Por Afonso Bueno Junior.
– Servir e Proteger
No meu trajeto diário do trabalho para o terminal, me deparei hoje com uma cena revoltante.
Enquanto atravessava a faixa de pedestres, avistei um homem sendo algemado sobre o capô de uma viatura da PM-SC. Curioso que sou, me aproximei. Ao meu lado, um homem negro, alto, de chinelos nos pés e com um celular na mão, filmava tudo. O homem algemado insistia repetitivamente que alguém pegasse sua mochila, enquanto os policiais o jogavam dentro do porta malas como se fosse um saco de lixo. Alguém jogou a mochila logo em seguida. Fecharam o porta malas.
Um policial de óculos escuro se aproximou do homem que estava ao meu lado filmando, o agarrou pelo braço e mandou que entrasse na viatura: “Quer filmar, então vai junto pra testemunhar”.
O homem sem entender, simplesmente falou que não queria ir. O policial insistente, chamou um de seus coleguinhas de trabalho para ajudar e começaram a forçar o cara.
Enquanto isso, um outro rapaz negro se aproximou perguntando porque estavam fazendo aquilo com o seu irmão. Tentei explicar, mas o barulho das pessoas ao redor não permitiu que ele me ouvisse.
Revoltado fui até os policiais, que a essa hora já estavam algemando o cara. E pedi para que então também me levassem, afinal, duas testemunhas é melhor que uma. Logo após darem um tiro de borracha no rapaz algemado, deram a minha resposta: Spray de pimenta na cara.
A primeira coisa que vi quando desembaçou minha visão foi uma policial empurrando uma idosa, que só não se estatelou porque a multidão segurou.
Uma imigrante (acho que haitiana), surgiu bradando palavras em seu idioma. Num golpe súbito desarmou a policial e foram ao chão numa luta violenta. Os policiais começaram a espancar a mulher, como fizeram com os rapazes negros. O povo se revoltou, e foi pra cima: Mais spray de pimenta.
Um forte barulho de vidro se estilhaçando. Olhei e vi a janela da viatura quebrada, vi a sola do pé descalço daquele homem que estava filmando ao meu lado e foi algemado injustamente. Ele gritava lá de dentro. Se eu estava puto, imagina ele!
Enquanto isso, três marmanjos fardados e uma policial histérica lutavam contra a imigrante. O povo revoltado tentava se aproximar: Spray de pimenta. E além do spray, todos têm medo das balas de borracha.
Jogaram a imigrante no chão, com o rosto em cima dos cacos de vidro. Como se não bastasse tê-la imobilizado, começaram a enchê-la de chutes e cotoveladas.
Pedras começaram a voar. Óbvio que corri, não queria levar uma pedrada. Uma policial correu atrás de mim, me puxou pelo ombro, encostou a ponta da arma no meu peito e começou a me acusar de ter jogado uma pedra nela. Uma senhora falou pra ela que não fui eu. Olhei nos olhos dela e perguntei se ela pretendia atirar em mim. Ela desviou o olhar, e com a pele enrubescida começou a gritar “Vai emboraaaaaaa! Vai emboraaaaa!”. Continuei ali.
Avistei um policial que parecia ser o “líder” da vara.
Ele parecia estar fazendo o papel do “tira bonzinho”, acalmando as pessoas. Me aproximei dele e contei tudo o que vi. Ele respondeu que receberam a chamada por ter UM homem com uma faca no local. E que não sabia o porquê deu tanta confusão. Tentei continuar a conversa, perguntei seu nome, ele não se identificou, simplesmente me ignorou, como se eu não estivesse ali.
Sem ter o que fazer, fui pro terminal pegar o ônibus.
A conclusão deixo por conta de quem leu.