Por Vanessa Gonzaga
“Retratos de Chumbo” é fruto da pesquisa sobre a vida de mulheres que militaram contra a ditadura no Brasil
A ditadura militar é, sem dúvidas, um dos capítulos mais tristes da história do nosso país. Para que os militares continuassem no poder, uma série de violações dos direitos humanos como tortura, morte, desaparecimentos, sequestros e ameaças eram feitas pelos aparelhos criados pelo próprio Estado para combater os opositores ao regime.
Para que isso não seja esquecido e repetido, a arte tem um papel essencial, usando diversas técnicas para conscientizar e alertar. Uma dessas iniciativas é a peça “Retratos de Chumbo, as Rosas que Enfrentaram os Canhões”, com texto e direção de Oséas Borba Neto, do Grupo de Teatro João Teimoso.
O espetáculo é uma das formas de celebrar os 18 anos do grupo, que desde a sua fundação, vem aliando a difusão da arte com a formação política não apenas através das peças, mas também por cursos de teatro e as várias edições do Sarau das Artes, que existe há 10 anos. O nome do grupo, que também é o de um brinquedo que mesmo com empurrões não cai, mostra também a resistência às várias tentativas de apagamento da cultura popular e aos obstáculos que surgiram desde a fundação do coletivo em 2001, mas que existe até hoje. “Eu acredito num teatro que faz o povo pensar, que sacode, questiona, que muda e forma opiniões. A peça Retratos de Chumbo é pra dar uma sacudidela nas pessoas que acham que isso [a ditadura] não existiu e mostrar o quão bárbaro foi”, ressalta Óseas Borba Neto.
Retratos de Chumbo é o fruto de pesquisa, entrevistas e depoimentos de pessoas que lutaram de diversas formas e em várias frentes de atuação contra a ditadura militar. Com base nessa pesquisa, o grupo decidiu dar destaque às mulheres.
Em cena, as atrizes Chell Moriim, Ysa Muniz e Laís Alves se revezam com os relatos de situações passadas, os sentimentos das personagens e algumas cenas de tortura. Todos os fatos narrados são reais, mas a peça conta fragmentos de histórias de várias mulheres, daí a opção de não revelar seus nomes, universalizando o fato de que todas elas estavam submetidas a situações igualmente complexas. “O texto da peça é de 2017. Ainda na década de 1980 eu já tinha outro texto sobre a ditadura também, tinha a letra de uma música, mas resolvemos pegar a ótica das mulheres, porque até os livros e o relatório da Comissão Nacional da Verdade falam pouco sobre as mulheres e na verdade elas foram massacradas”, relembra Oséas.
Para a realização da peça, o grupo contou com recursos da própria equipe e a ajuda do público. Com um projeto de financiamento coletivo, foi possível sensibilizar os espectadores para a necessidade de contribuir na realização do espetáculo. Agora, o grupo cumpre uma agenda de espetáculos no Recife, nos dias 09, 10, 16 e 17 às 20h no Teatro Hermilo Borba Filho, com o valor único de R$ 20,00. Nos próximos meses o grupo também vem analisando a possibilidade entrar em cartaz no Armazém do Campo e fazer apresentações em áreas de comunidades rurais e assentamentos.