O truque de apresentar as reformas como ‘modernizantes’

Por Luis Eduardo Fontenelle.

Para tentar convencer a opinião pública, o governo e a mídia insistem que as reformas, como a trabalhista e a previdenciária, são “modernizantes”.

Esse é justamente o grande truque. Associar o que é moderno ao bom. O que é antigo, ao ruim.

“Moderno”, no dicionário online, significa apenas o “que pertence ao tempo presente ou a uma época relativamente recente; hodierno, atual”.

Trata-se, portanto, de um conceito associado apenas ao tempo.

Pensemos, por exemplo, na música, uma arte atemporal. Tenho certeza de que até um sujeito acostumado a curtir um moderno “funk proibidão” é capaz de concordar, mesmo desinteressado de ouvir, que um clássico de Chopin ou Beethoven tem mais beleza e qualidade artística, fala mais ao espírito.

Confesso que, recentemente, li a revista Veja. Confesso também que li um artigo de um ex-ministro chamado Mailson da Nóbrega. Dele, conta-se que foi muito bem sucedido.

Controlou a inflação em apenas 84% ao mês e, já como consultor, foi mais feliz ainda, conseguindo falir nada menos que dois bancos de uma só vez na maxidesvalorização do real, em 1999.

Mailson também tenta associar o ruim ao antigo, e o bom ao novo. Diz ele que os Juízes do Trabalho estão “presos ao século XV”. Eu, sendo um, me senti lisonjeado.

O século XV é o século do Renascimento, de Leonardo da Vinci, do início da era das grandes descobertas, de grandes pensadores e da formação das bases ideológicas da Reforma que revolucionou o Cristianismo. Da Idade… Moderna!

A partir do dia 11, teremos uma CLT adaptada ao século XXI. O século da intolerância, da superficialidade, do individualismo exacerbado, das sociedades rachadas pelo predomínio absoluto do financismo.

E que substituirá uma legislação “velha” de 74 anos, que atravessou e ajudou a propiciar três grandes ciclos de desenvolvimento do País – nos anos 1950, o chamado “milagre econômico” da primeira metade dos 1970 e o mais recente, dos anos 2000. Uma legislação do velho século XX. O século dos direitos humanos e do Estado de bem-estar social.

Sim, será uma CLT “moderna”. Mas…boa? Vou ali em 1490 e já volto com a resposta.

Fonte: Diário do Centro do Mundo

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here


This site uses Akismet to reduce spam. Learn how your comment data is processed.