Sou comunista: “Só a luta de classes é capaz de frear os estragos da lógica privada no setor público”

João Paulo
Por Rosangela Bion de Assis.
Foto: Marcela Cornelli
Na manhã que conversamos, João Paulo Silvano Silvestre completava 22 anos. Dia 27 de março, por três horas, tomando café e água, na Biblioteca do Sindprevs/SC, ele me falou da atuação no movimento estudantil, social e sindical, expôs pensamentos já construídos e outros em fase de elaboração. Não sentimos o tempo passar relembrando manifestações e atos e nos identificamos na vontade de questionar o que está posto e de construir um mundo bem diferente, sem opressores, nem oprimidos.
Servidor da Previdência Social de Sombrio, João Paulo era Diretor de Base e na Assembleia Estadual de 27 de março, dia do seu aniversário, foi eleito para recompor um cargo na Direção Executiva do Sindprevs/SC. Ele me conta que o fato que lhe despertou o desejo de atuar politicamente nos movimentos aconteceu em 2008, acompanhando a mãe, Jucemar Silvano, numa manifestação dos Servidores Públicos, em Brasília, seguindo a passeata, ouvindo as intervenções das lideranças e sentindo a energia dos trabalhadores. Com 15 anos, João soube qual era seu lado na luta de classes.
Prioridades questionadas
Aluno da primeira turma de Geologia da UFSC, João Paulo foi com outros alunos se informar sobre a criação do Centro Acadêmico do curso no DCE (Diretório Central dos Estudantes). Lá, encontrou estudantes reunidos organizando o protesto que, em 25 de março de 2010, questionou o reitor Álvaro Prata pelo gasto de R$ 171 mil para revitalizar um lago e inaugurar a obra Boitatá Incandescente, do artista Laércio Luiz; enquanto os estudantes sofriam com a falta de professores, salas precárias, falta de recursos para a reforma do Restaurante e da Moradia Universitária. João foi um dos 50 estudantes que pularam no lago para que a Reitoria repensasse suas prioridades de investimento. Nesse ano, ele se assumiu comunista.
Fotos e filmagens daquele dia, assim como todas as outras imagens da sua vida, estão na Internet. A cada relato, uma pesquisa na nuvem nos dava acesso ao seu álbum virtual.
Foi em 2010 também, que João Paulo começou a participar das reuniões do Movimento Passe Livre (MPL). Sua mãe, a Nega, o identificou na TV, no Ato em frente à Cotisa (Companhia Operadora de Terminais de Integração), contra o aumento da tarifa. Nessa época, os conhecimentos de quase oito anos de Curso de Teatro e na banda de punk rock foram úteis nas intervenções artísticas no Ticen (Terminal de Integração do Centro). Dentro e fora do ônibus, vestido ou não de palhaço, cantando e dialogando com crianças e trabalhadores, o MPL semeava a indignação contra um sistema caro, desintegrado, sem qualidade e reunia até oito mil nas manifestações.
João Paulo venceu as eleições para a direção do DCE, na chapa Rosa dos Ventos, em 2011. Uma das experiências mais marcantes desse ano foi participar do Seminário Nacional de Educação, em Uberlândia, onde se dedicou intensamente a entender como pensavam e atuavam os diversos grupos políticos. Em 2011, ele estudou a dependência tecnológica, a Teoria da Dependência, debateu como a universidade pública reproduzia, com seu conteúdo, pesquisas e estrutura, os interesses privados. Também foi nesse ano que João integrou a comissão que organizou o Ufsctock e participou da ocupação da Reitoria pelo não corte de vagas no curso de Economia, pela  abertura de diálogo por parte do governo federal e pelo aumento do valor da Bolsa Permanência.
Empoderando o povo
Após me indicar a leitura da coleção Pátria Grande, do IELA (Instituto Estudos Latino-Americanos), Biblioteca do Pensamento Crítico Latino-Americano, em especial, o livro “Subdesenvolvimento e revolução”, de Ruy Mauro Marini, João  Paulo contou que, no final de 2011, entrou para as Brigadas Populares. Movimento de contra reforma urbana que atua em várias frentes nacionais, defendendo as bandeiras dos movimentos sociais e empoderando o povo subalterno e oprimido da periferia.
Em 2013, ele entrou para a Previdência Social, e passou a viver a lógica produtivista, que não oferece as condições necessárias para o servidor atender a população com qualidade, mas transfere a culpa para o trabalhador, dividindo a classe; que pune com a possibilidade de corte de salário e de suspensão da jornada de 6 horas. João tem alertado nas assembleias e reuniões nos locais de trabalho: já funcionamos na lógica privada, só falta terceirizar tudo.
Para o mais novo membro da Direção do Sindprevs/SC, os servidores possuem fortes motivos para deflagrar uma greve nacional. “Só a luta de classes é capaz de frear os estragos da lógica privada no setor público”. “Se não tiver resposta popular, o Estado fará o que interessa somente aos interesses da burguesia, porque o Estado burguês explora uma classe em detrimento de outra”.
João me fez lembrar aqueles que lutaram pela manutenção e qualidade dos serviços públicos, nas décadas de 80 e 90. Eram tão jovens e corajosos quando fundaram o Sindprevs/SC e a Fenasps e organizaram as maiores greves da história de lutas dos servidores do INSS, Ministério da Saúde e Anvisa.
Naquela manhã de março, João Paula estava a caminho de Brasília para participar da Jornada de Lutas dos SPFs.

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