Vencedor do Prêmio Jabuti 2017 de melhor biografia, o historiador Luiz Bernardo Pericás lança uma nova edição, revista e ampliada, de Che Guevara e o debate econômico em Cuba. O livro analisa e interpreta o pensamento econômico guevariano, os debates surgidos em torno de suas ideias nos anos 1960, dentro e fora da ilha, e seu impacto nesse período crucial da história da Revolução Cubana.
A obra, como enfatiza o autor, não é um esboço biográfico, tampouco uma narrativa linear sobre os primeiros anos da Revolução Cubana, e se destaca em meio à bibliografia existente, na qual Guevara costuma ser visto mais como guerrilheiro heroico do que como formulador de diretrizes econômicas. O historiador destaca a importância do líder como principal debatedor e incentivador das discussões econômicas daquele período no governo cubano. “Devemos nos lembrar de que a análise de conjunturas históricas a partir de determinada personalidade propicia ao historiador fazer um estudo mais detalhado sobre o tema. […] O que tentamos fazer é, portanto, tomar o comandante argentino como centro desta investigação e, a partir dele, discutir uma série de questionamentos em torno do debate econômico em Cuba, assim como, de maneira mais ampla, no campo socialista.”
Claro, acessível, bem documentado e escrito em linguagem envolvente, o livro tem o mérito adicional de pôr as ideias de Che Guevara sobre a economia em seu contexto histórico, incluindo as mudanças radicais de seu pensamento – entre 1959 e 1965 – em relação à União Soviética e mesmo a Cuba. Pericás analisa as principais discussões sobre a industrialização da ilha e a gestão das empresas no período em questão, traçando um painel econômico rico a partir de dados estatísticos sobre o país. Para isso, recorreu tanto à bibliografia e a documentos do período mencionado quanto a publicações sobre o tema; e entrevistou estudiosos, especialistas em economia socialista e personalidades do governo cubano que participaram dos projetos de desenvolvimento no início daquele processo. A nova edição foi complementada com dados estatísticos apresentados por estudos historiográficos mais recentes.
Lançado originalmente em 2004, Che Guevara e o debate econômico em Cuba ganhou o Prêmio Ezequiel Martínez Estrada 2014, da Casa de las Américas, e foi publicado na Argentina, nos Estados Unidos e em Cuba. A nova edição brasileira contará com prefácio de Michael Löwy, posfácio de Luiz Alberto Moniz Bandeira, textos de capa de Jorge Grespan e Tirso W. Saenz.
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“O Che era um homem de pensamento integral e estratégico, convencido de que o desenvolvimento da consciência do ser humano, sua formação ideológica e moral são essenciais na construção da sociedade socialista. Seu pensamento econômico, assim como suas ações, era consequente com essas premissas. Como ministro de Indústrias em Cuba, desenvolveu ideias e instaurou métodos de direção e controle econômico como instrumentos tecnológicos em função dos objetivos socialistas. Ao mesmo tempo, indicou e previu os grandes perigos que poderiam advir caso não se seguisse por esses caminhos: previsão tornada realidade na derrocada do campo socialista. Neste excelente livro, o historiador e escritor Luiz Bernardo Pericás analisa e interpreta em profundidade o pensamento econômico do Che e os debates surgidos em torno dessas ideias dentro e fora de Cuba naquele momento, abrindo possibilidades para continuar esse debate – uma contribuição para o avanço do socialismo, particularmente neste momento de profundas transformações em Cuba.” – Tirso W. Saenz.
Ficha técnica
Título: Che Guevara e o debate econômico em Cuba
Autor: Luiz Bernardo Pericás
Prefácio: Michael Löwy
Posfácio: Luiz Alberto Moniz Bandeira
Orelha: Jorge Grespan
Quarta capa: Tirso W. Saenz
Páginas: 287
Preço: R$ 59,00
ISBN: 978-85-7559-637-1
Editora: Boitempo
Sobre o autor
Luiz Bernardo Pericás é professor de História Contemporânea da Universidade de São Paulo (USP), formado em História pela George Washington University, doutor em História Econômica pela USP e pós-doutor em Ciência Política pela Flacso (Facultad Latinoamericana de Ciencias Sociales/México), onde foi professor convidado, e pelo Instituto de Estudos Brasileiros (IEB/USP). Foi também visiting scholar na University of Texas at Austin e visiting fellow na Australian National University em Camberra.
É autor de vários livros, como o romance Cansaço, a longa estação (Boitempo, 2012; adaptado recentemente para o teatro); Os cangaceiros: ensaio de interpretação histórica (São Paulo, Boitempo, 2010/ Havana, Editorial Ciencias Sociales, 2014), que recebeu menção honrosa do Prêmio Casa de las Américas em 2012; e Caio Prado Júnior: uma biografia política (Boitempo, 2017), obra vencedora do prêmio Jabuti 2017 de melhor biografia.