Panorama, maior condomínio de Florianópolis, é tema de filme

    Montado a partir de arquivos, o curta vencedor do Prêmio Catarinense de Cinema remonta a vida privada de seus moradores.

    Construído durante a década de 1980 às margens da Via Expressa que liga a região metropolitana à Ilha de Santa de Catarina, no bairro Monte Cristo, o Conjunto Habitacional Panorama possui 800 apartamentos, distribuídos em 41 blocos, onde vivem mais de 5 mil pessoas. As memórias em fotos e vídeos dos moradores desse universo local que supera o número de habitantes de 1.164 municípios brasileiros constituem o documentário de curta-metragem “Panorama” (2022, 18 minutos), com direção de Djuly Gava e Daniel Leão, vencedor do Prêmio Catarinense de Cinema 2020.

    Exibido em primeira mão para os próprios moradores e em seguida em espaços culturais e escolas de Itajaí, Criciúma e Palhoça, o curta remonta poeticamente as vidas, sonhos e trabalhos dos moradores por meio de seus arquivos de fotografias e vídeos caseiros reunidos ao longo de três décadas. Ao todo, a pesquisa para o filme reuniu 5 mil fotos, uma fita VHS, dois DVDs e links de vídeos no YouTube. Somente uma moradora, Cida, contribuiu com uma caixa com mil fotografias.

    Localizado na antiga região do Pasto do Gado, que servia de pouso para os rebanhos que vinham da região serrana com destino ao matadouro do Estreito, começou a ser ocupado nos anos 1970. O Panorama foi construído na década seguinte em forma de quadrilátero pela COHAB-SC. As primeiras famílias, ganhadoras do sorteio dos apartamentos, chegaram em 1989 aos cinco conjuntos habitacionais. Para muitas dessas pessoas, vindas de outros estados e do interior de Santa Catarina, o condomínio representou o fim do aluguel e a garantia ao direito à moradia digna. No entanto, suas expansões previstas, Panorama II e III, não saíram do papel e os terrenos foram ocupados por comunidades sem-teto. E como ocorreu em muitas periferias do país, questões como o êxodo rural, o aumento da população, a precarização da vida e o tráfico de drogas também trouxeram graves problemas sociais. O orgulho em morar ali foi abalado pelo aumento da violência. Tiroteios e balas perdidas também fizeram parte da história do conjunto habitacional.

    A entrada principal é pela Rua Joaquim Nabuco, a rua mais movimentada onde há pequenos comércios, um posto de saúde e a Escola América Dutra Machado. O acesso secundário é feito pela rua José Machado Simas: os blocos desta rua são voltados para uma praça comunitária e um terreno baldio além dos quais está a BR-282 e a Via Expressa, único acesso à parte insular de Florianópolis. Os apartamentos com fachada para o sul têm vista para a Baía Sul e o maciço do Cambirela. As laterais fazem divisa com três comunidades: à esquerda, as comunidades Chico Mendes e Novo Horizonte; à direita, a comunidade da Grota. Além do estacionamento, há um parque infantil, a quadra poliesportiva, a sede da administração e uma caçamba de lixo.

    O curta é narrado pela diretora Djuly Gava, graduada e mestre em Artes Visuais pela Udesc, que morou lá dos 8 aos 22 anos; sua mãe Luciana Gava, agente comunitária de saúde, é a atual síndica geral, que já organizou mutirões de faxina, troca de lâmpadas, melhorias no salão de festas e encontros de socialização dos idosos pós-pandemia para jogarem baralho e dominó. O filme foi montado num apartamento do condomínio por outra moradora, Amanda Rauber. Daniel Leão tem uma convivência de seis anos com o Panorama e fez dele parte de sua tese de doutorado em Artes Visuais na Udesc.

    O projeto do filme vem desde 2016. Em 2018, Luís, o carteiro do condomínio, depositou nas caixas de correspondência dos moradores um convite para a participação no filme. Pouco mais de dez moradores entraram em contato. A estratégia do ano seguinte foi o boca a boca. Por duas semanas, a equipe formada pelos diretores, junto com Adriane Canan, Carol Mariga, Patrícia Galelli e Adriane Neves, se organizou em duplas para bater em cada uma das 800 portas, uma vez durante a semana e outra nos dias de descanso para encontrar os trabalhadores em casa. Do esforço resultou o interesse de 133 moradores em participar e efetivamente mais de 40 famílias aderiram.

    A pandemia impediu a ideia inicial de fazer entrevistas com os habitantes e o filme foi todo realizado com imagens de arquivo. Passada a pandemia, a equipe retornou para algumas entrevistas, que podem ser assistidas na íntegra no site https://punktu11.wixsite.com/panorama

    Alguns vídeos e principalmente fotografias antigas, com bolor e marcas do tempo, compõem no filme uma história comum constituída pelas vidas singulares. “Toda fotografia é um arquivo para o uso futuro de outra pessoa. Ao ver uma imagem, vemos através dos olhos de quem a fez — somos absorvidos por sua visão”, diz a diretora-narradora.

    Estão ali os lugares de onde os moradores vieram, as festas de crianças, os batizados, os casamentos feitos e desfeitos, o pôr do sol refletido em uma das 3 mil janelas do condomínio, os fogos de artifício marcando a passagem dos anos, meninos posando para a mãe com um córrego e um cavalo ao fundo, uma gari orgulhosa do seu trabalho, um ônibus ao qual foi ateado fogo em frente ao bloco 33. A narração costura essas histórias, permeada pela trilha sonora com músicas do maestro Guilherme Vaz, que já colaborou em filmes de Julio Bressane e Nelson Pereira dos Santos.

    Sinopse

    Panorama é um documentário curta-metragem com 18 minutos de duração realizado com imagens caseiras feitas pelas famílias que vivem no maior condomínio popular de Florianópolis, o Conjunto Habitacional Panorama. Dirigido e montado por moradoras do Panorama, o filme reflete sobre as formas de permanência do passado na memória e nas imagens, seus modos de produção e suas formas de conservação, criando uma trama que entrelaça experiências singulares em uma história comunitária tendo o Panorama como seu espaço catalisador.

    Sobre os diretores

    Djuly Gava (Florianópolis, 1995) é mestra em Artes Visuais na linha de processos artísticos contemporâneos e graduada em Artes Visuais pela Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC. Trabalha com produção de cinema desde 2015. Em 2017 foi assistente de fotografia do longa-metragem documentário “Cuidado como método” dirigido por Jessica Gogan e Daniel Leão, ainda neste ano exerceu as funções de diretora e diretora de fotografia da videoinstalação “A cinza das horas” exibida na Bienal Internacional de Curitiba, tendo recebido o prêmio de Menção Honrosa como artista universitária destaque da exposição interinstitucional. Em 2018 foi assistente de direção dos documentários “Pauliceia” (curta-metragem) e “Monte Santo” (longa-metragem), ambos dirigidos por Daniel Leão. Em 2019 residiu por seis meses na cidade de Nova Iorque onde realizou o videoensaio “ELO” credenciado pelo Edital #SCulturaEmSuaCasa e atuou no curta “NYork – a caminho do Anthology” dirigido por Daniel Leão. Em 2020 foi contemplada com o Prêmio Catarinense de Cinema na categoria de curta-metragem de documentário com o projeto Panorama e no ano seguinte na categoria de curta-metragem de ficção com o projeto Heyari. Participa de exposições coletivas e feiras de arte desde 2013. Entre as quais, destacam-se: 11º Salão Nacional Victor Meirelles, 2022; 15º Salão Nacional de Itajaí, 2021; Feira Tijuana de Arte Impressa, Casa do Povo, São Paulo/ SP, 2019; Microutopías – Feria de Arte Impreso de Montevideo, Centro Cultural España, Montevideo/Uruguay, 2019; Feira Compasso – Publicações de Arquitetura, Urbanismo e Design, IAB – Instituto de Arquitetos do Brasil, São Paulo/SP, 2019. Como artista visual possui interesse pelo tema da cidade e pelo deslocamento enquanto prática artística com trabalhos que se desenvolvem no campo das publicações impressas, fotografia, arte sonora, vídeo e cinema experimental.

    Daniel Leão (Rio de Janeiro, 1984), graduado em cinema pela UFF (2010) e doutor em Artes Visuais pela UDESC com período sanduíche na New York University (2020), é documentarista, roteirista, artista visual, professor e editor de livros. Foi professor de cinema da Universidade Federal de Santa Catarina entre 2016-2018 e segue, desde então, ministrando de forma intermitente oficinas e laboratórios de roteiro e cinema documentário. Além de ser um dos roteiristas da série documental Anos depois (em finalização) e dos curtas-metragens Panorama e Heyari, ambos contemplados no Prêmio Catarinense de Cinema de 2020 e 2021, foi pesquisador do roteiro de longa-metragem ficcional “Onde está minha mãe” de Felipe Ferreira de Jesus (Prêmio Catarinense de Cinema de 2021). Seus trabalhos em artes visuais/cinema experimental já foram expostos nos museus de Arte Moderna de Nova York (MoMA), de Museu de Arte Contemporânea de Niterói (MAC), de Arte do Rio (MAR) e de Arte de Santa Catarina (MASC) e em instituições como o Sesc-Pompéia em São Paulo, o Centro Cultural São Paulo (CCSP) e o Centro Cultural España em Montevidéu. Entre eles destacam-se o !lme Panorama (2022, com Djuly Gava), a videoinstalação Fagulhas (2022, realizada como artista residente da Fundação Badesc), o curta-metragem N-York: a caminho do Anthology (2021), a videoinstalação A cinza das horas (2017, com Djuly Gava, selecionada para a Bienal Internacional de Artes de Curitiba), o videoarte Passeio sem nome (2017, com o artista Guilherme Vaz), o longa-metragem documentário Cuidado como método (2017, com Jessica Gogan, trabalho comissionado para compor a exposição Lugares do Delírio), Nas costas do tempo (2014, curta-metragem realizado como parte do trabalho voluntário na ala oncológica do Hospital Universitário Antônio Pedro e incluído no livro “Terapia Expressiva: a arte do afeto colorindo um hospital” de Denise Vianna) e o ensaio visual Amerikári (2014, realizado como artista residente do Instituto Mesa). Atualmente, além de trabalhar a pré-produção do curta-metragem Heyari e ser Produtor Executivo do documentário longa-metragem Meu caro Michel: Memórias e Montagens de Eloy Gallotti de Heitor Caramez, edita dois livros de José Carlos Avellar: A ponte clandestina – Teorias do cinema na América Latina e A loucura da razão: Três conversas sobre cinema em torno de Imagens do inconsciente de Leon Hirszman (manuscrito inédito deixado pelo autor).

    Equipe

    Direção: Djuly Gava e Daniel Leão
    Montagem: Amanda Rauber
    Música: Guilherme Vaz
    Fotografia adicional: Marx Vamerlatti
    Som direto: Ingrid Gonçalves
    Produção executiva: Flávia Person
    Direção de produção: Gabi Bresola
    Produção: Daniel Velasco
    Pesquisa: Adriane Canan, Adriane Neves, Caroline Mariga, Daniel Leão, Djuly Gava, Patrícia Galelli
    Colorização e finalização: Alan Langdon
    Mixagem: Rodrigo Ramos
    Letreiros: Tina Merz
    Roteiro: Daniel Leão
    Narração: Djuly Gava
    Texto de Daniel Leão, Djuly Gava, Eugênio Bucci, Martha Langford, Valeria Luiselli
    Gravação: Joel Rosa da Luz (Estúdio Urbano)
    Tratamento de fotografias 3×4: Thales Leite
    Assessoria de imprensa: Barbara Pettres
    Acessibilidade: Sansara Buriti

    Informações:

    Djuly Gava: 48 99698-2792
    Daniel Leão: 21 99216-8801

    Assessoria de imprensa:
    Barbara Pettres (48) 99926-6429

    Site: https://punktu11.wixsite.com/panorama
    Instagram: https://www.instagram.com/panoramaofilme/

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