Por que defender a Unila dos cafetões vira-latas e xenófobos da República?

unila 45

Por Elissandro Santana, Porto Seguro, para Desacato.info.

As razões para a defesa da Unila são muitas e, dentre elas, é possível apontar a principal: pela vertente da integração cultural latino-americana haverá uma identidade que possibilitará a intersecção de uma comunidade de nações e nisso reside o encontro de povos e culturas em um continente diverso.

Para avançar na discussão em baila, é oportuno pontuar que a Universidade Federal da Integração Latino-americana, criada durante a administração do governo Lula pela Lei nº 12189 de 12 de Janeiro de 2010, atende aos princípios da Constituição Federal de 1988, dado que no parágrafo único do Art. 4, a referida Carta Magna traz que a República Federativa do Brasil buscará a integração econômica, política e cultural dos povos da América Latina com vistas à formação de uma comunidade latino-americana de nações [1].

Infelizmente, em decorrência do alinhamento do Brasil atual com as perspectivas e pressupostos do neoliberalismo imperialista estadunidense, a Unila, por representar um caminho de encontro-união de povos em um continente historicamente dominado pelas arquiteturas mentais político-econômico-cultural-coloniais do pensar, desponta como uma ameaça à política golpista cafetã republicana, pois é um espaço para uma epistemologia própria no Sul e para o Sul, livre do Norte.

A prova cabal de que a Unila está sendo atacada pelo governo atual é a Medida Provisória nº 785 de 2017, uma emenda aditiva de autoria do Deputado Federal Sérgio Souza (PMDB / PR). No artigo 2 da referida medida, o governo temeroso, a partir de seus sequazes, busca desmantelar a universidade da integração, em uma tentativa de desvirtuar o objetivo constitucional da integração latino-americana ao mencionar que a nova instituição, UFOPR, terá como objetivo somente ministrar ensino superior, desenvolver pesquisa nas diversas áreas do conhecimento e promover a extensão universitária, com a missão institucional de formação técnica e porfissional de recursos humanos aptos a contribuirem para o desenvolvimento regional do oeste do Paraná integrado ao desenvolvimento nacional. Isso fere totalmente as diretrizes constitucionais que deram consusbtanciação à criação da Universidade Federal da Integração Latino-americana.

Esse ataque à Unila não pode sair vitorioso, pois a universidade em questão desempenha um papel importante para a construção e estabelecimento de uma identidade cultural latino-americana, como mencionado. Ademais, nunca se deve perder de vista que a formação de uma identidade latino-americana é essencial para a integração cultural, elemento-chave para outras integrações. Nessa linha de raciocínio, torna-se imprescindível destacar que o ataque à Unila vem carregado semiótico-semântico-semiologicamente da rechaça das políticas golpitas hodiernas às digitais dos dois últimos governos. Também cabe externar que a implementação da Unila possui relação direta com o contexto político minimamente progressista de Lula em relação ao ensino superior no Brasil, sendo assim, a tentativa de desmantelamento da Unila, bem mais que repulsa e apagamento das impressões de Lula rumo à integração latino-americana, é um retrocesso constitucional, dado que a Unila é uma diretriz constitucional.

Toda essa perseguição à Unila faz parte de um projeto político arvorado em princípios coloniais de dependência. Desta forma, atacando-se a Unila, a uma só vez, abala-se o projeto de integração a partir dos encontros culturais de irmãos latino-americanos em uma universidade de fronteira e se fragiliza o desejo de uma América Latina Unida.

Ainda é importante trazer à tona que a Unila possui a função de despertar novos olhares e perspectivas sobre a integração partindo do pressuposto de que a educação é elemento crucial para a libertação e formação de posturas mais crítico-educativo-político-latino-americanas.

Ademais, uma universidade com uma praxis pedagógica orientada para a integração possibilita aos atores sociais de aprendizagem e de ensino, que por ela transitam, a multiplicação das práticas e saberes integrativas decoloniais. Levando-se em consideração esta questão, é profícuo apoiar-se nas noções que apresentam os professores Fábio Borges e Victoria Darling, dois importantes docentes que pensam a integração latino-americana na Unila, que a diversidade de identidades que convive na fronteira ajuda-nos a enfrentar os desafios de um continente que segue dominado por elites e marcado pela desigualdade de oportunidades étnicas, raciais, de gênero e de condição da população. Todavia, a partir desses dois pensadores, tem-se que a paridade gera pluralidade de vozes e de compromissos, fenômeno que afeta as agendas de ensino, de pesquisa e de extensão gerando um impuslo rumo ao conhecimento a partir dos que estão embaixo, algo tão necessário para um continente marcado pela exclusão de maiorias, como, também, pelo colonialismo do “quer dizer, tradicionalmente eurocêntrico” [2].

À guisa de reiteração e considerações finais, pode-se dizer que nesta instituição universitária direcionada à integração cultural latino-americana na Fronteira Trinacional, a construção da integração ocorre para além da noção de Estado, ou seja, por meio da própria sociedade, a partir da construção da identidade cultural latino-americana nas práticas e saberes no próprio sul-mundo. Além disso, pela localização geopolítica de ensino-aprendizagem, a Unila possibilita o cruzamento de saberes latino-americanos na convergencia de povos para a constituição de novas identidades, dentre elas, a de ser, de fato, latino-americano, etapa fundamental para a integração. No mais, é triste saber que a maior parte do tecido social brasileiro, disperso, polarizado, não consegue elaborar leituras e análises político-históricas, caindo no campo simplista das análises conjunturais, do que está dado e posto pela mídia tradicional irresponsável. Esta crítica à incapacidade brasileira de análise para além da conjuntura dada é necessária, pois somente diante de um povo com memória e capacidade crítica será possível combater cafetões algozes vira-latas externos e xenófobos no plano interno para uma dimensão do papel da Unila para a nossa integração cultural latino-americana necessária.

Referências

  1. Constituição Federal do Brasil de 1988
  2. BORGES, Fábio; DARLING, Victoria. A Universidade Federal da Integração Latino-americana [Unila]: desafios epistemológicos em tempos de turbulência política. Revista Latinoamérica, Ano I, edição especial, novembro de 2016.

 

1 COMENTÁRIO

  1. É trágico mas era óbvio que isso fosse acontecer pois a pseudo-elite brasileira nunca conseguiu digerir as mudancas trazidas ao país na gestäo do PT. O Brasil se recusa a abandonar a estrutura social de casa-grande e senzala, no qual todos sabem a que classe estäo permitidos os privilégios. Quando as madames dos jardins, em Säo Paulo, passaram a importar babás das Filipinas (pra tratar literalmente como escravas), surgiram as “paneladas” nas sacadas dos prédios enquanto a presidenta se pronunciava em rede nacional. Para essa casta acostumada a explorar o próximo é impossível aceitar a juventude se capacitando e exigindo direitos e salários justos. O que essa direita que tomou o poder na marra no Brasil quer é o retrocesso das conquistas sociais, é a fome, é a desintegracäo latino-americana e cabe à juventude que ja sentiu o gostinho desse empoderamento crítico se lancar na luta e na resistência.

Deixe um comentário para Tatiana Bittencourt Cancelar resposta

Please enter your comment!
Please enter your name here


This site uses Akismet to reduce spam. Learn how your comment data is processed.