O novo governo entrou em negociações, no âmbito do Congresso Nacional, para aprovação da PEC da Transição – Projeto de Emenda à Constituição – que buscará assegurar benefícios sociais de 600 reais aos mais pobres, através do Bolsa Família. Houve, neste ambiente, o ranger de dentes dos bolsonaristas e do próprio presidente da Câmara dos Deputados, Artur Lira, que transformou a discussão em torno da PEC da Transição num genuíno balcão de negócios.
Ele exigiu, dentre muitas coisas, ser reeleito presidente daquela Casa Parlamentar, a manutenção do esquema de corrupção, através do orçamento secreto, o qual liberava quase 20 bilhões de reais para os deputados gastarem ao bel-prazer e, o nojento, ainda exigiu ministérios para o grupo dele – PP, PTB, União Brasil, Republicanos, Novo, entre outros partidos de direita.
O Orçamento Secreto foi declarado inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal, o que diminuiu a saga do Lira, por outro lado, esse fato o deixou nervoso nas tratativas de votação e aprovação da PEC da Transição, tanto que reduziram o seu alcance temporal, ao invés de dois, a sua validade será de apenas um ano. Apesar dos descontentamentos de primeira hora, o presidente da Câmara manteve-se na ponta do tabuleiro do poder e vai incomodar muitíssimo o novo governo e retirar dele ganhos e dividendos.
E não precisou de muito tempo para que as manobras ocorressem. Ontem mesmo, enquanto ludibriavam a população com a repercussão em torno da PEC da Transição, aprovaram, na surdina, o aumento dos salários das elites dos servidores públicos federais, que, diga-se de passagem, já ganham exageradamente bem – juízes, desembargadores, ministros, procuradores, deputados, senadores e até o presidente da República. O aumento chegará a 36 por cento em três anos e os salários, de boa parte dos ” sortudos” girará em torno de 46 mil reais. Por outro lado, o salário mínimo passou, pasmem, de 1.212,00 para 1.298,00, aumento real de três por cento.
Durante a distração de fim de legislaturas e de governos, os gestores não tiveram vergonha e nem pudor em atacar, sordidamente, o patrimônio público, através de privatizações. No Rio Grande do Sul, depois de terem vendido a Companhia Estadual de Energia Elétrica, CEEE, entregaram, para a iniciativa privada ganhar dinheiro, um dos bens mais preciosos da vida, a ÁGUA. O governo privatizou a Companhia Riograndense de Saneamento – Corsan, um bem estatal que assegura água potável para as pessoas, mas que, a partir de agora – se o processo privatista não for revertido na justiça – todas e todos ficarão submetidos à lógica do mercado quanto ao consumo da água.
Os caras de pau, enquanto nos distraiam com as migalhas lançados das suas mesas já fartas, serviram-se das melhores comidas, bebidas e encheram suas contas bancárias do generoso dinheiro público. E agora, nos próximos dias, quando, a maioria deles, entrará em recesso até fevereiro, nos dirão, FELIZ ANO NOVO povo bom.
Porto Alegre, 21 de dezembro de 2022.
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