Coordenação dos Núcleos Comunistas.
As respectivas vitórias do Partido Trabalhista, na Grã-Bretanha, e da Nova Frente Popular, na França, devem ser entendidas como um imenso voto de rejeição popular aos governos que, em meio a uma crise gigantesca, executaram as mais duras políticas sobre a classe trabalhadora como representantes diretos da grande burguesia imperialista. Nesse sentido, os resultados das eleições são a continuação, em termos nacionais, do que aconteceu nas recentes eleições europeias, nas quais a alta taxa de abstenção refletiu um alto grau de inquietação social.
Em ambos os países, como no restante da UE e certamente no Estado espanhol, a degradação das condições de vida da classe trabalhadora é enorme e sem qualquer perspectiva de melhora. No contexto da crise geral do capitalismo que se intensifica progressivamente, o confinamento e o fechamento da economia impostos durante a pandemia aceleraram o colapso de economias que mal haviam se recuperado da crise de 2008/2009. A isso se somam as decisões estritamente políticas, como o cancelamento do comércio com a Rússia e o aumento das taxas de juros, que fizeram os preços dispararem e acabaram por afundar milhares de empresas.
Os resultados são devastadores
Na Grã-Bretanha, milhões de trabalhadores que perderam seus empregos ou recebem salários de fome estão recorrendo a bancos de alimentos e não conseguem aquecer suas casas no inverno. A deterioração dos serviços públicos é imensa como resultado dos cortes e da privatização, especialmente grave no NHS (Serviço Nacional de Saúde) que, até a década de 1980, era o exemplo dos serviços de saúde na Europa Ocidental. As grandes greves que sacudiram o país não serviram para reverter a situação, embora tenham demonstrado o alto grau de indignação social. O voto majoritário no Partido Trabalhista, que tem sido apoiado por importantes setores empresariais e grandes veículos de mídia conservadores, como o tabloide Sun, de propriedade de Robert Murdoch, e que tem apenas vagas promessas de “mudança” em seu programa, serviu para canalizar um barril de pólvora de exasperação social que não tem chance de ser resolvido.
Na França, a situação social é, se possível, mais grave. Os números são impressionantes: mais da metade dos franceses não consegue pagar as despesas médicas e de energia ou comprar frutas e legumes; um terço é obrigado a pular uma ou até duas refeições por dia; quase um quarto das crianças vive na pobreza e na exclusão social. As mobilizações populares maciças e as greves dos trabalhadores – contra o aumento dos combustíveis em 2022, contra a reforma da previdência, pelo assassinato de um adolescente pela polícia ou pelos recentes protestos dos agricultores, entre outros – abalaram o país a ponto de ameaçar a derrubada do governo, usando métodos poderosos de luta que não eram vistos há décadas.
A vitoriosa Nova Frente Popular é composta por um conjunto heterogêneo de organizações, incluindo o Partido Socialista, penetrado até o âmago pelo sionismo e diretamente responsável pela ascensão de Le Pen. Seu programa, caso consiga governar, contém um conjunto de medidas sociais e melhorias nos serviços públicos que, sem nenhuma proposta para reverter as privatizações ou para enfrentar o plano de austeridade que o BCE e o FMI pretendem impor, parecem mais uma coleção incoerente de bons desejos. Além disso, diante de uma UE que propõe esvaziar os Estados de suas competências e que tem uma configuração radicalmente antidemocrática, que o povo francês rejeitou por maioria no referendo sobre a Constituição Europeia, a Nova Frente Popular nem sequer questiona sua estrutura de poder.
Tampouco há uma única menção à escalada belicista da UE, à sua subjugação aos EUA por meio da OTAN ou ao aumento desproporcional dos gastos militares, particularmente significativos em um país tradicionalmente cioso de sua soberania e em uma força política que buscou se opor a um Macron determinado a levar a França à guerra com a Rússia.
Sem dúvida, sua proposta concreta de revogar a criminosa Lei de Emigração aprovada em janeiro deste ano e o apoio à luta do povo palestino expresso claramente por Mélenchon, juntamente com o “No Pasarán” que alimentou o sentimento antifascista do povo francês, foram decisivos para uma mobilização de votos que nunca havia ocorrido nas eleições europeias, nem no primeiro turno.
Em resumo, em ambos os casos, o voto foi um instrumento para destituir os governos anteriores e, no caso francês, uma expressão de um profundo sentimento antifascista popular, uma espécie de freio de emergência contra a ameaça da direita mais recalcitrante, mas pouco mais. A Nova Frente Popular se parece muito com a salada colorida que caracteriza a velha/nova social-democracia pós-moderna e, assim como ela – como o Syriza fez na Grécia – não só não tem vontade nem capacidade de resolver os problemas, mas pode enfraquecer ainda mais a classe trabalhadora.
Os grandes problemas continuarão a se agravar em meio a uma grande instabilidade política, seja com a previsível aliança entre o Macronismo e Le Pen ou com um governo da Nova Frente Popular sem maioria parlamentar.
Por enquanto, ganhou-se tempo diante da mão de ferro com que, seja por meio de uma nova “pandemia”, “crise climática” ou guerra direta, a burguesia se prepara para enfrentar suas próprias contradições e o aumento da mobilização popular provocado pela crise. E esse tempo, esse tipo de extensão, deve ser usado pela classe trabalhadora, na França, na Grã-Bretanha e em todos os países, para avançar na construção de uma poderosa organização de classe, comunista, capaz de organizar a força necessária para derrotar os planos criminosos da oligarquia imperialista.
Traduçao: TFG, para Desacato.info.
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