Congresso em Foco.- O ex-presidente Jair Bolsonaro chega ao final desta semana sob fogo cruzado. A quebra dos sigilos fiscal e bancário do ex-presidente e da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, decretada na noite dessa quinta-feira (17), foi o desfecho de um dia explosivo para Bolsonaro, com as acusações feitas contra ele pelo hacker Walter Delgatti em depoimento à CPMI dos Atos Golpistas. E mais: com a confirmação da defesa do tenente-coronel Mauro Cid, seu ex-ajudante de ordens, de que o militar vai confessar seus crimes e atribuí-los a Bolsonaro.
A quebra de sigilo foi autorizada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e se dá no âmbito da Operação Lucas 12:2. A Polícia Federal (PF) investiga se Bolsonaro e Michelle participaram de um esquema de venda ilegal de joias presenteadas ao presidente da República por delegações de outros países. De acordo com o Tribunal de Contas da União (TCU), estes presentes deveriam ser registrados no governo e pertencem à União, não ao ex-presidente.
A investigação da PF (saiba mais aqui) encontrou um esquema envolvendo aliados de Bolsonaro para 1) transportar as joias para fora do território nacional 2) vender ou leiloar os objetos em lojas especializadas nos Estados Unidos e 3) trazer para o Brasil os valores arrecadados.
A quebra de sigilo bancário e a confissão de Mauro Cid podem avançar a investigação, que busca determinar se as vendas foram feitas por determinação do ex-presidente. É o que diz Cezar Bitencourt, advogado do ex-ajudante de ordens, que informou à revista Veja que seu cliente vai responsabilizar Jair Bolsonaro em sua confissão. Segundo ele, Cid seguia ordens e o dinheiro das vendas “era do Bolsonaro”.
As declarações do hacker Walter Delgatti já se dão em outra frente de investigação, relacionada a ataques ao sistema democrático. Na CPI dos Atos Golpistas, Delgatti disse que o presidente pediu que ele assumisse a autoria de um suposto grampo telefônico contra o ministro Alexandre de Moraes e ajudasse a colocar em dúvida o sistema eleitoral – o que se daria pela confecção de um código-fonte falso para as urnas eletrônicas, diferente do oficial do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Em troca, o hacker receberia um indulto (perdão presidencial) nas investigações a que já respondia.
Delgatti também diz que invadiu o sistema virtual do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) a pedido da deputada Carla Zambelli (PL-RJ), aliada de Bolsonaro. Ela nega.
Com as investigações, a tendência é que o cerco vá se fechando sobre Bolsonaro nos próximos dias. O ex-presidente diz que o depoimento de Delgatti é “fantasia”. Segundo ele, houve um encontro com o hacker no Palácio da Alvorada, mas apenas para discutir a segurança do sistema eleitoral. “Mandei ele para o Ministério da Defesa para conversar com os técnicos”, disse o presidente em entrevista à rádio Jovem Pan.