Por Fernanda Bassete, da Agência Einstein.
A checagem habitual e constante das mídias sociais por adolescentes está alterando o desenvolvimento cerebral e a forma como o cérebro responde aos estímulos das redes, tornando-os mais sensíveis ao feedback social. A constatação é de uma pesquisa realizada por cientistas da Universidade da Carolina do Norte, nos Estados Unidos, que acompanhou 169 adolescentes de uma escola pública durante três anos.
No início do estudo, os participantes relataram com que frequência checavam três das principais plataformas de redes sociais: Facebook, Instagram e Snapchat. As respostas variaram de menos de uma vez até mais de 20 vezes por dia. Eles foram submetidos a sessões anuais de análise das imagens cerebrais.
Os resultados foram publicados na revista científica, Jama Pediatrics e, segundo os autores, o cérebro dos adolescentes que verificavam as redes mais de 15 vezes por dia tornou-se mais sensível ao feedback social ao antecipar recompensas e punições sociais ao longo do tempo. Eles destacam que a maioria dos adolescentes começa a usar tecnologia e tem acesso a dispositivos móveis e mídias sociais em um dos períodos mais importantes para o desenvolvimento cerebral.
As plataformas de mídias sociais fornecem um fluxo contínuo e imprevisível em forma de posts, comentários, curtidas e notificações. E a interação com esse fluxo constante cria mecanismos de recompensa, fazendo com que o adolescente seja condicionado a voltar e verificar as mídias sociais repetidamente, num comportamento que pode se tornar ruim e evoluir para uma compulsão.
Alteração cerebral
Segundo a médica Polyana Piza, neurologista do Hospital Israelita Albert Einstein, essa exposição repetida aos estímulos das redes sociais pode alterar o desenvolvimento cerebral dos adolescentes na medida em que a exposição ao ambiente, às críticas, aos elogios e à maneira como as pessoas o veem gera ações e reações que interferem no seu comportamento.
“Todo nosso comportamento é regido por uma parte neurológica chamada sistema límbico, que vai moldar nossa reação ao ambiente emocional. De que maneira eu consigo me organizar emocionalmente para reagir àquilo que estou recebendo? De que forma posso transformar esse feedback e melhorar? A questão que o estudo aponta é que isso é feito num volume cada vez maior e num tempo muito menor. E o cérebro do adolescente precisa se adaptar para transformar isso de forma positiva”, explicou.
De acordo com os autores, estudos anteriores demonstraram que 78% dos jovens de 13 a 17 anos relataram verificar seus dispositivos móveis pelo menos a cada hora; 35% afirmaram usar pelo menos uma das cinco principais ferramentas de mídia social quase constantemente. O estudo atual mostrou que os jovens que crescem verificando as mídias sociais com mais frequência estão se tornando hipersensíveis ao feedback dos seus colegas. Mas, afinal, isso é bom ou ruim?
“Esses resultados nos mostram que há uma relação com comportamentos compulsivos desses adolescentes relacionados à necessidade de olhar aquela mídia social com uma frequência muito maior do que acontecia anteriormente. Mas os mesmos resultados também nos levam a um raciocínio de que possa existir um comportamento adaptativo do cérebro dessa nova geração, diante do que ela vem sendo exposta”, avalia Polyana.
Segundo a neurologista, o aumento da sensibilidade do feedback social pode promover o uso compulsivo das mídias sociais porque pode haver a necessidade da aprovação do outro, especialmente nessa faixa etária que está sendo estudada, que é adolescência – fase do desenvolvimento emocional e cerebral do jovem, em que ele usa essa aprovação ou negação para se organizar emocionalmente e realizar suas atividades.
“Como ele recebe esses feedbacks sociais com uma frequência muito maior, isso pode provocar uma necessidade de estar constantemente recebendo essa avaliação. O que a gente precisa entender é se essa necessidade vai trazer uma dificuldade ou não de processamento cerebral, que pode estar relacionada a uma suscetibilidade de desenvolver a compulsão”, frisou.
A médica reforça que os resultados não afirmam que exista necessariamente um desenvolvimento ruim do cérebro nem que essas mudanças no desenvolvimento cerebral sejam boas. “Estamos olhando os dados de uma população pequena, mas que nos mostra uma alteração de comportamento que pode estar ligada à compulsão. Ainda não é possível afirmar que todo adolescente que usa redes sociais vai desenvolver comportamento compulsivo. Mas é importante observar que está havendo uma alteração”, finalizou.