Trabalhadores de Belo Monte fazem nova paralisação

    Panfleto anunciando mudança no local de pagamento foi considerado ofensivo pelos operários.

    Belo Monte

    Os operários do sítio Pimental, um dos canteiros de obras da barragem de Belo Monte, paralisaram suas atividades e fizeram um protesto na manhã desta quarta-feira (19 de setembro). A causa foi a mudança no local de pagamento dos salários, que antes acontecia na cidade de Altamira e agora passará a ser feito dentro do próprio canteiro, eliminando o dia de folga que os trabalhadores tiravam para ir à cidade (distante 52 km do canteiro pela Transamazônica).

    Os trabalhadores também ficaram revoltados com um panfleto produzido pelo Consórcio Construtor Belo Monte (CCBM – liderado pela empreiteira Andrade Gutierrez) para anunciar a mudança. Na publicação, dois rádio-transmissores conversam sobre o assunto. O cartum foi considerado ofensivo pelos trabalhadores.

    Segue reprodução do diálogo entre os personagens:

    “- Tá sabendo da novidade?

    – Xii, lá vem coisa… Tô não cara, diga aí.

    – O nosso pagamento não vai ser mais feito na cidade. Vai ser aqui na obra.

    – Como assim? Você está falando que vamos receber nossa grana aqui no Sítio?

    – É isso aí! Será que isso vai ser bom?

    – Sei não. Mas uma coisa é verdade, desde o início do ano tem esse tipo de informação que vai e volta. Para mim acho (sic) que está certo. Trabalha aqui, recebe aqui.

    – Agora é para valer mesmo. E tem mais, como o pagamento é no Sítio, não tem mais o dia de folga para ir ao banco na cidade.

    – Hum… não ir para a cidade… Não sei não! Essa parte eu não gostei! Bem, os homens devem saber o que estão fazendo. Não acredito que é para nos prejudicar!

    – É, parece que é uma necessidade urgente para parar de perder produção! E você sabe… Ganhar sem trabalhar tem vida curta!

    – É, cara, são novos tempos. Um dia tinha que acontecer! Acho que dá para conviver com essa mudança, afinal, tem coisas piores na vida, como por exemplo, ficar desempregado, cair a casa, mulher fugir com outro, etc…

    – Pois é, você tem razão! As coisas vão se ajeitar. Bom, já estava previsto no Acordo com o Sindicato…

    – Vamos juntos torcer para que tudo dê certo. Câmbio final!”

    Devido ao protesto, as obras no canteiro de Pimental foram suspensas, atingindo 6 mil trabalhadores. De acordo com informações do consórcio, os manifestantes fizeram uma barrigada na entrada do canteiro e depredaram alguns ônibus.

    A Força Nacional, presente permanentemente dentro do canteiro, com um efetivo de 90 homens, atuou na repressão ao movimento. Cerca de 40 trabalhadores foram demitidos. Atualmente, no auge da obra, Belo Monte emprega mais de 28 mil trabalhadores e trabalhadoras.

    Essa foi a segunda paralisação de Belo Monte apenas nessa semana. Na segunda-feira, indígenas das etnias Parakanã e Juruna bloqueram o acesso ao sítio Pimental em protesto contra o descumprimento das condicionantes da obra. Só liberaram a obra após irem negociar com o governo em Brasília. Desde o início das obras, Belo Monte já conta mais de 100 dias de paralisação, entre protestos, greves e ordem judicial.

    Foto: Xingu Vivo

    Fonte: Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB)

     

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