A pesquisa Genial/Quaest publicada nesta quarta-feira (25) devia acender o sinal de alerta para o presidente Lula. Ela mostra uma queda de seis pontos na aprovação do seu governo entre agosto e outubro – caiu de 60% para 54%. Já a desaprovação subiu sete pontos no mesmo período, pulando de 35% para 42%.
Outro dado preocupante da sondagem, conforme ressalta Felipe Nunes, fundador da Quaest, é que a queda na aprovação “não está concentrada em nenhum segmento. Pelo contrário, ela se deu de forma generalizada, em todas as regiões e estratos sociais”. Além disso, “é a primeira vez que a desaprovação chega a quase 10% de quem votou em Lula; e, depois de três rodadas, a desaprovação voltou a crescer no eleitorado de Bolsonaro”.
Economia e comunicação explicam a queda
De acordo com a pesquisa, essa piora na avaliação da economia decorreu da percepção de que as contas de água, luz e telefone aumentaram no último mês e que o preço dos alimentos e dos combustíveis também subiu recentemente. Para agravar essa percepção, a expectativa sobre o futuro também piorou – caiu nove pontos –, embora a maioria continue otimista (50%). “O pessimismo vem ancorado na expectativa de que a inflação e o desemprego vão aumentar nos próximos meses”, explica o fundador da Quaest.
As notícias positivas não se destacam
Mas não é apenas a economia que pesa contra o governo Lula nesse momento. Felipe Nunes realça a questão estratégica da comunicação, da disputa de hegemonia na sociedade. “As notícias positivas não conseguem se destacar em relação às negativas. No noticiário positivo se destacam políticas sociais que já são marcas do PT (Bolsa Família, MCMV, aumento do salário mínimo e o Desenrola)… No noticiário negativo encontramos temas da última campanha, como corrupção, relação com a Venezuela, pautas de moral e costumes, e também novos temas, como o excesso de viagens do presidente e a posição do país em relação ao conflito em Israel”.
“A guerra da comunicação não mudou nada em relação a campanha. Eleitores do Lula seguem se informando mais pela TV e eleitores do Bolsonaro buscando informação mais pelas redes, sites, blogs e portais de notícia. São dois campos distintos. Quando detalhamos algumas dessas notícias percebemos que o governo colecionou reveses nos últimos meses. A começar pela postura do governo em relação às enchentes no Sul: 88% ficaram sabendo do assunto e 47% acharam a ajuda do governo inadequada”.
Números próximos da pesquisa Ipespe
A pesquisa aponta também o aumento das críticas às viagens internacionais de Lula. A maioria (55%) acha que elas estão excessivas, enquanto 37% acham adequadas. A desaprovação vem acompanhada da avaliação de que as viagens não têm trazido bons resultados ao país (49% pensam assim). Há críticas também em relação ao Hamas, que é alvo de poderoso bombardeio midiático. “Mas nem tudo é problema. O governo recebe ótima avaliação em relação à postura pacifista que adota sobre a guerra. As conversas de Lula com todos os lados e a disponibilização do avião para resgate dos brasileiros em Gaza recebem avaliação positiva de 85%”.
Em vários pontos, a sondagem da Quaest coincide com os dados da pesquisa Ipespe/Febraban divulgados um dia antes. Nela, o governo aparece com 53% de aprovação. Já a avaliação negativa atinge o percentual de 40%. Segundo o instituto, esses números refletem o quadro de incertezas no mundo e no Brasil. “Diante do impacto dos horrores da guerra no Oriente Médio e dos temores em relação às suas consequências, o clima da opinião pública piora e a aprovação do governo Lula recua… A grande preocupação dos brasileiros com o novo conflito resultou na diminuição do otimismo [com a economia], até então crescente”, afirma o instituto.