Por Clarissa Peixoto.
Assisti Os Oito Odiados de Quentin Tarantino. Não saí da sala com aquela sensação “pô, que filme massa”. Mas, também não saí odiando ninguém.
Então,
Gostei da mulher. A atriz está excelente no papel de Daisy Domergue, a personagem se mantém num lugar importante da trama, tem ótimas sacadas, mas toma muita porrada. Apanhou muito, a mulher e eu não sinto dúvidas ao imaginar que uma “bandida” de nossos dias apanharia igual a Daisy. Ô mundo ruim para nós, viu. O resto do pessoal só troca bala na maioria do tempo.
No quesito violência, o diretor segue se repetindo e mandando ver. Tem muito sangue e muita força bruta. Também tem muito cavalo, muita neve e muito papo mal resolvido sobre a guerra civil americana. É um faroeste mais interessado no sul.
Tem mulher na centralidade da trama, mas a condição de “igualdade”, o tempo todo, está fadada ao campo do “masculino”, ou àquilo que convencionamos chamar de “coisa de homem”. Domergue – a louca, a histérica, a dissimulada e o motivo da cizânia – não é a mestra da operação.
A única cena de violência sexual tem como objetivo submeter um homem branco a um homem negro. O que fortalece a ideia do “direito de vingança”. O ódio alimentando o ódio e a legitimação da violência no melhor estilo, “olho por olho, dente por dente”. O tempo é o pós-guerra e o espaço também. É lá que os odiados cultivam o sarcasmo na amargura e a sordidez na astúcia. Sobreviventes à margem, depois do fim do mundo.
Acho que agora que pensei sobre o filme, gostei mais dele do que na saída do cinema ontem. Talvez porque as coisas tenham feito mais sentido. O fato é que o primeiro impacto não me afetou, e isso talvez tenha acontecido porque estamos, de certa forma, programadxs para a insensibilidade diante daquelxs a quem impomos o adjetivo de “odiadxs”.
Imagem: IGN