Obrigado, trabalhadores e trabalhadoras da Comcap. Por Raul Fitipaldi.

Por Raul Fitipaldi, para Desacato.info.

No 19 de janeiro, quinta-feira passada, conforme anunciado, passou a Coletiva Seletiva de Verdes da Comcap por minha rua, portanto, por minha casa. O fato de aparência corriqueira, me emocionou muito e preciso contar aqui.

Quando chegou o caminhão da coleta seletiva estava tudo organizado tal qual é solicitado, do lado do portão, na minha calçada. Ao saber que estavam à porta fui até lá para agradecer aos trabalhadores que estavam levando troncos, galhos e folhas. Ao agradecer recebi, de resposta, um agradecimento deles por ter colocado as coisas de forma a facilitar seu trabalho. Falaram com um sorriso. Ao ver e ouvir aquilo virei as costas rumando para dentro da casa. Assim que dei uns passos, de costas ao portão, se me encheram os olhos de lágrimas.

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Demoraria três ou quatro meses para reunir o dinheiro necessário para alugar uma caçamba, algo acima de 300 reais cada uma. Por causa da poda (com a ajuda econômica dos e das minhas companheiras de trabalho) de uma árvore exótica gigante, com mais de 20 metros de altura e um peso extraordinário, que estava destruindo a casa e colocava em risco a vida de pessoas e animais, eu precisaria de muitas caçambas e tudo precisaria ser feito às pressas. Logo eu, com minhas minguadas forças físicas e materiais precisaria de pagar alguém para ajudar. E de fato não tenho pressa, o principal era tirar o risco que me cercava. Se cumprido o calendário proposto para a coleta seletiva aqui no bairro, eu posso resolver isso ao longo do ano, em calma e sem que interfira na minha miúda renda mensal. Tiraram uma angústia enorme das minhas costas.

Por isso agradeço muito aos trabalhadores e trabalhadoras da Comcap, aos dos Correios, aos da Saúde. Por tornar, heroicamente, nossa vida mais justa e possível. Por limpar nossas merdas, trazer-nos livros e cartas, curar nossos corpos e nossas dores.

O falido modelo privatista e neoliberal, ainda em vigor, tem destruído de forma brutal as relações humanas, tem excluído milhões de pessoas no mundo e no Brasil. O capitalismo em estado de barbárie mata gente inocente todos os dias, destrói natureza e clima, e acaba com a fauna. É inimigo da vida. Desemprega, desorganiza a sociedade, a transforma em pária permanente dentro e fora do seu país. Nos coloca constantemente em estado permanente de indefensão. Torna a vida cada dia mais injusta e antidemocrática. O capitalismo é essencialmente fascista e desmembrador.

Esse capitalismo neoliberal chega a pontos tão sombrios e impudicos que, casos como o das Lojas Americanas, acabam vindo à tona apesar das despesas em publicidade para limpar imagens pessoais e empresariais. Roubam ao estado, e lançam mão dele como se nada devessem, ou seja, tiram ainda mais do que a todas e todos nós pertence, com a calma de quem sempre roubou e sabe o caminho das pedras para se manter bilionário às custas da miséria do restante da população.

Acontece que temos dificuldade de entender e a mídia tradicional não nos deixa perceber. Nos sacrifica o tempo todo no altar das privatizações e do lucro. Precisamos lembrar sempre que o público é nosso, o devemos defender e proteger. Muito da nossa vida contemporânea passa por reconhecer aquilo que nos pertence por direito e que o neoliberalismo bárbaro nos sucateia e suga. Por isso me saltaram as lágrimas quando percebi, novamente, que o estado, mesmo que imperfeito, pode nos ajudar a viver mais dignamente. É pelas mãos da classe trabalhadora que recuperamos a dignidade que a perversão privatista nos desvia. É por essas mãos que devemos lutar.

Edição e publicação: Tali Feld Gleiser

Raul Fitipaldi é jornalista e cofundador do Portal Desacato e da Cooperativa Comunicacional Sul.

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