Riscos e oportunidades das transformações tecnológicas. Por José Álvaro Cardoso.

Por José Álvaro Cardoso.

Como aconteceu com todas as tecnologias, a inteligência artificial (IA) deverá aumentar o desemprego, na medida em que os novos recursos tornarão uma parte do trabalho humano, supérfluo. É conhecido que, para determinados tipos de trabalhos, as máquinas substituem o trabalho humano, com grande superioridade e eficácia. Por exemplo, na pesquisa aeroespacial, qual seria o sentido de se calcular as rotas dos foguetes de forma manual, se a IA realiza esse tipo de trabalho com extrema rapidez e eficiência quando comparado com o trabalho humano? Há pesquisas que indicam que máquinas podem ser mais eficientes que humanos na identificação do câncer, com elevadíssimo nível de precisão. As máquinas atualmente já são capazes de traduzir uma grande quantidade de textos de forma muito rápida, fazendo o serviço mais grosso da tradução, que antes era todo desempenhado por seres humanos. Nesta área o trabalhador redefiniu suas funções, passando à revisão, análise e correção dos erros.

O desemprego tecnológico é uma inegável realidade. No capitalismo esse problema não tem solução definitiva, apenas parcial, porque a produção não visa resolver os problemas da maioria, e sim o da minoria, ou seja, gerar lucros para os capitalistas. Mas, é certo que com a IA, a eliminação do emprego é parcialmente compensada com a geração de empregos em novas tarefas, que vão sendo criadas. Por exemplo, a IA já gerou empregos como o de analista de otimização (profissionais de diversas áreas que trabalham na otimização dos softwares de IA) e de outros vários setores.

Talvez seja possível dividir o mundo, no que se refere à tecnologia, em três grupos de países (grosso modo): 1º. Os que produzem tecnologia; 2º.aqueles que consomem tecnologia; 3º.aqueles que não produzem e nem consomem tecnologia. Os que produzem, claro, são os países imperialistas. Além destes, também alguns países que apesar de não serem ricos e nem imperialistas, produzem tecnologia porque têm projeto nacional de desenvolvimento. É o caso da China, por exemplo, que apesar de ser um país ainda subdesenvolvido (em processo de desenvolvimento), investe grandemente na área de tecnologia. A Rússia pode também ser mencionada aqui, pois, apesar de ser um país atrasado, é uma potência militar (por razões históricas e geopolíticas). O desenvolvimento da eficiência na guerra (que inegavelmente a Rússia tem, como se pode ver na Ucrânia) requer investimentos permanentes em inovação e tecnologia. No caso russo, talvez muito concentrado na tecnologia de guerra.

O Brasil também é um país subdesenvolvido, mas com áreas importantes de desenvolvimento tecnológico. Por exemplo, a própria extração do petróleo em águas profundas e ultra profundas, na qual a Petrobrás tem reconhecida excelência, requer sofisticada tecnologia. É possível imaginar a dificuldade que é extrair petróleo a 7.000 metros abaixo do mar, na camada localizada antes do sal. Nesse trabalho é utilizada a inteligência artificial, mais especificamente uma nova tecnologia computacional, que mistura física e inteligência artificial, desenvolvida por pesquisadores da Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo (EESC-USP). A perspectiva dos especialistas é que essa tecnologia irá gerar uma grande economia nos custos de extração de petróleo dos poços do pré-sal e proporcionar maior segurança aos procedimentos realizados nas plataformas, diminuindo o risco de acidentes ambientais nas refinarias e minimizando a emissão de gás carbônico na atmosfera.

Outro dado que revela que o Brasil conseguiu furar um pouco a barreira da exclusão tecnológica, imposta aos países subdesenvolvidos: de acordo com a World Nuclear Association (Associação Nuclear Mundial), apenas 13 países possuem instalações de enriquecimento de urânio com diferentes capacidades industriais de produção: França, Alemanha, Holanda, Reino Unido, Estados Unidos, China, Rússia, Japão, Argentina, Índia, Paquistão, Irã e Brasil. O enriquecimento de urânio é necessário para que o mineral seja usado como fonte geradora de energia, já que o minério extraído da natureza tem um teor de 0,7% de urânio-235. Para que possa gerar energia elétrica, o urânio precisa ser enriquecido. A concentração ideal para geração de energia fica entre 3% e 5%. O urânio utilizado nas usinas de Angra 1 e 2, as duas únicas usinas nucleares do país, em Angra dos Reis (RJ) usa a tecnologia de ultracentrifugação, considerada a mais eficiente, por gastar menos energia.

As profissões que envolvem habilidades mais complexas e criativas estão menos propensas a serem substituídas, já que a IA, pelo menos por enquanto, não consegue reproduzir qualidades inerentemente humanas, como pensamento crítico, inteligência emocional, entre outras. Estamos apenas começando a pensar sobre esse tema: o impacto da inteligência artificial no mercado de trabalho, e nas outras dimensões da nossa vida, certamente irá requerer muita reflexão nos próximos anos.

Na área de ciência dos dados: a IA está transformando a forma como os cientistas de dados lidam com grandes volumes de informações e realizam análises complexas. Com a ajuda de algoritmos de aprendizado de máquina, por exemplo, os cientistas podem descobrir padrões ocultos nos dados, acelerando o processo de tomada de decisão. São inúmeras as aplicações da IA. Ela pode ser usada para classificar automaticamente grandes volumes de dados, identificar correlações complexas e prever tendências futuras com maior precisão.

Em todas essas profissões, a IA está sendo utilizada como uma ferramenta para otimizar o trabalho e impulsionar a produtividade. É importante destacar que a IA não substitui completamente os profissionais, mas os auxilia com recursos avançados para lidar com desafios complexos e tomar decisões mais eficientes. Aos trabalhadores e suas organizações cabe conhecer o assunto, debatê-lo profundamente, e se preparar para evitar ao máximo, prejuízos para os trabalhadores e lutar para que os ganhos de produtividade da IA impliquem em melhoria de vida e de salários para a maioria da sociedade.

O desenvolvimento das forças produtivas deve ser encarado como possibilidade concreta de avanços das lutas dos trabalhadores. Neste momento, por exemplo, ao invés de ficarmos dependentes de algumas análises acerca do impacto da inteligência artificial sobre o trabalho, deveríamos estar organizando uma grande campanha pela redução da jornada de trabalho no Brasil. A redução da jornada, que é perfeitamente viável do ponto de vista técnico, representa uma proposta direta de beneficiamento de toda a sociedade partir da revolução técnico-científico em curso.

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