Por Viegas Fernandes da Costa.
No início deste ano estive em Portugal, um país que tem muitos problemas, mas onde se é possível respirar. Um país que construiu a saída de uma das suas mais graves crises econômicas através de um projeto alternativo e ousado, no qual os investimentos do Estado e seu diálogo com a Comunidade Europeia, tentam redistribuir renda e gerar emprego. Ainda há muitos pobres, é verdade, e em Lisboa muitos vivem marginalizados nas ruas, mas percebe-se também o esforço público para transformar esta realidade.
É preciso dizer, claro, que o governo português, embora socialista no nome do partido, é um governo de acomodação que busca algumas reformas sociais, nada absolutamente profundo, nada muito radical, uma espécie de distribuidor das migalhas, mas democrático e muito menos pior que a maior parte dos governos que proliferam por aí. Infinitamente melhor que o governo do Brasil (de onde escrevo), por exemplo, e por isso não é de se estranhar a grande quantidade de brasileiros que andam por lá, a morar, estudar e visitar. Brasileiros e outras tantas nacionalidades, de Bangladesh e Nepal a França e Canadá. Portugal é colorido, Lisboa e Porto verdadeiras torres de Babel. E por ser Babel, também lá aparecem os tocadores de trombeta a quererem derrubá-la. Os fascistas de plantão, que por cá, nestas terras tropicais, conhecemos tão bem. Aqueles que tomam o nome de Deus para pregar morte, dor e exclusão. Aqueles que dizem defender os valores da família (a patriarcal) para enaltecer a memória de ditadores que há muito deveriam ter seus bustos lembrados apenas pelos pombos.
Portugal viveu uma das piores ditaduras fascistas da Europa, a de Salazar, que chegou ao poder no mesmo ano do seu duplo nazista, em 1933. A ditadura de Salazar durou 41 anos, e em nome de Deus, da família e do progresso, fez o que toda ditadura faz: torturou, matou, destruiu famílias e futuros. Apenas na Fortaleza de Peniche foram 2510 presos políticos seviciados pelo Estado. Após a Revolução dos Cravos e com o fim do salazarismo, Portugal voltou a existir para o mundo e hoje recebe pessoas de todas as cores, línguas e crenças.
Por isso é com muita preocupação e tristeza que vejo aumentar o número de portugueses vindo a público, especialmente nas redes sociais, para defender a memória de Salazar e arar o campo para novos (velhos) experimentos fascistas. Chafurdam na lata de lixo da História para dela resgatarem as vísceras imundas de um cadáver podre. Também em Portugal a serpente tenta chocar seu ovo, e é preciso que os portugueses fiquem atentos a isto, enquanto respirar ainda é possível.
Viegas Fernandes da Costa é Historiador com Mestrado em Desenvolvimento Regional e Professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Santa Catarina (IF-SC).
A opinião do/a autor/a não necessariamente representa a opinião de Desacato.info.
Há um problema de edição no artigo que deixa um enorme espaço em branco após o primeiro parágrafo do artigo.
Sim, obrigada. O Google nos está fazendo esse problema por causa do AdSense.