Pablo Marçal ajuda a recuperar imagem de Tabata Amaral junto à esquerda. Por Francisco Fernandes Ladeira.

Por Francisco Fernandes Ladeira.

Aceitemos ou não, o ex-coach Pablo Marçal é o nome mais comentado das eleições municipais deste ano. Além de sequestrar a agenda pública com suas bravatas, ele conseguiu “feitos” até então quase inimagináveis: tem ameaçado a liderança de Bolsonaro na extrema direita brasileira, atingiu bons índices nas pesquisas de intenção de votos sem uma boa estrutura partidária e, o que pouco se tem comentado, ajudou (mesmo que de forma involuntária) a recuperar a imagem de Tabata Amaral junto aos setores progressistas.

Não se trata, necessariamente, de algo novo no cenário nacional. Nos últimos anos, políticos de extrema direita estão se “especializando” em reciclar nomes abominados pela esquerda.

Esquerda não aprendeu com os erros de 2018. 

Funciona mais ou menos assim: um determinado nome da direita tradicional (João Doria na época da pandemia da Covid-19, por exemplo) se opõe minimamente a Bolsonaro, Marçal ou outro extremista; e, automaticamente, passa a ser saudado por parcela considerável da esquerda como “herói nacional” ou “salvador da democracia”.

Tabata Amaral foi alçada a esse status em 2019, após uma discussão com o então ministro da Educação do governo Bolsonaro, Vélez Rodríguez. Na época, a parlamentar foi saudada quase de forma unânime por imprensa e internautas de esquerda. O fato de ela, em sua argumentação contra o ministro, utilizar um léxico típico do neoliberalismo, não foi levado em consideração.

Com o passar do tempo, as sucessivas votações na Câmera dos Deputados em que Tabata se posicionou contra os direitos dos trabalhadores mostrou a todos quem realmente era a parlamentar da “Bancada Lemann”. Não por acaso, ela recebeu a alcova “Batata Neoliberal”.

No entanto, quando parecia que, finalmente, a esquerda sabia a quais interesses Tabata atende, eis que, a agora candidata à prefeita de São Paulo, grava alguns vídeos denunciando aspectos obscuros de Pablo Marçal.

Foi o suficiente para ela ser novamente saudada por parte da esquerda. O que Tabata fez em seu mandato parece não se importar mais. Os mais entusiasmados, inclusive, declararam que vão digitar “40” na urna eletrônica. Parece que a “Batata Neoliberal”, a “Menina do Lemann”, não existe mais. É a “combativa e corajosa” candidata.

Evidentemente, Tabata tem feitos essas denúncias em interesse próprio de campanha. Não está a serviço da “democracia”. Além disso, no aspecto prático, Tabata e Marçal atendem ao mesmo “deus”: o mercado. São duas faces da mesma moeda.

Conforme noticiou a Folha de São Paulo, os dois são os candidatos à prefeitura de São Paulo que receberam as maiores doações eleitorais privadas. Até os sobrenomes de ambos rimam com “neoliberal”.

Diz o senso comum que brasileiro tem memória curta. Não sei se isso é comprovado empiricamente. Mas, diante dessa constante “reciclagem” de nomes da direita, é fato que parte de nossa esquerda tem memória muito curta.

Francisco Fernandes Ladeira é Doutor em Geografia pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).  Licenciado em Geografia pela Universidade Presidente Antônio Carlos (Unipac). Especialista em Ciências Humanas: Brasil, Estado e Sociedade pela pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Mestre em Geografia pela Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ).

A opinião do/a/s autor/a/s não representa necessariamente a opinião de Desacato.info.

Assista à coluna semanal de Francisco Fernandes Ladeira no vídeo abaixo

Colabore com a campanha de financiamento coletivo do Seminário “Ditadura e Jornalismo no Cone Sul”! https://www.catarse.me/ditaduraJornalismo

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.