Os tucanos finalmente decidem neste sábado quem vai disputar a presidência da República no ano que vem. Se der João Doria, terão de carregar um pré-candidato que se arrasta, apesar da vacina paulista e de ser o maior inimigo de Bolsonaro depois de Lula.
Se der Eduardo Leite, os tucanos terão pelo menos a chance de testar suas potencialidades. Depois de Sergio Moro, Leite é a maior incógnita dessa direita que anda em direção à extrema direita, pelos mais variados motivos.
O ex-juiz tem toda uma exposição de pelo menos seis anos como caçador de Lula e, depois, como empregado de Bolsonaro. Já cresceu nas pesquisas (surge com até 11%), porque apareceu bastante como o mais ilustre novo filiado ao Podemos e o nome do partido à presidência.
Eduardo Leite aparece nas pesquisas com os mesmos 4% de Doria, porque está num canto do país e ainda tem pouca exposição.
Mas há dúvidas concretas sobre a sua capacidade de se firmar como opção tucana da terceira via. O gesto mais importante de Leite até agora foi a sua decisão de sair do armário.
O que isso significa? Quase nada. Declarou publicamente que é gay e não conseguiu agregar essa exposição ao seu acervo político de jovem, neoliberal atrevido e, por isso mesmo, o preferido do mercado.
Há duas marcas que podem perseguir Leite para sempre. A primeira é o fato de que apoiou Bolsonaro em 2018, nunca se arrependeu e deu respostas evasivas sobre seu sentimento em relação ao seu bolsonarismo dissimulado.
A segunda é a tentativa desastrada, a mando do general Luiz Eduardo Ramos, de convencer Doria a retardar o início da vacinação com a CoronaVac, em janeiro deste ano.
Leite e Moro terão de se comportar como alternativas a Bolsonaro, usando as mesmas táticas e o mesmo discurso de Bolsonaro. Terão de ser candidatos da extrema direita, muito mais do que da direita, o que não exige muito esforço.
Começa agora a melhor parte da pré-campanha. Moro, Doria ou Leite e Bolsonaro vão se engalfinhar como nunca se viu entre candidatos do reacionarismo.
Esta será a primeira vez, desde a redemocratização, que nomes da extrema direita ou simpáticos a ela disputarão ferozmente o mesmo espaço, para que um deles seja o sobrevivente.
Só um deles, o que conseguir manter o eleitorado de Bolsonaro e depois conquistar eleitores do centro, entre ricos e a classe média desorientada, irá em frente para depois enfrentar Lula no segundo turno. Por isso Doria, um antibolsonarista, sai em desvantagem.
Vamos torcer para que o candidato dessa turma no segundo turno seja o ex-juiz e ex-empregado de Bolsonaro que perseguiu, condenou e encarcerou Lula.
Seria um bom espetáculo ver Moro num debate com Lula, tentando calibrar os falsetes de uma voz que o denuncia como um sujeito inseguro.
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