A crise estrutural do capitalismo II
Por Douglas F. Kovaleski, para Desacato. info.
No texto dessa semana, sigo falando da crise estrutural do capitalismo e suas consequências para a vida da classe trabalhadora, que de fato é o que mais no interessa. Pois os trabalhadores além de sofrerem os golpes do capitalismo, precisam entender pormenorizadamente o processo de exploração ao qual estão subjugados para lutarem melhor contra o sistema que oprime.
O capitalismo caminha no sentido da redução gradual do valor das mercadorias como essência primeira da crise, situação que presencia e deve presenciar com frequência cada vez maior as precipitações sociais em um processo contínuo. Entretanto, os repertórios utilizados pelo capital para resistir a essa situação são extremamente bem articulados, por isso precisamos conhecer melhor dois deles: o primeiro preocupa-se com estancar o problema de ordem econômica, segundo Mészaros, o capital atua com uma taxa decrescente do valor de uso das mercadorias, o que descola o valor de troca do valor de uso, ou seja, o consumo é estimulado a todo o custo, mesmo que os produtos não venham a ser sequer consumidos, ou sejam muito pouco consumidos; o segundo repertório de contenção da tendência de crise do capitalismo atua na organização societária subjacente, no modelo fabril de exploração, esse último repertório refere-se à substituição do fordismo/taylorismo pelo toyotismo.
Leia mais: A crise estrutural do capitalismo, parte I.
Quando a utilização das mercadorias é reduzida, obviamente com auxílio de campanhas midiáticas e da reprodução de valores consumistas, concorrenciais e individualistas, deve-se perceber o trabalho realizado nas profundezas da subjetividade humana. Com indivíduos que passam, por exemplo, a colecionar itens que jamais utilizarão, ou comprar enlouquecidamente coisas que já possuem. Parece cena de um hospício, mas trata-se da realidade imposta pelo capitalismo, que muda os termos do consumo, antes como realização das necessidades humanas para uma outra coisa qualquer como uma espécie de estocagem patológica de itens sem razão alguma. Fato esse que atinge frequência considerável nos dias de hoje, mas um trabalho ideológico que deve ser compreendido e pautado diariamente para ser combatido.
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Na mesma vertente da subjetividade, o toyotismo avança como um novo evangelho dos capitalistas que passam a chamar seus empregados de colaboradores e a convencê-los de que precisam lutar pela causa da empresa. Os trabalhadores com os direitos cada vez mais reduzidos são coagidos a repetirem mantras do trabalho em equipe, do empreendedorismo e da eficiência como se fossem seus.
E o mais grave é constatar que várias gerações de trabalhadores conseguiram perceber essa armadilha e olhar criticamente para as táticas patronais, mas aos poucos essa está se tornando a ideologia dominante, aquela apoiada no empreendedorismo de si, no consumo como realização humana, aspectos que ajudam a entender o ascenso da direita no Brasil e no mundo. Isso tudo que trago à tona não isenta a própria classe trabalhadora das lacunas deixadas quando não trabalhou formação política de base.
Para concluir esse breve texto, quero sintetizar no toyotismo e na disjunção entre valor de uso e valor de troca nas duas armas ideológicas mais poderosas operadas pelo capital. Contra elas nos resta o estudo e a consciência do que realmente nós precisamos para viver.
Douglas Francisco Kovaleski é professor da Universidade Federal de Santa Catarina na área de Saúde Coletiva e militante dos movimentos sociais.
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