Tese sobre a Palestina é premiada como melhor do país

Professor Bruno Huberman (RI) é autor da pesquisa

Bruno Huberman, prof. Bruno Huberman (Relações Internacionais)

A pesquisa de doutorado do prof. Bruno Huberman (Relações Internacionais) acaba de ser premiada como a melhor tese do país pela Associação Brasileira de Relações Internacionais (ABRI).

Intitulada A colonização neoliberal de Jerusalém após Oslo: desenvolvimento, pacificação e resistência em Palestina/Israel, a tese foi realizada no Programa de Pós-Graduação San Tiago Dantas (UNESP/UNICAMP/PUC-SP), sob orientação do prof. Reginaldo Nasser.

“Tive o prazer de orientar Bruno no mestrado e doutorado. Lembro perfeitamente quando tinha acabado de concluir o bacharelado em Jornalismo e veio me procurar, por indicação do prof. José Arbex, para estudar Relações Internacionais e a Palestina”, conta Nasser.

“Para além de premiar merecidamente sua trajetória, o prêmio também diz respeito ao nosso programa de Pós-Graduação San Tiago Dantas e ao Departamento de RI da PUC-SP, do qual Bruno faz parte como docente, e, sem dúvida nenhuma, tem um significado especial para a causa palestina. O trabalho traz 370 páginas destrinchando a colonização de Jerusalém. Bruno passou um ano em Londres na renomada SOAS (Faculdade de Estudos Orientais e Africanos da Universidade de Londres), podendo fazer várias pesquisas de campo em Israel”, completa o orientador.

Leia a seguir entrevista com o professor Bruno Haberman:

JPUC – Qual a importância de debater este tema e de ser premiado com a pesquisa?

Prof. Bruno – Foi muito importante ganhar o prêmio com uma pesquisa sobre a colonização israelense da Palestina e o seu entrelaçamento com o neoliberalismo na região. Em primeiro lugar, pois este não é um tema tradicional das Relações Internacionais. Então, receber reconhecimento dos pares significa ampliar os horizontes de possibilidades da disciplina para os demais pesquisadores da área. Em segundo lugar, os estudos sobre a Questão Palestina, em particular uma abordagem colonial deste assunto, ainda são muito poucos no país. A minha pesquisa é uma militante, que busca melhor compreender a realidade para possibilitar a elaboração de caminhos para o fim do colonialismo israelense e a libertação na Palestina. Por essa razão, muitas pesquisas semelhantes são censuradas em outros locais do mundo, como os EUA e Europa. Logo, espero que o prêmio fortaleça este tipo de produção de conhecimento no Brasil, tanto em relação a Palestina/Israel como a outros temas internacionais igualmente fundamentais em um momento em que as Ciências Humanas no Brasil estão sob um crescente cerco político e sofrem com falta de investimentos.

JPUC – Qual o impacto para a sua carreira acadêmica ter recebido a premiação?

Prof. Bruno – Eu entendo essa premiação como um reconhecimento muito importante do trabalho que tenho feito na área de Relações Internacionais. Eu não sou bacharel em Relações Internacionais, mas em Comunicação Social – Jornalismo pela PUC-SP. Então, as Relações Internacionais sempre foram um desafio para mim. O prêmio traz um reconhecimento importante para o trabalho que tem sido conduzido por mim e também pelo meu orientador, prof. Reginaldo Nasser, o meu grupo de pesquisa, o GECI (Grupo de Estudos sobre Conflitos Internacionais) da PUC-SP, o Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais San Tiago Dantas (PUC-SP, UNESP e UNICAMP) e o curso de Relações Internacionais da PUC-SP. A minha tese é fruto do trabalho coletivo em conjunto de diversos colegas nestes espaços, que abriram as suas portas e apoiaram um tipo de investigação que foge do tradicionalmente estabelecido na área. Logo, o prêmio se estende a essas instituições que compõe a minha trajetória.

JPUC – Sobre o processo de realização da pesquisa, o que você destacaria?

Prof. Bruno – Certamente, a etapa mais importante foi o estágio doutoral sanduíche de um ano que fiz com bolsa Capes na SOAS (School of Oriental and African Studies), University of London, sob orientação do Prof. Dr. Adam Hanieh no departamento de Development Studies. Este período no exterior me permitiu entrar em contato com diversos investigadores e participar de eventos científicos que partilham os mesmos temas e abordagens que eu tenho empreendido. Além disso, possibilitou estabelecer uma importante rede para a internacionalização do trabalho científico que estamos realizando no país. Os meus aprendizados no exterior são vistos nesta tese, que foi escrita em português para poder incentivar novas investigações por meio desta abordagem proliferem e se estabeleçam no país. Ademais, o estágio sanduíche permitiu que eu realizasse uma pesquisa de campo em Palestina/Israel, onde pude realizar entrevistas e observações que foram dados empíricos fundamentais para os resultados e conclusões da investigação. Contudo, um momento igualmente importante foi um evento realizado na própria PUC-SP, o lançamento do livro “A Limpeza Étnica da Palestina”, que contou com a presença do autor, o renomado historiador israelense Ilan Pappe, que me colocou no caminho correto para este tipo de investigação.

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