O sionismo assassino e os socialistas humanistas

Socialistas humanistas
Por Jair de Souza, para Desacato.info.

A leitura do artigo “Antissionismo é igual a antissemitismo?” (http://altamiroborges.blogspot.com.br/2014/08/antissionismo-e-igual-antissemitismo.html), de Max Altman, me levou a refletir sobre o assunto e me motivou a escrever algumas linhas a respeito.É muito bom constatar que uma pessoa de ascendência judaica como Max Altman sabe reconhecer que Israel não pode nunca ser aceito como um Estado Judeu numa terra alheia. Com este posicionamento, Max Altman deixa claro o que eu também venho tratando de esclarecer há muitos anos: judaísmo não é equivalente a sionismo. Eu entendo o fato de que ainda exista muita gente que faz esta identificação. A culpa não é deles, uma vez que toda a máquina mundial de desinformação sionista martela esta falsidade diuturnamente, sem parar. Então, não é de se estranhar que haja tantas pessoas condenando os judeus pelos crimes dos assassinos sionistas de Israel. Para o sionismo, esta identificação é vital, pois lhe permite acusar de antissemitas a seus críticos. Sem o amparo do antissemitismo, seu estado racista e assassino ruirá em pouco tempo.

No entanto, gostaria de dizer que o próprio surgimento de Israel na Palestina foi um crime cometido contra toda a população que habitava milenarmente aquela região. Deste crime hediondo não podem ser exculpados nem mesmo aqueles que se diziam, ou se consideravam, de esquerda socialista. Ninguém imbuído de um sentimento verdadeiramente socialista (um socialismo proletário, humanista e solidário) poderia justificar a construção de um Estado socialista em terras roubadas de um povo humilde e trabalhador, o qual foi expulso e totalmente despojado dos “benefícios” que a nossa situação acarretaria. Os judeus socialistas e os socialistas não judeus que acataram aquela infame decisão tomada pela ONU em 1948 devem ser considerados cúmplices deste crime, ainda que, em muitos casos, involuntários.

Por maior que tenha sido o significado positivo e esperançoso que a URSS representou para todos os que cultivávamos (e ainda cultivamos) o sonho socialista, a decisão do governo de Stalin de apoiar a criação de Israel naquele território e naquelas condições deve ser vista como outra das atrocidades que o stalinismo praticou contra humildes povos camponeses. São conhecidas por sua crueldade e injustiça as várias remoções em massa de camponeses em terras que compunham o território da ex-URSS. Nada disto pode ser justificado, muito menos em nome da construção do socialismo, ou seja, de um sistema social que deveria prezar pela igualdade, justiça e solidariedade entre todos os trabalhadores.

Não tenho clareza de quais eram as reais motivações por trás do posicionamento favorável à criação do Estado de Israel em terras palestinas por parte de Stalin, de seu governo e dos governos dos países que estavam sob sua esfera de influência naquela época (caso, entre outros, da Tchecoslováquia). Suponho que tenha algo a ver com a visão eurocêntrica de que a remoção de uma população camponesa não adaptada ao modo de produção capitalista e sua substituição por outra de caráter proletário, mais “consciente”, representaria um avanço social no rumo da expansão do socialismo pelo planeta. Se algo disto esteve presente, foi a reiteração de uma grande besteira do pensamento eurocêntrico, assim como as remoções forçadas no interior da ex-URSS também o foram. Em lugar de estimular o crescimento da consciência socialista, estas medidas serviram para revigorar justamente sentimentos opostos a ela. O tempo se encarregou de deixar patente o que de fato representaram estas medidas: a criação dos germes que levariam ao fracasso do socialismo na própria URSS, com o crescimento dos sentimentos antissocialistas por parte de todos os povos vitimizados, assim como a deturpação da consciência socialista daqueles que foram instalados nos territórios usurpados. Tudo isto  pode hoje ser constatado na prática nas regiões da ex-URSS onde as remoções forçadas ocorreram, assim como no caso da usurpação das terras do povo palestino.

Os kibbutzim que deveriam simbolizar as bases da nova sociedade socialista de Israel foram edificados em terras roubadas dos camponeses palestinos. Uma orientação racista das mais sórdidas permeava entre seus integrantes, os quais não admitiam de modo algum a presença de palestinos em suas instalações. A própria central operária dos sionistas (Histadrut) tinha como um de seus principais objetivos impedir  que a mão de obra da população autóctona fosse empregada, em outras palavras, visava criar condições que impedissem que o povo palestino sobrevivesse nas terras onde seus descendentes vinham vivendo há milênios. Como poderia isto representar algo de bom para o avanço do socialismo?

Em relação à justiça internacional, não há como defender em bases sólidas o roubo de suas terras e a expulsão do povo palestino para substituí-lo por imigrantes europeus que vinham sendo perseguidos ferozmente há séculos em países da Europa onde predominava o cristianismo, repito, países europeus majoritariamente cristãos. O povo palestino nunca em toda sua existência se dedicou a perseguir os judeus, nem a prática do judaísmo. Se as potências vencedoras da II Guerra Mundial tivessem tomado a decisão de criar o Estado de Israel em território da Alemanha (principal país responsável pelos massacres contra os judeus por aqueles anos), na Polônia ou na Rússia (com toda sua tradição de séculos de pogroms antijudaicos), a medida até poderia ser aceita sem grandes refutações morais: as populações dos estados  praticantes de crimes contra os judeus estariam sendo penalizadas pelos mesmos. Claro que ainda assim muita injustiça seria cometida com gente que não teria participado das perseguições. Mas, com os palestinos não há nenhuma argumentação sensata que possa prevalecer (não me refiro às imbecilidades dos que defendem que se está cumprindo as disposições de Deus, visto que não creio que se possa conceber a Deus como um ser racista, assassino e ladrão, tudo ao mesmo tempo).

Compreendo também que já não é possível regressar ao passado anterior à criação de Israel (embora esta seja fruto de um crime horrendo), assim como não podemos regressar à situação anterior à chegada dos exterminadores europeus nos territórios que vieram a fazer parte dos Estados Unidos. Mas, é sim possível defender e lutar para que a injustiça cometida contra o povo palestino seja suavizada, permitindo que um Estado Palestino soberano possa existir nos territórios pré-Guerra de 1967. Isto é o mínimo que podemos exigir. Quanto ao Estado de Israel, cabe-nos defender sua transformação em um estado de todos seus cidadãos, não um estado de base teocrática e racista como o atual. É claro que isto acabaria por acarretar o próprio fim do Estado de Israel como fora concebido pelos sionistas. O sionismo e seu estado judeu não podem sobreviver em uma terra onde haja justiça e igualdade de condições para todos seus cidadãos, direitos e deveres iguais para todos, independentemente de sua origem étnica ou religiosa.

Gostaria de recomendar alguns documentários dos historiadores israelenses Ilan Pappe e Shlomo Sand que abordam a criação do Estado de Israel e o papel da ideologia sionista, assim como uma conferência do teólogo judeu Marc H. Ellis que procura deixar claras as diferenças entre judaísmo e sionismo. Deixo os links à continuação:

Ilan Pappe: A limpeza étnica da Palestina
https://www.youtube.com/watch?v=JsePdGlglxA&list=UUBvZA4xUBwZoFUHo06S33lw

Shlomo Sand: A invenção da Terra de Israel
https://www.youtube.com/watch?v=vQb5chFPad8&list=FLBvZA4xUBwZoFUHo06S33lw

Marc H. Ellis: Judaísmo não é igual a Israel
https://www.youtube.com/watch?v=TOYwzFz441c&list=UUBvZA4xUBwZoFUHo06S33lw

Imagem: Hamdi Aburahma

2 COMENTÁRIOS

  1. Democracia é sinônimo de apartheid? Democracia é ocupar um país e deixar a população sem direitos, como é o caso da Cisjordânia? Democracia é lavar o cerebro da sua população? Democracia é usar o holocausto e deixar a maioria dos sobreviventes na pobreza? Democracia é bombardear Gaza e assassinar crianças?

  2. Pq vc nao faz comentarios agora q a guerra em Israel acabou? Agora q querm esta lancando foguetes ao bel prazer sao os palestinos de gaza? Pq nao vem ver a democracia em Israel de perto?????

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