Palestinos e judeus na História. As boas relações históricas dos muçulmanos com as comunidades judaicas

Por Dr. Armando Bukele Kattan.

Judeus sefarditas
Judeus sefarditas

Excetuando a presente época, as relações entre o mundo árabe e muçulmano e as comunidades judaicas sempre foram muito boas. Nunca existiu qualquer espécie de discriminação nem desrespeito pelos direitos humanos. Pelo contrário, os judeus sempre foram bem-vindos nos momentos de adversidade e protegidos durante o apogeu árabe, onde se desenvolveram conjuntamente.

Veja-se, por exemplo, o notável nível de desenvolvimento da comunidade judaica em Espanha e Portugal durante a época de domínio muçulmano do Al-Andalus (Sefarad), A sua expulsão pelos Reis Católicos em 1492 e consequente acolhimento benevolente e amistoso no Califato Otomano (muçulmano).

Um caso típico de união e amizade entre judeus e muçulmanos, praticamente desconhecido de Ocidente, é um costume que existiu em Jerusalém, a partir do século XII, com a perseguição a judeus e muçulmanos, no Reino Latino de Jerusalém, fundado em 1099 por Godofredo de Bouillon. Esse costume continuou após a recuperação de Jerusalém em 1187, caindo em desuso somente quando, em 1896, se iniciaram os movimentos europeus de “Recuperação da Palestina”, com o Manifesto Sionista de Theodore Herzl e a formação do estado judaico, que foi seguido por influências negativas nas antigas comunidades irmãs judaicas e muçulmanas da Palestina, especialmente em Jerusalém.

A rivalidade palestino-israelense (palestiniana-israelita, em português europeu) ou judaico-muçulmana é recente e a história indica que existiu entre eles, anteriormente, um elevado grau de irmandade e união, partilhando a mesma história e os mesmos inimigos.

Este era o costume, em vigor desde o princípio do século XII até finais do século XIX:

“Desde tempos imemoriais existia em Jerusalém um emocionante costume: as crianças judaicas e muçulmanas nascidos no mesmo bairro e na mesma semana eram tratados pelas suas famílias como irmãos de leite (uma irmandade reconhecida na religião judaica e no Alcorão): o bebé judeu era amamentado pela mãe muçulmana e o bebé muçulmano era amamentado pela mão judia. Este costume estabelecia relações íntimas e duradouras entre as duas populações. O costume caiu em desuso no começo do século XX”.

Com esta referência pretendo refutar o mito da “inimizade tradicional” entre judeus e árabes. A história, até a funesta intervenção dos europeus no Médio Oriente durante o século XIX, nunca registou sérios conflitos entre eles. Muito pelo contrário, estes dois ramos da raça semítica viveram pacificamente durante séculos na Palestina.

O anti-semitismo é uma invenção de Ocidente. Tem suas raízes no mundo grego-romano, e as primeiras perseguições a judeus tiveram lugar na Alexandria helenística, e agudizaram-se com a destruição de Jerusalém pelo Imperador Romano Tito no ano 70 D.C. Intensificaram-se durante o obscurantismo medieval da Europa cristã, quando o povo judeu foi difamado e acusado do assassinato de Jesus, tendo sido convertido num povo homicida e até deicida (com o novo dogma da divindade de Jesus). Quando os cruzados conquistaram Jerusalém, em 1099, assassinaram não somente os habitantes muçulmanos, mas também os judeus e cristãos de diferentes igrejas tradicionais, dentro da Igreja do Santo Sepulcro, naquela que foi uma das matanças mais horríveis da história. E durante os séculos que se seguiram, os países muçulmanos foram o refúgio para os irmãos judeus perseguidos na Europa.

As vítimas da Inquisição espanhola (os chamados sefardim ou sefarditas) fugiram para os países árabes do Norte de África e até ao Egito e Médio Oriente, onde foram fraternalmente recebidos, tendo até recebido cargos nos governos. Também o mundo árabe foi o refúgio dos judeus que escaparam às perseguições na Europa Central e Oriental, das horríveis matanças de Polônia e Rússia e posteriormente da perseguição na Alemanha Nacional-Socialista.

Com toda a razão podia-se ler na ENCICLOPÉDIA HEBRAICA, edição espanhola de 1936: “Durante vários séculos os países islâmicos foram a verdadeira salvação para os judeus europeus”. Em Marrocos e em Tunísia, até depois de 1945, houve ministros judeus integrando os governos árabes. Durante a Segunda guerra mundial, o rei de Tunísia e o rei de Marrocos empregaram todos os seus esforços para proteger os seus súbditos judeus das leis racistas do regime do Marchal francês Pétain.

O escritor judeu Eric Rouleau, no prólogo ao autor sírio Sami al-Yundi, escreveu: “Como judeu que passou a infância e a juventude entre os árabes, posso testemunhar que o anti-semitismo é algo completamente alheio às tradições e mentalidade dos povos do Médio Oriente”.

Como podem ser os árabes anti-semitas se eles também são basicamente semitas? As relações entre os dois povos irmãos na Terra Santa somente foram envenenadas no século XX, e unicamente pelas potências europeias. Não obstante o anteriormente referido, Israel é uma realidade e deve conceituar-se que a par de Israel se constitua um Estado Palestino independente, e que reine a paz e concórdia em toda a região (e no mundo).

Os hebreus não fundaram jerusalém. A conquista foi terrivelmente desapiedada, como se pode ler no Antigo Testamento.

A região que conhecemos como Palestina foi, desde a Antiguidade, uma encruzilhada de povos e civilizações. Os primeiros povoadores derivaram de emigrações semíticas da Península Arábica, há mais de 4500 anos, dando origem à civilização cananeia, fundando cidades-estados, fortificadas na maioria, entre elas: Jericó e Jerusalém. Por essa razão foi chamada Terra de Canaã.

Jerusalém foi fundada há 4200 anos por um dos povos que constituem a estirpe palestina: os jebuseus, pertencentes ao tronco cananeu. O seu nome original, Jebusalem, incorpora a palavra Salem (Salam) que significa paz. Os cananeus partilharam o seu território em completa harmonia com os filisteus, que se estabeleceram na costa e se misturaram racialmente com outros povos do mar, sobretudo com as ilhas gregas, especialmente Creta. Alguns historiadores confundiram-se e consideram os filisteus originários dessa ilha, mas isso foi uma integração posterior. Outros, equivocadamente, consideram os filisteus e os cananeus como povos camitas. Basta ver os seus idiomas para reconhecer a origem semita, aparentados com o idioma árabe. Mil anos mais tarde, os hebreus chegaram à Palestina, conquistando-a a sangue e fogo; os hebreus não foram os povoadores originais da Palestina e não fundaram Jerusalém. A conquista foi terrivelmente desapiedada, como se pode ler no Antigo Testamento.

Contudo, apesar dessa conquista sangrenta, Jerusalém não foi tomada pelos conquistadores judeus. Foi entregue à tribo de Benjamim, mas permaneceu em poder dos jebuseus até que, posteriormente, foi tomada pelo rei David. E David ordenou não maltratar, nem matar, nem torturar ninguém dessa cidade, Jerusalém. “Mas os filhos de Benjamim não destruiram os jebuseus que viviam em Jerusalém; e aí ficaram vivendo nessa cidade com os filhos de Benjamim até ao dia de hoje”. (Juízes. Capítulo I, Versículo 21). Além disso, a conquista nunca foi absoluta. Como refere o Antigo Testamento: “Os israelitas viviam entre os cananeus, os hititas, os amorreus, os ferezeus, os heveus e os jebuseus. Tomaram as filhas deles em casamento e deram suas filhas aos filhos deles, e prestaram culto aos deuses deles”. (Juízes, Capítulo III, Versículo 5 y 6).

O Reino de Israel foi criado em Palestina , no ano 1020 a.C., sendo Saúl o seu primeiro rei. Alcançou o seu máximo esplendor com os reis David e Salomão. Com esses reis existiu especial tolerância e amplitude; foram reconhecidos como profetas de Deus. Após o reinado de Salomão, Israel foi dividido em duas partes:

O Reino do Norte, chamado Israel, com Sebastia como capital, com 10 tribus.

O Reino do Sul, chamado Judá ou Judeia, com duas tribus (Judá e Benjamim).

Entre os reinos do norte e do sul manteve-se uma longa e irreconciliável luta.

No ano 622 a.C., a Palestina foi invadida pelos assírios, que conquistaram e submeteram o Reino do Norte, Israel. Em 586 a.C. o Reino de Judá (Judeia) foi invadido pelos babilônios, os quais levaram grande parte do povo judeu como prisioneiros, o que determinou aquilo que ficou conhecido como o “cativeiro de Babilônia“. Em ambas as invasões houve uma enorme mistura racial e o cativeiro de Babilônia teve uma grande influência religiosa e política na cultura hebraica.

Dominados, mas imersos na potência mundial daquela época, os judeus aprenderam a arte de se infiltrarem nas altas esferas políticas; conseguiram influenciar quer o Império Babilônico, quer o que lhe sucedeu, tendo conseguido a repatriação e libertação do cativeiro

Em Esdras, Capítulo II, relata-se com detalhe os que regressaram do cativeiro: aproximadamente 60000 varões, com respectivas propriedades e famílias; e uma nova forma de pensar. Contudo, foram unicamente os judeus (da tribo de Judá) os que se mantiveram firmes na sua fé e tradições.

Outra tribo, a de Benjamim, apesar de também fazer parte de Judeia, estava completamente misturada com os cananeus desde tempos bíblicos; as outras 10 tribos perderam a sua identidade, por isso se fala das 10 tribos perdidas do povo de Israel; embora na realidade se encontrarem misturadas com os palestinos históricos e com os outros povos vizinhos da zona.

Deve aclarar-se que antes da criação do Estado de Israel em 1948, Jerusalém, como capital de Israel, existiu unicamente 70 anos na história, durante os reinados de David e Salomão. Depois, o reino dividido de Israel com 10 tribos, teve como capital Sebastia, não Jerusalém. Jerusalém foi durante mais tempo capital da Judeia, não de Israel, uma vez que Israel desapareceu como Estado. Os gregos estabeleceram em Palestina a Tretarca de Filipe, integrada por 4 províncias: Judeia, Samaria, Galileia e Edom. Posteriormente, com o domínio romano, somente se falava de regiões, não províncias. Durante mais de 2000 anos só se mencionou Jerusalém como capital da Palestina. Os palestinos (palestinianos, em português europeu): muçulmanos, judeus e cristãos, sempre viveram em paz, enquanto os cristãos europeus não apareceram na região.

Na época de Jesus, a integração Palestina estava definida. O hebreu tinha desaparecido como idioma e falava-se arameu, uma mistura de hebreu e árabe (O idioma de Cristo). Os judeus propriamente ditos eram os habitantes da Judeia e também eles falavam arameu. A mistura com os cananeus era evidente, tal como vem mencionado na Bíblia e no caso de uma das duas tribos de Judá, a de Benjamim, a mistura atingia os 100%.

Desta forma, desde tempos imemoriais que Palestina existe. Jesus nasceu em Belém, Palestina, e a sua mãe, a Virgem Maria também nasceu na Palestina, em Jerusalém, pelo que ambos eram palestinos. Todos os apóstolos de Jesus eram galileus, com excepção de Judas Iscariote, e um deles até era chamado de “o cananeu” (Simão cananeu) à diferença de Simão Pedro (Mateus 10-3); todos eram, contudo, palestinos.

[…]

Fonte:  Sionismo.net / Webislam

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