Ucrânia: Donetsk se move

Ucrânia-mapa-oblastsEstá em andamento uma operação obviamente de algum modo coordenada, na oblast [província] de Donetsk, no leste da Ucrânia. A província é famosa por suas minas e indústria pesada. Com cerca de 4,7 milhões de habitantes, ali vive 10% da população ucraniana. Viu-se também alguma ação de grupos contra o governo golpista de Kiev na vizinha Lugansk (Donbas) e na oblast de Carcóvia, mas a oblast de Donetsk é, por hora, o centro de gravidade dos movimentos [orig. schwerpunkt].

Ao longo do dia, o povo na cidade de Donetsk ocupou vários prédios do governo e cercou-os com barricadas. As unidades de polícia Alfa, operadores da SWAT, enviados para desalojá-los, ter-se-iam, ao que se diz, recusado a atacá-los. Um ultimato do governo golpista de Kiev, para que os prédios fossem esvaziados em 48 horas, não foi obedecido. É possível que o governo golpista tenha ficado sem forças armadas leais a ele, para impor o cumprimento do ultimato.

Hoje, outras cidades na oblast de Donetsk assistiram também a extensiva movimentação de grupos anti-golpe. Em Sloviansk, alguns grupos paramilitares, alguns, parece, com algum treinamento, invadiram o principal prédio da Polícia e hastearam ali a bandeira russa. Teriam também, como dizem alguns, distribuído armas entre os manifestantes. O prefeito de Sloviansk anunciou que se alinha a favor da Rússia. Por toda a cidade, ativistas pró-Rússia organizaram postos de revista; imagens distribuídas mostram homens de meia idade. Muitos deles têm sido apresentados como mineiros das grandes minas de carvão em Donetsk. Parecem estar encarregados de vigiar a movimentação de militares e policiais enviados de Kiev. Elementos treinados da polícia antitumultos ucraniana Berkut, que foi dissolvida pelo governo golpista, uniram-se aos manifestantes.

In Mariupol e Druzhkovka, os manifestantes que se opõem a Kiev bloquearam ou tomaram prédios da prefeitura. Em Kramatorskaya, os policiais locais uniram-se aos manifestantes pró-Rússia. A cidade de Lugansk, onde também há manifestações, e Donetsk, foram hoje, pelo menos uma vez, sobrevoadas por aviões militares.

Ainda não vi imagens de Donetsk que mostrem os “homens polidos, vestidos de verde e armados”, quer dizer, operadores militares russos, como se viam na Crimeia. As milícias populares que estão ocupando prédios na oblast de Donetsk parecem menos equipadas que os grupos de autodefesa locais que se viam na Crimeia. Embora as operações em várias cidades da região de Donetsk pareçam estar sendo, de algum modo, coordenadas, não há até agora nenhum sinal de que a Rússia esteja ativa naquela área.

O governo golpista de Kiev fez de tudo para discriminar o povo das regiões leste do país. Desde proibir a língua russa tradicional na região, até ameaçar os habitantes com genocídio, como fez a princesa do gás, Timoshenko em conversa gravada, a seguir:

A situação econômica no leste é difícil e, diferente do que se viu em províncias russas próximas, não se recuperou nos últimos 20 anos. Sob o governo golpista de Kiev, todos temem que a situação fique ainda pior. São populações que não precisam que ninguém lhes explique que estarão mais bem atendidas se conectadas à Rússia, que aos golpistas de Kiev, dos quais só podem esperar o que o FMI está oferecendo.

Se o governo golpista de Kiev encontrar forças suficientes leais a ele, para reprimir o movimento popular no leste, haverá luta severa. E muito provavelmente, a Rússia intervirá. Mas ainda acho que isso é bastante improvável.

A Rússia, como Henry Kissinger [no Washington Post de 5/3/2014, em: “How the Ukraine crisis ends”], argumenta a favor de uma Ucrânia neutra e fortemente federalizada. O povo de Donetsk pode provavelmente concordar em manter-se como parte da Ucrânia, se ganhar forte autonomia.

O governo golpista de Kiev não pode arriscar-se nessa luta, nem a uma possível intervenção russa, que poderia terminar com a conquista, pelos russos, de todo o coração industrial da Ucrânia. Infelizmente, algumas provocações feitas pelo “ocidente”, sobretudo por EUA e OTAN, podem estimular alguns movimentos estúpidos em Kiev, antes que a racionalidade e o bom senso se instalem.

Fonte: Rede Castor.

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