Um homem (?) não definirá o que é não: uma carta ao Sr. Jessé Lopes

Caro Jessé Lopes,

Importante dizer que o Sr. está muito mal informado sobre as pautas feministas. É até constrangedor observar que um parlamentar tenha uma postura bastante desinteligente em um assunto de repercussão mundial.

Aliás, provavelmente este é o incômodo. A ascensão de uma narrativa que busca quebrar o discurso machista e patriarcal ou, ainda, desconstruir (de alguma maneira) a estrutura de uma sociedade fortemente pautada sob a batuta do patriarcado, mexe de maneira sensível com homens que se alimentam disso.

Para as mulheres, estas figuras são meninos inseguros e impotentes para lidar no campo das ideias, das possibilidades de transformações sociais. Assim, usam a força (ou os espaços de poder – ou ambos) para atacar as mulheres.

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Para facilitar o processo de discernimento, não é não, Sr. Jessé Lopes. E quem decide sobre isso somos nós e não você. Não pedimos a sua opinião.

Nós mulheres sofremos com vários tipos de violência (Santa Catarina é recordista em feminicídio, lembra?) e não temos sequer tempo para “inventar” pautas.

Podemos desenhar: é muito comum em festas como carnaval e oktoberfest que as mulheres sejam cercadas por figuras masculinas e forçadas a beijá-los. Estas figuras invadem o espaço que não foram convidados.

Sabe, os homens não são tão desejosos como muitas vezes querem (e forçam) parecer. Às vezes, não queremos beijar ninguém. Às vezes, querendo dançar, beber, curtir e, após, simplesmente ir para casa dormir.

Ocorre que muitas vezes uma mulher é privada disso, sabia?! Ela saiu de casa para curtir uma festa, mas é interrompida porque no meio do caminho havia um cara que a obrigou a beijá-lo (ou a fazer sexo). A noite de alegria com as amigas (e amigos) não raras vezes se transforma num pesadelo quando algumas figuras decidem que determinada roupa autoriza a violência sexual, física e moral (às vezes todas juntas) sobre algumas.

Normalizar este tipo de comportamento agressivo contra as mulheres é muito grave, sobretudo advindo de um parlamentar, o que repudiamos veementemente.

Sr. Jessé Lopes, quem decide o que é não somos nós.

O “não” é uma frase inteira.

Coletivo Valente!
Sindicato dos Trabalhadores do Poder Judiciário de Santa Catarina!

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