Centenas de pessoas se reuniram na capital jordaniana, Amã, para protestar contra um acordo de água por energia entre a Jordânia e Israel.
O acordo, se implementado, seria um dos maiores projetos de cooperação desde que os países assinaram um acordo de paz há 27 anos.
Pelo acordo, a Jordânia receberá 200 milhões de metros cúbicos (7,06 bilhões de pés cúbicos) de água dessalinizada de Israel, em troca de 600 megawatts de eletricidade gerada por uma usina de energia solar financiada pelos Emirados Árabes Unidos na Jordânia.
Os jordanianos no protesto de sexta-feira rejeitaram o acordo, dizendo que ele caminhava no sentido de normalizar os laços com Israel enquanto continua a ocupar os territórios palestinos. Os oponentes também alertaram que o acordo forçaria a Jordânia a depender de seu vizinho.
A “declaração de intenções” do projeto foi assinada na segunda-feira em Dubai pelo ministro da Água da Jordânia, pelo ministro da Energia de Israel e pelo ministro da mudança climática dos Emirados Árabes Unidos, na presença do Enviado do Clima dos EUA, John Kerry.
Escassez de água
O acordo pretende atender à extrema necessidade de água da Jordânia e ao objetivo de Israel de expandir sua matriz de energia renovável.
Israel aumentou drasticamente sua capacidade de dessalinização de água e a Jordânia tem vastas áreas desérticas adequadas para fazendas de energia solar.
O porta-voz do Ministério da Água da Jordânia, Omar Salameh, disse em um comunicado que a ideia do projeto se origina da crescente demanda da Jordânia por recursos hídricos permanentes, exacerbada pelo crescimento da população do reino nos últimos anos.
A Jordânia é atualmente o segundo país com maior falta de água no mundo, de acordo com a UNICEF. Espera-se que seu suprimento de água per capita seja reduzido pela metade até o final do século, de acordo com um relatório recente do Laboratory News.
A visão do projeto originou-se em 2015 da EcoPeace Middle East, uma ONG ambiental regional.
Benefícios ambientais ou ganhos políticos?
“O acordo não é sobre água, é sobre uma decisão política”, são as manifestações desconfiadas de setores políticos e sociais jordanianos, que já testemunharam acordos hídricos com Israel fracassados. Para estes, o projeto não se justificaria pelas mudanças climáticas, mas pelo projeto político de normalização e aceitação da ocupação.
Os opositores do acordo defendem o fortalecimento estratégico da rede nacional de água, conscientização do público sobre a gestão da água e novos métodos de irrigação na Jordânia por não confiar em Israel.
Fala-se também nos riscos de usar uma grande quantidade de terras jordanianas para um projeto de energia solar, que não necessariamente beneficiam o país. A quantidade de água oferecida também é considerada pouca.
O financiamento do clima poderia ser usado para melhorar a capacidade de armazenamento de água do reino ou para construir o projeto de dessalinização do Mar Vermelho da Jordânia, conhecido como Projeto Nacional de Transporte de Água.
O Ministério de Águas da Jordânia anunciou planos para implementar o Projeto Nacional de Transporte de Água em 2021, que forneceria cerca de 300 milhões de metros cúbicos (10,6 bilhões de pés cúbicos) de água dessalinizada das margens do Mar Vermelho em Aqaba. No entanto, o projeto tem um custo estimado é muito alto.
O governo considera, no entanto que o toma-lá-dá-cá torna o acordo equitativo. A troca dá garantias de que se Israel, por qualquer razão política no futuro, decidir parar de fornecer gás ou água a Israel, então a Jordânia tem a vantagem para retribuir.
No entanto, outros questionam se 600 megawatts de eletricidade, de uma usina financiada pelos Emirados Árabes Unidos, realmente dariam à Jordânia essa vantagem.
Os Emirados Árabes Unidos e Israel assinaram os Acordos de Abraham em setembro de 2020, que solidificou sua cooperação econômica e desde então facilitou negócios de bilhões de dólares entre os dois países. Considera-se que a usina solar é financiada pelos Emirados justamente para apoiar a ocupação israelense.
Sobre a decisão dos Emirados Árabes Unidos de financiar a usina solar, ambientalistas avaliam que a “boa vontade” dos Emirados em ajudar a fornecer água para a Jordânia, poderia ser feita através do aumento da dessalinização em Aqaba, não na costa israelense.
Além disso, o Artigo 33 da Constituição da Jordânia, afirma que qualquer acordo que envolva compromissos financeiros com o Tesouro não é válido a menos que seja aprovado pela Assembleia Nacional. Nada chegou ao parlamento ainda.
Vários legisladores na quarta-feira pediram um debate público “urgente” para discutir o documento de declaração de intenções.
O ministro da Água da Jordânia, Mohammad al-Najjar, disse durante uma coletiva de imprensa que os estudos de viabilidade para o projeto de água para energia começarão em 2022.
Al-Najjar acrescentou que se o projeto for considerado viável eles “entrarão em negociações para assinar acordos e não assinarão nenhum acordo de forma alguma, até que o anunciemos ao Parlamento, notáveis, cidadãos e toda a imprensa e meios de comunicação”.
Com informações da Al Jazira