Por Manoela de Borba, para Desacato.info.
O assassinato da vereadora do PSOL e ativista dos direitos humanos no Rio de Janeiro, Marielle Franco, e do motorista Anderson Pedro Gomes, não pode ser mais um nas estatísticas. Mulher negra da Favela da Maré, uma das maiores favelas do mundo, Marielle foi a quinta vereadora mais votada no Rio em 2016 e foi assassinada a tiros no Estado sob intervenção federal militar. “Precisamos gritar para que todos saibam o que está acontecendo em Acari nesse momento”, gritou Marielle no domingo, 11, ao denunciar os excessos do batalhão da PM na Favela de Acari. “O 41° Batalhão da Polícia Militar do Rio de Janeiro está aterrorizando e violentando moradores de Acari. Nessa semana dois jovens foram mortos e jogados em um valão. Hoje a polícia andou pelas ruas ameaçando os moradores. Acontece desde sempre e com a intervenção ficou ainda pior”, escreveu.
Eleita com 46 mil votos já em sua primeira disputa eleitoral, a voz potente e firme de Marielle sempre foi entoada para falar da vulnerabilidade social e econômica da mulher negra em nossa sociedade e em defesa do povo negro e periférico. Há duas semanas, a vereadora foi nomeada relatora da comissão que investiga a atuação das tropas na intervenção federal militar no Rio de Janeiro. Na semana passada, Marielle denunciou a violência policial em Acari. E ontem, 14, quando voltava de uma roda de conversa com dezenas de mulheres negras, seu carro foi emparelhado em uma região central do Rio do Janeiro e recebeu pelo menos nove disparos. Covardemente a silenciaram.
Marielle não foi morta apenas por ser mulher, negra, feminista e “cria da Maré”. O assassinato da vereadora engrossa as estatísticas de ativistas, militantes e lideranças de movimentos sociais assassinados desde o golpe de 2016 com a destituição da presidenta eleita Dilma Rousseff. Em 2016, segundo o Comitê Brasileiro de Defensoras e Defensores de Direitos Humanos, 66 ativistas foram mortos no Brasil, o equivalente a um defensor de direitos humanos assassinado a cada 5 dias. Neste primeiro trimestre de 2018, outros 7 líderes de movimentos sociais foram mortos. E esses assassinatos são costumeiramente ocultados pelo governo brasileiro. É o extermínio do Estado de Exceção que silencia as vozes dos que lutam.
Quantas marielles terão de morrer? Gritemos!!
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Manoela de Borba é jornalista e mestranda em jornalismo pela Universidad Nacional de La Plata (UNLP), Argentina.