RBA.- Com a morte de Carlos Saura, nesta sexta-feira (10), aos 91 anos (completados em 4 de janeiro), se vai o “último clássico do cinema espanhol”, conforme definição do jornalista especializado Gregório Belinchón, no jornal El País. Autor de longas como Ana e os Lobos, Mamãe faz 100 anos, Cria Cuervos, Carmen e Bodas de Sangue, Saura morreu em casa, na região de Madrid, de insuficiência respiratória. A saúde já havia sofrido abalos no ano passado, com um derrame seguido de queda enquanto passeava com os cachorros.
A música sempre esteve presente na obra do cineasta, que começou sua vida artística como fotógrafo oficial de um festival de Granada (música e dança). Expôs e participou de mostras coletivas, ao lado do primogênito, Antonio, um dos principais pintores espanhóis.
Carlos era o terceiro de quatro filhos. Chegou a estudar Engenharia Industrial, mas logo abandonou o curso para se dedicar ao cinema. No Instituto de Pesquisas e Experiências Cinematográficas de Madrid (IIEC, na sigla em espanhol), obteve o diploma de direção. Em 1957, durante encontro em Montpellier (França), descobriu a obra de Luis Buñuel. Deixou marcas, como declarou depois: “Humor indireto, amargo, amor por seres repudiados pela sociedade, luta contra a hipocrisia e a mentira”.
Amanhã (11), Saura iria receber o prêmio Goya de Honra, da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas da Espanha. “Por sua extensa e personalíssima contribuição criativa à história do cinema espanhol desde o final dos anos 1950 até hoje”, afirmou o presidente da instituição, Fernando Méndez-Leite, ao justificar a premiação. O cineasta dirigiu aproximadamente 50 filmes.
Seu último filme foi o documentário Las paredes hablan (As paredes falam), de 2022, exibido na 46ª Mostra Internacional de Cinema, em São Paulo, e no tradicional Festival de San Sebastián. Saura teve três indicações ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro: Mamãe faz 100 anos, Tango e Carmen.
A Guerra Civil Espanhola também marcou a obra do cineasta, que lembrava das atrocidades do conflito quando ele era criança. Expôs memórias de forma metafórico em algumas películas. Em 2021, com o curta Rosa, rosae, disse ter “exorcizado” aquelas lembranças. Mas também manifestava receio de que a história se repetisse. “Pelos conflitos que há entre os partidos, pela violência que se expressa oralmente… Me dá medo. Não aprendemos nada (…).”
Saura afirmou que a “imaginação” era o seu principal talento. Usei a imaginação para contar histórias de que gosto e penso que outros vão gostar. Não gostam como eu, mas que se vai fazer, nem sempre acertas.” Também assistia muitos filmes: “Assim aprendo o que não quero fazer”.
Alguns dos filmes de Carlos Saura:
- A Caça (1966)
- Ana e os Lobos (1972)
- Cria Cuervos (1975)
- Mamãe faz 100 anos (1979)
- Bodas de Sangue (1981)
- Carmen (1983)
- Amor bruxo (1986)
- Ay, Carmela! (1990)
- Sevillanas (1992)
- Flamenco (1995)
- Tango (1998)
- Fados (2007)
- Rosa, Rosae (2021)
- As paredes falam (2022)