Ampliação da percepção humana diante da realidade política atual, através de olhares femininos

Por Jaine Fidler Rodrigues, para Desacato.Info. 

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egundo dados da PNAD Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua) 2019, o número de mulheres no Brasil é superior ao de homens. A população brasileira é composta por 51,8% de mulheres, e 48,2% de homens. No entanto, simultaneamente, são as mulheres as mais agredidas. A quantidade de homens é menor, mas o desejo de dominação e de ser superior à mulheres é maior. Ciclos continuam se repetindo e no domingo, 30 de outubro, é o momento de escolher entre os dois candidatos, quem caminha mais disposto a conter o machismo, a violência, o patriarcalismo.

Em 2021, em média, uma mulher foi vítima de feminicídio a cada 7 horas. No mesmo ano, foram registrados 56.098 boletins de ocorrência de estupros, incluindo vulneráveis, apenas do gênero feminino. Isso significa que, no ano passado, uma menina ou mulher foi vítima de estupro a cada 10 minutos, considerando apenas os casos que chegaram até as autoridades policiais. Sendo que, a taxa média de estupros e estupros de vulneráveis foi de 51,8 para cada 100 mil habitantes do sexo feminino no país. Em 12 estados a taxa ficou acima da média nacional em 2021, sendo eles: Piauí (56,7), Rio Grande do Sul (59,5), Pará (68,6), Goiás (71,8), Paraná (85,4), Santa Catarina (90,0), Tocantins (90,5) e Mato
Grosso (97,4). Os Estados de Rondônia (102,3), Amapá (107,7), Mato Grosso do Sul (129,7) e Roraima (154,6) apresentaram taxas superiores a 100 estupros para cada 100 mil mulheres.

Estes são dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Os índices refletem as crenças machistas impregnadas em homens e mulheres de nossa sociedade. Principalmente, em homens. São ciclos que se repetem enquanto passam minutos, horas, dias, meses, anos. Nos últimos quatro anos de governo, as narrativas de Jair Bolsonaro somente deixaram mais explícita a existência destas raízes ainda não arrancadas. O desequilíbrio do feminino e masculino gera como consequência este caos social, político e cultural.

O que podemos fazer quanto a isto? Qual a responsabilidade humana para transformar está realidade? Em primeiro lugar, entende-se que mulheres devem se valorizar e honrar a força feminina que vibra dentro de seu corpo, seu templo. Neste contexto, é necessário aprender, ouvir e discernir sobre o que as mulheres observam e transmitem.

Pensando nestes aspectos citados acima, nesta quarta-feira (27), o JTT-Manhã Com Dignidade recebeu a antropóloga, Beatriz Chagas, a professora na educação pública, Janaína Cora, Soraia Tonon da Luz e a diretora da escola indígena Fenn’ó, Vanisse Kaigang. O objetivo desta edição do nosso jornal foi ouvir e junto destas mulheres aprofundar nossos entendimentos quanto a realidade política atual. 

“Você vê nas pessoas uma venda nos olhos”
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Vanisse Kaigang, diretora indígena na escola Fenn’ó, em Chapecó, observa a incapacidade humana de ver a realidade como ela é. “Você vê nas pessoas, uma venda nos olhos. É muito difícil entender como as pessoas estão se colocando. É como se certas coisas fossem invisíveis. Na observação a gente percebe muito isto”, afirma.

Segundo Nity, hoje e principalmente diante de tantos ataques do governo Bolsonaro, a população indígena luta pelo fortalecimento da cultura e existência indígena. Além disto, salienta que a luta é por toda sociedade: “é uma questão de ser humano hoje, é você entender o que o outro sente”.

Ao observar o nível de violência contra mulheres e todos os ataques, Nity se questiona sobre a escolha de mulheres, mesmo diante da realidade, escolher por votar em Bolsonaro. Para ela, enquanto comunidade, o diálogo é uma ferramente de compreensão dos aspectos que envolvem a realidade de mulheres.

“É preciso ter o olhar muito crítico para compreender quem a gente quer que nos represente”

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A cientista social e antropóloga, Beatriz Fernanda das Chagas Regis, reflete sobre a naturalização das violências e como esta naturalização acaba sendo associada a representação de Bolsonaro. Para ela, “isto precisa ser apontado. A gente precisa compreender o problema das violências”. 

Tendo em vista que a partir de ideias racistas,  foi alimentado um projeto nacional de embranquecimento da nação, Beatriz reflete sobre a forte presença de preconceito e racismo no país e especificamente na região de Chapecó.“O que a gente percebe é que muitos destes valores seguem se perpetuando na temporaneidade”. No entanto, a antropóloga também lembra que o preconceito, a extorsão de terras, a corrupção, não iniciaram agora, iniciou ainda em 1500. 

“É preciso ter o olhar muito crítico para compreender quem a gente quer que nos represente. O Bolsonaro quer negar a existência das diversidades que compõe o povo brasileiro. Nós brasileiros somos um povo multi-étnico. Nós temos matrizes negras, brancas, indígenas compondo nossa sociedade e ainda temos outras intersecções, como a homossexualidade, que Bolsonaro ataca firmemente”, salienta.

Para ela, diante de tanta irresponsabilidade, é preciso ter clareza da necessidade de unir forças para combater as violências, opressões e ataques. Quando se trata de ataque à educação, Beatriz, que atua como professora de sociologia, afirma: “atacar a educação é atacar às mulheres, porque as professoras no Brasil são a maioria”. Ela entende que o processo de emancipação feminina acontece a partir da educação. 

Há muita superficialidade, hipocrisia e desrespeito quanto se trata de corpos femininos, do tabu do aborto a pedofilia, Beatriz ressalta: “Nós mulheres sabemos a quantidade de assédios que já passamos na rua, não importava a roupa, o horário, não interessa nada disto, com as falas de Bolsonaro temos um reforço desta cultura”.

Sente interesse em assistir ao diálogo completo? Acesse:

 

 

 

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