Petro pede investigação sobre a compra do spyware israelense Pegasus

De acordo com as informações divulgadas pelo presidente, um banco israelense detectou e relatou uma atividade incomum de US$ 5,5 milhões em suas contas. Era uma transação entre o Grupo NSO e a Dipol Colômbia para a compra do software de espionagem cibernética Pegasus por um total de US$ 11 milhões que não haviam sido declarados.

Por Camilo Rengifo Marín.

O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, afirmou que a Diretoria de Inteligência Policial (Dipol) comprou um software de uma empresa israelense para espionar telefones celulares em meio à agitação social de 2021 e antes das eleições presidenciais.


Em seu discurso, Petro fez referência a documentos da inteligência israelense, que se referiam aos custos da compra do Pegasus; ele também mencionou que 11 milhões de dólares deixaram o país para que a compra fosse executada. “Houve uma lavagem de ativos de nosso próprio Estado para a compra desse software”, disse ele, acrescentando que havia pedido aos órgãos judiciais que iniciassem as investigações. “O Gabinete do Procurador Geral será o órgão competente para investigar o que aconteceu”, concluiu.

Além disso, o presidente declarou por meio de seus canais digitais que “estamos enfrentando uma cadeia de crimes que inclui lavagem de dinheiro por funcionários públicos, espionagem interna sem mandado da Justiça, crimes contra países estrangeiros cujos autores podem ser extraditados, corrupção sem limites”.

Em seguida, o chefe de Estado destacou que havia “um aparato de inteligência policial acima da lei em meio a uma explosão social em que dezenas de jovens foram mortos, com ‘estupro’ de mulheres adolescentes e milhares de estudantes detidos”.

Por fim, ele enfatizou que houve atos de impunidade devido à falta de investigações por parte dos órgãos competentes e que houve “alianças internacionais profanas contra os direitos dos cidadãos colombianos”.

A Colômbia sofreu vários casos de espionagem política e o próprio presidente denunciou ter sido vítima dela. O caso mais notório foi a escuta telefônica ilegal de membros do Judiciário durante a presidência de Álvaro Uribe (2002-2010), que levou a um escândalo com condenações de alguns dos responsáveis. Da mesma forma, o chefe de Estado disse que tanto ele quanto sua família foram vítimas de interceptações ilegais durante os governos de Álvaro Uribe (2002-2010) e seu sucessor Iván Duque.

No início deste ano, um magistrado do Tribunal Constitucional denunciou uma possível espionagem, que está sendo investigada. A partir desse caso, nasceu a iniciativa do presidente de solicitar as informações que levaram à descoberta dessa suposta compra de software de espionagem pela inteligência policial.

Israel e o Pegasus

O software israelense Pegasus, criado pela empresa israelense NSO Group Technologies Ltd. é capaz de facilitar a escuta telefônica, espionar e-mails e comunicações de texto por meio de aplicativos como o WhatsApp e escanear documentos contidos na memória de telefones celulares.

De acordo com as informações divulgadas pelo presidente, obtidas pela Unidade de Informação e Análise Financeira (UIAF), naquele ano um banco israelense detectou e relatou uma atividade incomum de US$ 5,5 milhões em suas contas. Tratava-se de uma transação entre o Grupo NSO e a Dipol Colômbia para a compra do software de espionagem cibernética Pegasus por um total de US$ 11 milhões que não haviam sido declarados.

Petro disse que um total de dois pagamentos de US$ 5,5 milhões foram feitos. Esse dinheiro teria sido entregue em dinheiro vivo e levado de Bogotá para Tel Aviv. “Como 11 milhões de dólares em dinheiro deixaram o país em um avião de escritórios estatais ligados ao poder para Israel para comprar software de espionagem para espionar conversas políticas privadas por talvez meses?”, perguntou o presidente, que lembrou que sua própria campanha para a presidência foi objeto de espionagem e vazamentos para a imprensa.

“De onde veio o dinheiro? Por que não foi oficializado?”, continuou o presidente, que questionou quantas pessoas foram interceptadas sem mandado e ressaltou que poderia ser ‘lavagem de ativos feita a partir de nosso próprio Estado’. Por esse motivo, ele ordenou que o diretor da polícia, general William René Salamanca, encontrasse o “software” e o entregasse, juntamente com as informações coletadas, à Procuradoria Geral da República, para que ela pudesse realizar a investigação.

Petro fez uma comparação com o escândalo de Watergate, observando que, nesse caso, o partido da oposição foi interceptado por meses, com a suposta intenção de tirar a possibilidade de vitória do governo. Ele afirmou que a magnitude desses eventos faria com que o caso de Nixon “empalidecesse de inveja”.  O presidente também se referiu ao envolvimento de alianças internacionais que agiram contra os direitos das e dos cidadãos colombianos, descrevendo a situação como “uma verdadeira ditadura”.
Em uma mensagem publicada em sua conta no X, o presidente da Colômbia, Gustavo Petro, lançou acusações graves que apontam para uma suposta cadeia de crimes cometidos por funcionários do governo de Iván Duque. Em sua publicação, Petro denunciou a existência de lavagem de dinheiro, espionagem interna sem mandado e a prática de crimes contra um país estrangeiro, cujos autores, segundo ele, poderiam ser extraditados.
Ele afirmou que, durante a agitação social na Colômbia, um aparato de inteligência policial operou fora da lei, o que supostamente resultou na morte de dezenas de jovens, na violência contra mulheres adolescentes e na detenção de milhares de estudantes. Ele também acusou os órgãos de controle judicial e administrativo de terem encoberto esses crimes, descrevendo a situação como “impunidade total”.

Camilo Rengifo Marín é economista e professor universitário colombiano, analista associado ao Centro Latino-Americano de Análise Estratégica (CLAE, www.estrategia.la).

Tradução: TFG, para Desacato.info.
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