Lava Jato nunca teve nada a ver com combate à corrupção: o caso do vice-almirante Othon Silva
Novos diálogos do The Intercept Brasil, divulgados pela Revista Veja de 05.07.19, mostram que a prisão do almirante Othon Luiz Pinheiro da Silva, foi também tramada entre Sérgio Moro e os procuradores da Lava Jato. Estes diálogos, juntamente com vários outros, são simplesmente aterradores, e fundamentais para, mais uma vez, desmascarar o caráter golpista e entreguista da operação Lava Jato. Revelando que essa operação foi armada lá fora, ou seja é uma ação do imperialismo.
Nessa esteira um dos acontecimentos mais impressionantes dos últimos anos foi a prisão do vice-almirante e engenheiro Othon Luiz Pinheiro da Silva, ainda em 2015, principal responsável pelas maiores conquistas históricas na área de tecnologia nuclear no Brasil. Passados alguns anos do golpe (que começou a ser articulado bem antes de 2016), à medida em que o quebra-cabeças vai sendo montado e informações – cada vez mais impressionantes – vão surgindo, fica claro que um dos alvos do golpe foi a tentativa de sabotar os esforços do Brasil para forjar sua soberania energética, pré-requisito para o desenvolvimento econômico-social e para a condição de figurar entre as grandes potências.
Entre as razões do envolvimento estrangeiro no golpe, como se sabe, está o interesse na ampliação do acesso às matérias primas existentes no Brasil. Apesar do interesse nas reservas do Pré-sal ter sido central no golpe, não se trata apenas de petróleo. Água, minerais em geral e toda a biodiversidade da Amazônia estão em jogo. Por isso, também, é uma investida sobre toda a América do Sul, mesmo porque algumas questões, como o acesso ao Aquífero Guarani, não se resolvem no âmbito de um só país. O almirante Othon, segundo especialistas da área, concebeu o programa do submarino nuclear brasileiro e foi o principal responsável pela conquista da independência na tecnologia do ciclo de combustível, que colocou o Brasil em posição de destaque na matéria, no mundo. O militar, que recebeu todas as honrarias possíveis das Forças Armadas Brasileiras, é considerado um patriota e herói brasileiro. A história irá nos esclarecer ainda muita coisa, pois o processo golpista ainda está ocorrendo, e muitos detalhes ainda irão surgir. Mas, já dizíamos em 2015, que a alegação dos conspiradores da Lava Jato, da hipótese de corrupção não combinava com a destacada biografia do almirante Othon, em prol da soberania energética do Brasil.
Para entender o caso do almirante Othon (que inclusive tentou o suicídio na cadeia) é fundamental considerar que a Lava Jato utiliza a seu favor, dentre outras coisas, a desconstrução, via meios de comunicação, da reputação dos seus acusados. Isso ocorreu com inúmeros casos, desde o início da Operação. É só ver o que fizeram com a reputação do ex-presidente Lula, condenado sem provas. Agora se pode ver com certeza absoluta, através dos diálogos publicados pelo site The Intercept Brasil, que as armas usadas contra os réus, sempre as mais sórdidas possíveis, eram um jogo combinado entre Sérgio Moro e os procuradores, o que é absolutamente ilegal. Valia tudo para atingir os objetivos: acusações frívolas, plantação permanente de informações negativas na mídia, desmoralização, acusação ou insinuação de que o acusado é imoral, etc. A estratégia principal sempre foi: desconstruir até o limite a imagem do acusado, a população passa a apoiar a prisão, mesmo que inadequada e passando por cima de direitos constitucionais básicos, como a presunção de inocência. Esse tipo de comportamento teve sempre a aquiescência do Judiciário, quando não o apoio explícito.
O Brasil, com a liderança e experiência do vice-almirante, vinha desenvolvendo um programa nuclear muito bem-sucedido com tecnologia de ponta, e isso incomodou o imperialismo norte-americano, que não admite que outros países dominem esse tipo de tecnologia, especialmente no continente americano. Segundo o jornalista José Carlos de Assis, os estadunidenses tentaram interferir, saber de detalhes, e o Brasil se recusou a passar informações sobre a tecnologia utilizada. Conforme muitas indicações o programa nuclear brasileiro foi objeto de espionagem por parte dos norte-americanos, que esperaram a melhor hora para inviabilizar a sua continuidade.
O golpe de Estado em andamento, além do aspecto de apropriação das riquezas naturais do Brasil, e de suas estatais estratégicas, teve o componente geopolítico essencial de impedir que o país se torne uma potência regional, com tecnologia, indústria desenvolvida, mercado consumidor amplo e soberania energética. Fatiar a Petrobrás, inviabilizar o programa nuclear brasileiro, torpedear outras iniciativas de soberania, e destruir setores econômicos que concorriam com as empresas estadunidenses (como a construção civil) são momentos chaves deste script terrivelmente perverso.
Mas está claro que não foram ineptos procuradores golpistas, ou um juiz medíocre de primeira instância – ambos os grupos em busca de fama e dinheiro e movidos por uma ideologia de cachorro vira latas – que destruíram, sozinhos, o setor de engenharia nacional e colocaram o almirante Othon na cadeia. Assim como não foram os operadores visíveis da Lava Jato que colocaram na cadeia, cometendo as maiores atrocidades legais, alguns dos maiores capitalistas do país, proprietários de empresas que investiam em todos os continentes. Só tem um poder que está acima desse, que é o imperialismo norte-americano. A capacidade de articular interesses, o financiamento e as técnicas fornecidas pelo imperialismo foram essenciais para o sucesso do golpe, que continua em desenvolvimento.
José Álvaro Cardoso é economista e supervisor técnico do DIEESE em Santa Catarina
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