Rede substituirá PSDB como líder do conservadorismo?

O apoio de Marina Silva a Aécio Neves no segundo turno das eleições presidenciais de 2014 e a grande conexão simbólica de Marina com a Rede, como sua principal líder e fundadora, indicam que este novo partido se encaminha para substituir o PSDB na liderança do conservadorismo, liderança esta desgastada por 4 eleições presidenciais seguidas perdidas e sem perspectiva de superar eleitoralmente Lula ou Haddad

Por Nicolas Chernavsky, CulturaPolítica.info.

A reeleição de Dilma Rousseff levou o progressismo a 16 anos seguidos (se não houver impeachment) no poder no Brasil, com perspectivas claras de continuidade pela possibilidade de candidatura presidencial de Lula em 2018. Já é o ciclo progressista mais longo há muitas décadas no Brasil. De 1950 a 1964 (14 anos), o Brasil também teve um ciclo progressista. Também houve outros solavancos progressistas, mais curtos, como de 1930 a 1937. O que está acontecendo agora não é um solavanco nem um ciclo curto, mas uma permanência de médio e longo prazo do progressismo no poder. Isso mostra que o Brasil passou a outro patamar civilizatório, como comprovam os dados sobre redução da fome, da miséria, da pobreza, da mortalidade infantil e uma infinidade de indicadores sociais. Assim, a política também está passando para uma outra fase. Que fase é essa?

De 1994 a 2014, houve 6 eleições presidenciais, todas polarizadas entre o PT, liderando o progressismo, e o PSDB, liderando o conservadorismo. As 2 primeiras foram vencidas pelo conservadorismo, e as 4 últimas, pelo progressismo. Assim, o conservadorismo brasileiro está fazendo uma rediscussão sobre a eficiência de seu partido líder, o PSDB, quanto à capacidade de conduzir o conservadorismo de volta ao poder. Nesse sentido, se o conservadorismo apostar na continuidade do PSDB como seu partido líder, as perspectivas lhe são desfavoráveis, porque após os 16 anos de progressismo completados com o segundo mandato de Dilma, é muito provável que venham mais 4 anos de mandato de Lula. Se não for proibida a reeleição, é bem provável que sejam 8 anos de mandato para Lula, totalizando 24 anos seguidos de progressismo no Brasil. Sem contar que há um político do PT com um enorme potencial eleitoral administrando a prefeitura de São Paulo, Fernando Haddad. Do ponto de vista do conservadorismo, se mantidas eleições democráticas, a perspectiva é desoladora com o PSDB liderando-o. Seja com Alckmin, Serra ou Aécio (ou qualquer outra pessoa do PSDB), a perspectiva de derrota para Lula ou Haddad é alta demais. E o risco para o conservadorismo também é alto demais: 3 décadas de governo progressista, levando o Brasil de ser um país pobre a ser um país de classe média. Esta é a revolução que está acontecendo desde 2003 no Brasil.

Se a liderança do PSDB aponta essa perspectiva desoladora para o conservadorismo, este precisa encontrar um novo partido líder. A Rede, de Marina Silva, se enquadra bastante satisfatoriamente nesta função. Em primeiro lugar, o desempenho eleitoral de Marina Silva foi razoável nas últimas duas eleições presidenciais, ficando em torno de 20% dos votos no primeiro turno. Em segundo lugar, Marina teve uma atitude importantíssima para o conservadorismo no segundo turno das últimas eleições presidenciais que foi apoiar Aécio Neves, o candidato do conservadorismo. Em terceiro lugar, Marina tem um discurso capaz de atrair o conservadorismo tanto de direita quanto de esquerda. A grosso modo, o que o PSDB foi em 1994, a Rede é hoje.

E do lado do progressismo, está havendo também uma reorganização da política? Sim. Já se iniciou um lento processo segundo o qual o PT vai se integrar a uma nova estrutura política progressista, a Frente Brasil Popular (FBP), que vai liderar o progressismo em lugar do PT. Diferentemente do PSDB, que seria derrotado pela Rede (processo natural do conservadorismo), o PT não seria derrotado pela FBP. Pelo contrário, o PT não só a integra como a está ajudando a nascer e se desenvolver, como é o caminho natural das estruturas progressistas, de ajudar as estruturas mais novas e mais modernas a se desenvolverem. Este processo de transferência do PT para a FBP deve durar aproximadamente entre 10 e 20 anos. A maior diferença entre o PT e a FBP é que esta não terá financiamento de pessoas jurídicas, e sim de pessoas físicas, o que está possibilitando que a massa popular e seus movimentos sociais participem dela, assim como se afastaram do PT quando o dinheiro das pessoas jurídicas começou a fluir para o partido.

Existe uma outra frente em formação, chamada Frente Povo sem Medo (FPSM). Com um componente relativamente forte de esquerda, esta frente, em seu manifesto, não utiliza a palavra “democracia”, e sim propõe um método decisório chamado de “método do consenso progressivo”. Objetivar o consenso é uma causa válida, mas a palavra “progressivo” já implica no óbvio, ou seja: não dá para haver consenso total em entidades com muitos participantes, e muito menos em entidades de massa. Dessa forma, o mecanismo democrático, com um voto por pessoa e decisões tomadas por maioria, ainda se faz necessário, mesmo se se busca o consenso. Assim, o manifesto da FPSM aparenta a preferência pelo “método do consenso progressivo” em comparação com o sistema democrático. A história do século XX mostra que também em movimentos com um componente de esquerda maior que o de direita pode haver rejeição à democracia e o apoio a sistemas políticos menos desenvolvidos. Assim, ainda não está claro o quanto o conservadorismo de esquerda é forte na FPSM, mas seu manifesto mostra que é consideravelmente influente dentro dela.

Até que ponto, nesse novo quadro político que está se formando para os próximos anos, a Rede poderá liderar o conservadorismo, e a FPSM poderá ficar no progressismo, é algo ainda um pouco indefinido, que deverá ficar cada vez mais claro. Dentro da Rede haverá uma disputa, como houve no PSDB em 1993 e 1994. Dentro da FPSM também haverá uma disputa, entre a defesa do sistema democrático e a tentativa de sistemas políticos que, tentando ir para a frente, vão para trás na história. Dessa forma, a Frente Brasil Popular (FBP) é a entidade que mais segurança nos dá, hoje em dia, de poder liderar o progressismo brasileiro vitorioso e continuar a Revolução Brasileira iniciada em 2003 por muitos anos, rumo ao futuro. Clique aqui para se tornar um colaborador financeiro do culturapolitica.info.

Foto: Rede Sustentabilidade.

Fonte: CulturaPolítica.info.

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