Transformar escolas em fortalezas de segurança máxima é educar nossas crianças?

Por Viegas Fernandes da Costa, no seu Facebook.

Transformar escolas em fortalezas de segurança máxima é educar nossas crianças para o medo. O crime que vitimou quatro crianças em Blumenau é terrível, perturbador e abjeto, mas deve ser compreendido em sua complexidade e as respostas da sociedade não podem ser as do desespero.
O atentado contra a escola infantil em Blumenau está fora do padrão. Aconteceu em uma escola particular e foi produzido por um homem adulto aparentemente sem relações com aquele espaço escolar. Apesar disso, o prefeito da cidade decretou férias escolares na rede municipal para discutir a implantação de dispositivos de segurança nas escolas públicas municipais. Fala-se em contratação de agentes de segurança, instalação de detectores de metais, treinamento de professores para conter ataques, aquisição de software israelense de vigilância, etc. Paliativos que podem talvez trazer a sensação de segurança para as famílias dos estudantes, mas que certamente não são assertivas na medida em que não questionam as causas deste e dos outros 11 ataques ocorridos contra estudantes em ambientes escolares apenas nos últimos quatro anos. Trata-se de um fenômeno que não era comum no Brasil, e a pergunta que devemos fazer é: por que ataques em escolas passaram a ser mais corriqueiros em nosso país? O que mudou nestes últimos anos na nossa sociedade que faz das nossas escolas alvo da violência?

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Quanto às questões práticas, causa estranheza o prefeito de Blumenau antecipar as férias escolares na rede municipal. Nenhuma escola municipal de Blumenau sofreu ataque, e segundo as informações dos investigadores, tratou-se de um caso isolado. Famílias terão imensas dificuldades com seus filhos nas próximas semanas porque não houve tempo para que se programassem para estas “férias”. Isto em uma cidade fabril e com histórico de pouca tolerância do empresariado em relação às necessidades privadas dos seus trabalhadores. Afinal, quem garantirá a segurança das crianças que não poderão ir para a escola porque o prefeito decretou férias em abril?
Por fim, quero reforçar que transformar escolas em fortalezas de segurança máxima é educar nossas crianças para o medo. A educação precisa ser o espaço de exercício da liberdade e da tolerância. Das janelas das escolas é preciso enxergar horizontes, jamais muros. Achar que podemos transformar nossas escolas em ilhas de paz em meio ao mar da barbárie é errado, não funcionará. Desviar dinheiro da educação para comprar portas blindadas, revólveres e fardas tampouco evitará que nossas crianças e jovens se tornem vítimas de pessoas violentas. E é importante dizer que estatisticamente ambientes escolares são mais seguros que ambientes familiares.
Diante da comoção e do trauma, é preciso construir serenidade, diálogo e lucidez. Problemas complexos não têm resoluções simples, e do poder público se espera equilíbrio e responsabilidade, jamais demagogia e oportunismo.
A opinião do/a/s autor/a/s não necessariamente representa a opinião de Desacato.info.

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