura. Em Canasvieiras, o sistema de tratamento, incluindo estação elevatória do rio do Brás, é incompatível com aumento da carga de esgoto coletado na orla norte da Ilha. Pior, dá sinais muito evidentes da sua incompatibilidade mesmo sem levar em conta o aumento da carga no verão.
Basta lembrar que em outubro do ano passado, portanto, longe do início da temporada de verão, o Rio do Brás lançou ao mar quantidade enorme de esgoto.
Isso para ficar no balneário que possui quase 100% de rede instalada durante o governo da Administração Popular, em 1995. No entanto, Canasvieiras revela um dado estarrecedor: mais de 57% dos imóveis sequer está ligado à rede coletora de esgotos. O que falta para ilustrar flagrante improbidade administrativa? A Lei?
Fácil imaginar o que ocorre nos demais balneários da cidade. Ainda que os números da atividade turística nesta temporada sejam espetaculares do ponto de vista econômico, algumas das consequências negativas decorrentes da contínua falta de planejamento e da manutenção de uma visão obtusa de desenvolvimento, acabam por provocar diminuição drástica da qualidade de vida de quem aqui vive e também do próprio visitante.
Sinal de que é chegada a hora de dar um basta neste modelo improvisado e excludente, porque beneficia cada vê menos gente e degrada o lugar. No entanto, e paradoxalmente, o Turismo de novo tipo afirma-se enquanto um vetor fundamental para a cidade que quer mais.
Chegou o momento de o Estado enxergar o turismo de forma transversal, capaz de alavancar o desenvolvimento local. O modelo de veranismo reinante em Florianópolis, cidade-Ilha, precisa ser repensado.
O Turismo deve funcionar como fator indutor de potencial criativo na cultura, na gastronomia, novos pólos de inovação como o segmento de tecnologia limpa e planejamento urbano pensado para além da comunidade local. Em qualquer contexto, sobretudo numa cidade-Ilha, o Turismo deve estar comprometido até a medula com a sustentabilidade e a preservação dos recursos naturais. Qual o novo modelo? Ele nascerá do debate entre os diversos atores sociais, nesse espaço de disputa e convivência que é a cidade. E nunca da dicotomia burra entre prós e contras.
Homero Gomes é sociólogo e diretor da Revista TradeTur; foi secretário de Turismo de Florianópolis.
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Fonte: Blog do Cadu.