Centenas de manifestantes, encapuzados e equipados com escudos, entraram em confronto com a polícia perto do Parlamento peruano neste sábado (28), em Lima, em um novo episódio de violência que já deixou 48 mortos desde dezembro. Um manifestante foi mortalmente ferido durante as violentas manifestações deste sábado na capital peruana, anunciou a ouvidoria em sua conta no Twitter. Esta é a primeira morte em Lima.
Em meio a bombas de gás lacrimogêneo, o centro da capital peruana voltou a ser palco de confrontos entre policiais e manifestantes, em uma crise política que já dura 52 dias, deixando ao todo 48 mortos, incluindo um policial.
Estes novos confrontos eclodiram em torno do Parlamento, após a recusa dos deputados em dar sinal verde a eleições antecipadas. “Queremos dignidade! Dina, renuncie agora”, gritavam os manifestantes em referência à presidente interina Dina Boluarte, de quem os manifestantes pedem a saída.
Angelito é um dos muitos manifestantes do sul e centro do país. “Estamos aqui há quase 15 dias e não vamos cansar. O povo não vai se render. Ela tem de renunciar a todo o custo. Também exigimos a dissolução do Congresso e uma assembleia constituinte”, disse ele a Juliette Chaignon, correspondente da RFI em Lima.
Puno
Boluarte governa o Peru desde a demissão pelo Parlamento do ex-presidente eleito Pedro Castillo, em 7 de dezembro, o que gerou protestos no país. A manifestação em Lima começou como uma festa popular antes de se transformar em um confronto entre um grupo de manifestantes encapuzados e a tropa de choque, deixando um morto e dois feridos, incluindo um policial.
As mortes até agora ocorreram em Puno e outras regiões andinas no sul do país, onde se encontram populações historicamente desfavorecidas, que apoiaram Castillo, e viram sua eleição como uma revanche pelo que consideram um desprezo de Lima por eles.
Os manifestantes exigem o adiantamento das eleições presidenciais e legislativas para 2023, pedido feito pela presidente interina e rejeitado pelo Parlamento na madrugada deste sábado.
Um projeto de lei apresentado na sexta-feira (27) previa a organização de eleições antecipadas em dezembro de 2023. Para conter a incipiente mobilização, o Parlamento já havia antecipado a votação para abril de 2024.
Livre e democrática
A presidente interina, cujo mandato teoricamente iria até 2026, havia convocado essas eleições antecipadas para tirar o país “do atoleiro”. Ela lamentou neste sábado que o parlamento “não tenha sido capaz de entrar em acordo para uma data para as eleições gerais, em que os peruanos poderão eleger as novas autoridades de forma livre e democrática”.
“Pedimos aos parlamentares que deixem de lado os interesses partidários e coloquem os interesses do Peru em primeiro lugar”, ela tuitou.
Do aeroporto de Lima, de onde foram enviados medicamentos e equipamentos médicos para o sul do país, paralisado por bloqueios de estradas, Boluarte garantiu que não queria “se agarrar ao poder”.
“Não vamos esperar. Tem de ser agora”, declarou Sandra Zorela, professora de 53 anos, exigindo eleições em breve durante uma manifestação na cidade de Cusco, deserta dos turistas que costumam visitar Machu Picchu. Esta joia do turismo peruano foi fechada devido aos transtornos populares.
Bloqueios
Diante de cerca de uma centena de bloqueios de estradas erguidos principalmente no sul do país, os Ministérios do Interior e da Defesa anunciaram que “a Polícia Nacional do Peru, com o apoio das Forças Armadas, irá desbloquear as estradas”.
O governo acusou as barragens de serem a causa direta de dez mortes, incluindo de três crianças que, em sua opinião, foram privadas de acesso a atendimento médico. Na quinta-feira (26), as autoridades identificaram 88 barricadas em estradas em oito das 25 regiões do Peru. Uma rodovia principal onde são transportados produtos alimentícios para Lima está bloqueada.
Esses entraves levam ao desabastecimento, encarecem os preços e, de acordo com o governo, dificultam o acesso ao atendimento e à chegada de medicamentos em diversas regiões.
“Não há gás nem combustível. Nas lojas você só encontra alimentos não perecíveis e tudo é muito caro, até três vezes o preço normal”, declarou à AFP Guillermo Sandino, um morador de Ica, a 300 km ao sul de Lima.
(Com informações da AFP)