Por
O editor do DCM (Diário do Centro do Mundo), Kiko Nogueira, foi ameaçado de morte por um seguidor de Jair Bolsonaro. Deixando de lado o grau de probabilidade de que algo grave venha de fato ocorrer, qual a relação entre a insanidade de um cidadão e a ‘autoridade’ que o representa politicamente? É total e plena, basta olhar para os Estados Unidos.
A Ku Klux Klan não estava extinta e a estátua em homenagem ao líder confederado Robert Lee está de pé desde 1924. A novidade é Donald Trump. É o fato de ele estar no poder que dá coragem para esses grupos ficarem mais mais violentos e lunáticos como James Alex Fields Jr fazer o que fez em Charlottesville.
É Trump que, com seus discursos, fomenta o ódio. Ainda na semana passada, num evento em Phoenix (Arizona), incitou seus eleitores a atacarem a imprensa. Acusou a mídia de manipuladora, de criar ‘fake news’ para prejudicá-lo e classificou jornalistas como ‘pessoas desonestas, ruins, que não amam o país’. Portanto não nos espantemos se em breve algum repórter for seriamente ameaçado ou agredido – ou coisa pior – na terra do tio Sam, porque Donald Trump provoca isso.
É exatamente o que ocorre quando damos espaço e voz para um político do calibre de Bolsonaro. É ele que com seu discurso de ódio incita pessoas como o tal Almanakut que ameaçou Kiko Nogueira a arregaçarem as mangas e colocarem a mão na massa, a praticarem linchamentos. É Bolsonaro quem afirma reiteradas vezes que “haitianos, senegaleses, bolivianos e sírios, a escória do mundo está chegando ao Brasil” quando se refere a imigrantes. E daí somos obrigados a testemunhar o que vimos recentemente em plena avenida Paulista com palestinos sendo agredidos por neofascistas. Representados, malucos de plantão sentem-se autorizados a sair com tacos de beisebol nas mãos agredindo tudo e todos que considerem a ‘escória do mundo’.
É Bolsonaro, com suas homenagens a torturadores, com sua apologia armamentista, com sua postura abjeta e incivilizada, quem banaliza algo hediondo como o estupro. E não será uma indenização de R$ 10 mil para a deputada Maria do Rosário que irá contê-lo.
Como já alertados pela Doutora em Filosofia Marcia Tiburi, vivemos tempos fascistas e o objetivo do fascista é aniquilar seu ‘inimigo’. Pela força, não pelo argumento. É sintomático que nos dias atuais vejamos a polícia adotar uma conduta descaradamente calcada na desigualdade de tratamento e ‘oficializar’ que, sim, a abordagem nos ‘Jardins’ e bairros ricos deve ser uma e a praticada nas periferias outra, como disse o tenente-coronel Ricardo Augusto Nascimento de Mello Araújo, novo comandante da Rota. Cabe aqui novamente a pergunta feita no início deste texto. Qual a novidade nisso? Nenhuma, sempre foi assim. A diferença é que hoje ele se sente à vontade para assumir isso publicamente nos microfones.
Por essas razões uma ameaça como a recebida pelo DCM não pode ficar barato. O autor tem que ser (e será) processado criminalmente, pagar pelo que fez. E ser vigiado daqui pra frente pois quem ameaça nem sempre o faz por brincadeira. Cão que late também morde. Mas a figura pública que encarna essa violência toda e legitima a histeria de massa que origina atos brutais e bárbaros também precisa ser responsabilizada por isso. Precisa ser colocado em sua conta pois ele tem responsabilidade muito grande ao induzir pessoas a fazerem justiça com as próprias mãos.
Vivemos tempos fascistas e polarizados e se nada for feito veremos isso aqui piorar ainda mais.